As mulheres reconheciam sua ignorância... Todavia sentenciaram que os frutos da terra não podiam ser objetos de exploração dos governos. E isso deve valer para todos os povos, independentemente de quem sejam os governantes.
(...)
A irmã mais nova de Vitória retirou-se de casa, onde havia provocado discussão
que resultou em troca de ofensas entre os pais... A garota parecia fugir dos
familiares, pois saiu pela janela, caminhou apressadamente pela praça e se
escondeu entre as mulheres.
(...)
A secretária instalou-se no
meio do povaréu...
Colocou-se ali para dissuadir as pessoas da rebeldia
que estava em curso. Disse que parecia que elas estavam tramando uma revolução,
algo “ultrapassado”... Ainda mais porque, quando se tratava de promover
alterações e trocas de governos, as massas não eram mais necessárias... Para
isso bastavam as forças policiais... As figuras mais proeminentes da sociedade
podiam decidir essas coisas a partir de gabinetes... O povo podia sossegar...
Todos deviam entender que absolutamente não era o caso daquela pacata cidade.
O pescador ouviu as palavras de provocação e disse que estriparia a “enguia
viciosa”... Obviamente se referia à secretária de Peste.
A mulher continuou a dizer que não deviam se levantar
contra a nova ordem estabelecida... Se algo estava insuportável, o governo
poderia “obter algumas acomodações”.
(...)
Está claro que o objetivo da secretária era esvaziar o movimento
liderado por Diogo concedendo pequenos favores.
Imediatamente uma mulher quis saber quais eram as acomodações que podiam
esperar... A representante de Peste respondeu que não sabia, mas garantiu que
todo movimento subversivo demandava sacrifícios... Por outro lado, a “boa
conciliação” é sempre mais valiosa.
Muitas mulheres decidiram se aproximar da secretária... Alguns homens
também se apartaram de Diogo...
Ele interveio dizendo que os concidadãos não deviam dar ouvidos àquele
tipo... Era certo que ela estava ali para derrotá-los.
De sua parte, a secretária
garantiu que não havia nenhuma manobra por parte do governo... Falava apenas em
nome da razão.
Mais um homem quis saber
quais eram as acomodações que ela pretendia anunciar... Ela emendou que todos
precisavam refletir... Uma das possibilidades seria a de formar um comitê que
decidiria (por maioria de votos) a respeito das irradiações que deviam ser
executadas...
Enquanto falava sobre
esse exemplo exibia temerariamente o caderno com os registros (devidamente
ordenados) dos nomes de todos os que seriam “riscados” de sua existência.
Não demorou e um dos cidadãos extraiu-lhe o caderno...
Era isso mesmo o que a
secretária pretendia. Ela nem conseguiu esconder sua falsidade enquanto advertia
(ao mesmo tempo incitava) que ali estava a extensa lista dos moradores de Cádiz,
e que bastava o riso sobre um nome para que a pessoa caísse morta no mesmo
instante.
(...)
Teve início um grande tumulto em torno do homem que
estava com o caderno do regime... Homens e mulheres estavam mesmo muito curiosos...
Alguns gritaram que estavam a salvo e que não haveria mais mortes.
Mas aconteceu que a filha do juiz arrebatou o caderno das mãos dos
populares e o carregou até um canto.
A moça folheou a brochura com rapidez... Deteve-se
numa página específica, onde fez um risco.
Na sequência todos notaram que um corpo caiu da janela da casa do juiz.
Uma mulher avançou contra a rapariga garantindo que ela devia ser “suprimida”.
(...)
Está claro que a jovem quis eliminar algum de seus parentes.
Mas quem? O pai, a mãe, o irmão bastardo ou
Vitória?
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus_71.html
Leia: Estado
de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto