sexta-feira, 16 de outubro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – segundo ato – Peste exerce plenos poderes e ordena execuções, torturas e deportações; Diogo busca refúgio na casa do juiz Casado; dramas alheios à família não eram levados em conta pelo pai de Vitória; uma discussão em torno da defesa da Lei; a “nova ordem” impôs uma legislação que pune a virtude; perseguido e escorraçado, Diogo se desespera; a mãe de Vitória sente em sua consciência o peso das traições no passado

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus-segundo_16.html antes de ler esta postagem:

O silêncio tomou conta do coro.
Peste exigia que todos se concentrassem... Deviam se manter ocupados e “executando”... Tinham de entender de uma vez por todas que “uma Peste vale mais do que dois libertados”.
E seguia ordenando deportações e torturas... Ele mesmo cuidava de garantir que “alguma coisa restaria no final”.
(...)
Na casa do juiz, Vitória insistia com o pai para que não entregasse a pobre e velha criada... A mulher estava contaminada... Mas o juiz não se sensibilizava pelo passado de serviços prestados à sua família.
De acordo com o seu modo de pensar, somente ele mesmo podia decidir sobre os destinos de todos... A entrada do mal em sua casa devia ser impedida a qualquer custo, e tudo ele faria para garantir a segurança.
(...)
O homem interrompeu as justificativas que transmitia à filha ao notar a entrada súbita de Diogo. Quis logo saber quem havia permitido a sua intromissão.
O rapaz explicou que o medo o empurrou para ali... Confessou que estava fugindo de Peste... O juiz tornou-se furioso e sentenciou que, na verdade, ele trazia a infecção para a casa... Disse isso e apontou para as axilas do jovem.
Na rua ouviam-se apitos que indicavam perseguições...
O pai de Vitória exigiu que Diogo se retirasse imediatamente. O jovem explicou que, se o capturassem, seria colocado junto aos demais infectados e condenados ao definhamento medonho.
O juiz alegou que, como ”defensor da Lei”, não podia acolhê-lo. Diogo insistiu que a “nova lei” nada tinha a ver com a antiga, a qual o juiz servira no passado. O outro redarguiu com autoridade que sua submissão era à Lei pura e simples, e não aos enunciados dela.
Diogo quis saber o que o juiz pensava sobre a “Nova Lei” ser algo criminosa... O jurista explicou que se era assim, o crime tornava-se lei...
Mas então a virtude devia ser punida?
O juiz argumentou que se ela tivesse a “arrogância de discutir a Lei”, devia, sim, ser punida.
(...)
Vitória se intrometeu ao dizer que era o medo que levava o juiz Casado a pensar e agir daquela forma... Ela defendeu Diogo que (apesar de também sentir medo) não traíra seus princípios.
Casado deu de ombros e garantiu que era uma questão de tempo, já que todo mundo tem medo e, por causa dele, trai... Ninguém é puro, sentenciou.
A moça lembrou que o pai havia consentido que os dois ficassem juntos. Sendo assim, ele não poderia separá-los de um momento para outro.
O juiz disse que não havia “dito sim” ao casamento da filha... Vitória ficou horrorizada e teve força apenas para dizer que sabia que o pai não a amava.
O velho respondeu que todas as mulheres causavam-lhe horror. E isso era uma “direta” à própria filha.
(...)
A discussão foi interrompida porque um guarda começou a bater à porta... O tipo gritava que a casa do juiz estava condenada por ter dado abrigo a um suspeito... Todos ali seriam colocados sob rigorosa observação.
Diogo pôs-se a rir... Olhou para o juiz e disse que ele não conhecia todos os detalhes da “Nova Lei”... Principalmente aquele que os colocava em “pé de igualdade”.
A esposa do juiz entrou com seus outros dois filhos (um casal)... Espantada, anunciou que a porta estava interditada. Vitória explicou que a casa fora condenada pela autoridade.
O juiz quis acalmar dizendo que a culpa era de Diogo... Bastava denunciá-lo para que tudo se resolvesse. Vitória quis perguntar se o pai se manteria em paz com a própria honra... Mas ele a interrompeu dizendo que “honra é assunto para homens”. E completou garantindo que não havia mais homens na cidade.
(...)
O barulho de apitos cresceu... Notou-se uma correria do lado de fora.
Diogo se assustou e segurou o irmão de Vitória.
Ele ameaçou o velho... Caso ele o entregasse, teria de “esmagar a boca do pequeno com a marca de Peste”. Vitória interveio e chamou-lhe a atenção... Aquilo era uma covardia! Ele respondeu que “na cidade dos covardes” nada mais era covardia.
A mãe de Vitória solicitou ao marido que prometesse ao louco o que ele quisesse... A outra filha discordou e disse que o pai não devia prometer nada, pois aquilo não lhes dizia respeito... A mulher protestou ao dizer que a garota odiava o próprio irmão.
O juiz concordou com a filha... E isso fez com que a mulher emendasse que também ele nutria rancor em relação ao garoto. O homem não se deu por rogado e disparou que a criança era filho apenas da esposa.
(...)
Aquela discussão deixou Vitória perplexa.
A mãe lamentou o fato de também ela demonstrar-lhe desprezo.
O juiz deu alguns passos até a porta.
Diogo provocou o juiz que se dizia “sustentado na lei”... Fez um gesto ameaçador na direção do garoto.
A mulher suplicou... Pediu que ele não se comportasse como o juiz... Colocou-se diante da porta e garantiu que o velho cederia.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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