Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore.html antes
de ler esta postagem:
As
cartas do D. Afonso, rei cristão do Congo, ao monarca português foram
compiladas por Antonio Luís Ferronha e reproduzidas em “As cartas do ‘rei’ do
Congo D. Afonso”. Os fragmentos incluídos nessas postagens foram selecionados
por José Ramos Tinhorão para o seu “Rei do Congo - A mentira histórica que
virou folclore”.
Os documentos nos dão conta dos atos violentos e de
usurpação cometidos por Fernão de Melo, donatário e governador da ilha de São
Tomé. Muitas vezes o próprio fidalgo tratou de dar cabo às suas criminosas
investidas contra o rei cristão do Congo e sua gente, mas houve casos em que ele
foi cúmplice de outros estelionatários, como o Estevão da Rocha citado na
postagem anterior.
(...)
O golpe protagonizado por
Estevão da Rocha deu tão certo que Fernão de Melo arquitetou outro semelhante.
Dessa feita enviou ao Congo embarcação em que eram transportados D. Gonçalo e
D. Manuel (respectivamente sobrinho e criado de D. Afonso). O navio foi
capitaneado por Estevão Jusarte, que o donatário tratou de anunciar como
sobrinho de D. Manuel, rei de Portugal.
De sua parte, Jusarte tomou a iniciativa de garantir
que o governador de São Tomé era primo legítimo de seu tio monarca em
Portugal... Então, não sem motivos, D. Afonso encantou-se com a “ilustre visita”
e esforçou-se por demonstrar toda a sua generosidade:
“(...) e nós
vendo isto folgamos muito com ele porque cuidávamos que era assim como ele
dizia e fazemos (fizemos) muitas mercês e o despachamos logo e mandamos ao dito
Fernão de Melo mil manilhas e cento (ita) escravos, e de nós ao dito Estevão
Jusarte vinte escravos e trezentas manilhas por que nos dizia que era sobrinho
de Sua Alteza, e assim lhe demos panos e certas peles de onça e vinte potes de
mel e quatro gatos de algálea para Fernão Melo, porque ele nos dizia que se
mandássemos a Sua Alteza manilhas ou escravos Sua alteza que haveria memória”.
Convicto de que Jusarte era mesmo sobrinho do monarca
português, e que só podia se tratar de um tipo honesto, D. Afonso resolveu
aproveitar o seu retorno ao “reino aliado” para enviar a D. Manuel, pelo
intermédio de certo João Fernandes, cartas, manilhas e “vinte escravos para em
Portugal nos comprar algum vestido por não andarmos vestido como selvagem”.
O texto de Tinhorão esclarece que tão logo a
embarcação chegou a São Tomé, Fernão de Melo praticou mais uma de suas maldades
contra o rei do Congo e sua gente. Outro trecho da carta de 5 de outubro de
1514 registra que o referido fidalgo português:
“lhe tomou a
metade das manilhas e noventa escravos, e nos ficaram onze e das manilhas
mandou as dar por escravos, e mandou que dessem trinta manilhas por cada
escravo, e com tudo e ainda assim João Fernandes tomou aquelas poucas peças e
as levou a Portugal, e nos comprou o que lhe mandamos e nos trazia uma arca
cheia de seda preta e veludos, a qual arca o dito Fernão de Melo tomou e abriu
e prendeu o dito João Fernandes e o mandou a caminho de Portugal e nos mandou a
arca vazia”.
(...)
Postagens anteriores
mostram-nos que as armações de Fernão de Melo começaram desde que ele
barrou em 1508 a embarcação carregada de preciosidades que seguia para Portugal com os religiosos (padres Rodrigues Eanes e Antonio Fernandes), que haviam servido no Congo, e mais o filho e o sobrinho de D. Afonso (ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/08/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_12.html).
barrou em 1508 a embarcação carregada de preciosidades que seguia para Portugal com os religiosos (padres Rodrigues Eanes e Antonio Fernandes), que haviam servido no Congo, e mais o filho e o sobrinho de D. Afonso (ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/08/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_12.html).
Devemos ressaltar que Fernão
de Melo controlava uma feitoria em São Salvador, que era a capital do Congo.
Não há dúvida de que também a partir dela seus atos corruptos se viabilizavam
mais facilmente.
Como vimos (em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/11/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_6.html),
D. Manuel havia imposto o “regimento real de 1512 “ por ocasião mesmo da
investidura de D. Afonso no Congo... Naturalmente o rei português esperava que
a legislação inspirada no modelo de monarquia dos europeus estivesse
proporcionando uma organização ideal para o protetorado. Mas em vez de notícias
boas e positivas, da África só chegavam as denúncias de péssima conduta do
governador de São Tomé.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_26.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto