domingo, 24 de janeiro de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – retomando o filme inspirado na peça; ocupação do armazém 3; diante de um espelho a canção de Bill Lawegen e Mary Syer; um casal marginal apaixonado ao luar; “o amor dura para sempre, ou não dura, não importa onde estejamos”; reprovando o serviço dos capangas; um reverendo assustado celebra o enlace


Os capangas de Mac Navalha fizeram o serviço como podiam e de acordo com suas limitações... Sempre atrapalhados, quase foram capturados. Além daquele que foi levado ao chefe de polícia J.M. Brown, outro foi perseguido pelos policiais que dispararam vários tiros em meio à escuridão das ruas. Por fim, os dois que ficaram de tomar o armazém número três chegaram ao local que se encontrava praticamente abandonado aos ratos. Eles abriram a porta e aos poucos os móveis e ornamentos roubados foram organizados pelo ambiente. Com esmero ajeitavam as muitas garrafas... Podemos notar que muitos outros capangas participaram da missão, pois vários aparecem na cena.
Diante de um espelho dois capangas se colocaram e interpretaram um casal, Bill Lawegen e Mary Syer, por ocasião de seu recente casamento. Fizeram isso cantando sobre a situação em muito semelhante à de Polly e Mac. O que interpreta Mary Syer ostenta um arranjo de flores, já o Bill Lawegen que vemos no espelho pôs-se a pensar (e a cantarolar) onde sua noiva havia comprado o vestido que usava... Por sua vez, ela sequer sabia qual era exatamente o nome dele.
(...)
Há um corte para a cena em que Mac e Polly estavam fora do armazém e a contemplar a noite e a lua sobre o Soho. A parte externa, como não poderia deixar de ser, estava cheia de caixotes e outras tralhas próprias de embarcações.
Apaixonada, Polly pergunta ao querido noivo se ele podia sentir o bater de seu coração. O Navalha afirma que sim e, cantando, garante que para onde ela for, ele irá e estará com ela (em todo lugar). Sua cantiga afirma que a falta de um cartório ou de altar religioso com seus ornamentos, e mesmo o fato de ela não saber de onde vinha o vestido que usava, não os impediriam de buscar a felicidade. Era só a questão de ela “pegar o prato em que come o pão e, sem encará-lo por muito tempo, atirá-lo longe”. Por fim a cantiga do Navalha à noiva sentencia:
                   “O amor dura para sempre, ou não dura, não importa onde estejamos”.
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Mac abraçou Polly e a conduziu para o interior do armazém. Seus homens haviam terminado a arrumação...
Atrás de um amontoado objetos e cachos de bananas verdes, vemos uma grande tela e junto dela o reverendo que havia sido trazido para realizar o enlace matrimonial. Obviamente o religioso observa a tudo com ares de espanto. Ele aproveita que os capangas do Navalha terminavam de ajeitar seus fraques e cartolas e tenta escapar, mas é impedido por um deles. Outro anuncia a hora: duas e dez da madrugada.
Os tipos se apoderaram de uma garrafa de espumante enquanto o noivo avaliava o serviço que executaram. Devidamente trajada para a cerimônia, Polly se juntou a ele. O espoco da espumante foi de assustar e logo os comparsas gritaram vivas ao chefe e à noiva ao mesmo tempo em que traziam o contrariado reverendo à frente do casal.
No momento em que todos bebericavam, o religioso tentou escapar mais uma vez... Mac Navalha deu sua talagada e pôs-se a advertir o bando. Com severidade disse que não haviam se esforçado muito. Como podiam servir champanhe em copo de vinho? Percorreu a sala e, com ares de reprovação, apontou a bengala para a decoração dizendo que tudo ali era “lixo”... Polly fez o contraponto garantindo que estava tudo lindo. Demonstrando familiaridade, perguntou se tudo ali havia sido roubado... O Navalha respondeu que estava claro. Polly lamentou não terem a própria casa para decorá-la com todas aquelas coisas lindas.
O reverendo continuou tentando se esquivar durante a conversa... Mac Navalha apontou a bengala para um furo no espaldar almofadado de uma das cadeiras. Um dos capangas se desculpou dizendo que a Scotland Yard permaneceu ativa durante a noite toda e eles sofreram várias perseguições. O “capitão” Navalha quis saber do relógio de pêndulo... A falta do aparelho deixaria a noiva zangada!
Mas essa falação não teve maiores consequências porque Polly se dirigiu ao reverendo que já estava para escapar por uma das saídas. Ela adiantou-se a fazer um discurso de agradecimento, pois se sentia honrada por sua presença no dia mais feliz de suas vidas. Mac se aproximou do religioso e anunciou que a senhorita Peachum o amava e desejava partilhar a vida com ele.
Acanhado, o reverendo encaminhou o casal ao centro da sala, tirou um livrinho do bolso e pronunciou as “palavras adequadas” inaudíveis para os que assistem ao filme... A câmera percorreu as fisionomias dos capangas que de repente se exaltaram e se dirigiram aos noivos, felicitando-os. Polly era a mais festejada enquanto mais uma vez o reverendo aproveitava a movimentação para tentar se retirar “de fininho”.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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