Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_8.html antes
de ler esta postagem:
Os
padres e auxiliares que D. Afonso do Congo solicitou a D. Manuel de Portugal em
1508 foram transportados para a África sob a responsabilidade de Simão da
Silveira (que assumiria importante cargo no reino do Congo a partir do estabelecimento
do Regimento criado em Portugal; Silveira é também referido nos documentos como
Simão da Silva, e sobre isso há certa polêmica). A delegação fez parada em São
Tomé, onde foi barrada por Fernão de Melo e este, recorrendo a intrigas e
mentiras, deu início às trambicagens. O padre Antonio de Lourenço Farinha
registrou em sua obra “D. Afonso I, rei do Congo”:
“Depois do
desembarque em Pinda, foz do Zaire, encontrou Simão da Silva outro inimigo de
D. Afonso, um pseudo mestre-escola da capital do Congo, Rui do Rego, agente
comercial de Fernão de Melo, em vez de educador, que o informou acerca das
coisas do Congo tão falsamente como o governador de São Tomé, seu patrão. Havia
o propósito de inutilizar não apenas o rei africano, que tantas esperanças
dava, mas a obra grandiosa de D. Manuel, bem expressa no Regimento a que temos
aludido. É que, posta em execução, a feitoria de Fernão de Melo existente em
São Salvador tinha os seus dias contados”.
Lourenço de Farinha
conclui:
“tais
foram as trapaças de Rui do Rego que Simão da Silva teve a indesculpável
fraqueza de mandar o médico (físico) à capital conguesa com as cartas régias e
presentes, em vez de ir ele próprio como ordenara El-Rei, mas D. Afonso tanto
insistiu por essas cartas que resolveu (Simão da Silva) pôr-se em marcha para a
banza (povoado) do rei. Na viagem, porém, morreu de febres palustres, levando
alguns de seus companheiros a notícia da morte a D. Afonso ‘todos a
mata-cavalos (com a maior rapidez) a pedir a capitania da cidade de São Salvador”.
Os portugueses que viviam nas proximidades muito se interessaram por
cargos que se constituiriam a partir do Regimento criado por D. Manuel. Os
papéis que ficaram retidos em São Tomé não deixavam dúvidas a este respeito. Assim
que se espalhou a notícia da morte de Simão da Silveira, vários de seus
conterrâneos resolveram disputar os postos que poderiam render prestígio e
renda consideráveis.
D. Afonso do Congo registrou em sua carta ao rei português:
“vieram todos a
mata-cavalos pedir-nos a capitania (de São Salvador) e os primeiros que a nós
chegaram foi um Manuel Cão que nos disse que Sua Alteza o mandara a ele e Simão
da Silveira para ambos serem capitães e se algum deles morresse que ficasse o
outro, e que pois Deus levara Simão da Silveira que o fizéssemos capitão”.
De qualquer modo, a decisão sobre quem deveria ser investido como
capitão cabia a D. Afonso, que demonstrou certa habilidade ao não confrontar
diretamente os postulantes. Em vez disso, escolheu certo Álvaro Lopes, “um cavaleiro
da confiança de D. Manuel” que já havia sido “armado no campo de luta em Tanger
em 1508” pelo próprio rei de Portugal. Evidentemente essa decisão deixou Fernão
de Melo e seus fiéis seguidores furiosos.
(...)
Em sua carta de 1514 ao rei
de Portugal, D. Afonso do Congo relatou a ousada e cruel perseguição dos
agregados do governador de São Tomé contra Álvaro Lopes numa ocasião em que ele
marcara audiência para pedir “mantimentos para as peças que tinha na feitoria”:
“veio o corregedor por detrás e na metade de nossas
barbas (ante nossos olhos) o tomou pelos cabelos e o arrepelou e deu muitos
coices, o que muito sentimos porque aquilo não era feito a ninguém senão a nós”.
A
postura ignominiosa do referido desembargador estava de acordo com as
estratégias de Fernão de Melo... Na mesma carta de 1514, D. Afonso do Congo
denunciou que o governador de São Tomé se apropriara de “todos os cavalos que a
nós Sua Alteza mandou”. Além disso, impedia que o “livro das Ordenações”
encaminhado pelo rei português sob a responsabilidade de Simão da Silveira
chegasse às suas mãos. E como se não bastasse, o governador corrupto impossibilitava
a partida do filho do rei do Congo para Portugal, pois sabia que ele
denunciaria suas “arbitrariedades e roubalheiras” ao rei D. Manuel.
Vale destacar que na mesma carta, D. Afonso do
Congo sugeriu ao rei português que cedesse a ilha de São Tomé ao Congo como
forma de ressarcir os muitos furtos. Obviamente isso era “sonhar alto” e nem o
seu propósito de cristianizar a localidade seria levado a sério.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto