quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – Filch finaliza sua inscrição na J.J. Peachum; conhecendo os “equipamentos” do ofício de mendigar; a senhora Peachum, seu trabalho no escritório e implicância com o novato; defendendo o “capitão” pretendente da filha


Filch, que havia ido ao escritório de J.J. Peachum, se interessou pelas condições impostas para a “aquisição da licença de mendigar”... Quis saber em que consistia o equipamento que o tornaria digno de piedade dos transeuntes e ouviu que a firma é que determinava. Em relação ao “ponto”, Peachum cravou que ele ficaria na Baker Street numa área que abrangia desde o número 2 até o 104, e acrescentou que pela localização, Filch teria de pagar “apenas cinquenta por cento, incluindo o equipamento”.
O rapaz pagou e esclareceu que se chamava Charles Filch. J.J. Peachum pôde completar a ficha de inscrição. Na sequência, gritou o nome da esposa: “Dona Célia!”... Assim que ela apareceu, Peachum foi dizendo que o novo agregado fora registrado com o número 314. Disse o nome do rapaz e o local onde trabalharia.
Peachum disse à mulher que providenciasse o “equipamento C”. Depois comentou que Filch conseguia o emprego num momento excelente, já que em breve ocorrerias as “festas da coroação”.
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Na sequência, Peachum apresentou ao recém-contratado uns manequins ostentando os “cinco tipos básicos da miséria capazes de comover o coração humano”... O primeiro equipamento relacionava-se à “vítima do progresso dos meios de transporte”, um tipo aleijado, sempre alegre e despreocupado apesar do seu horrendo “toco de braço”. O segundo correspondia à “vítima da arte da guerra”, um tipo que devia encenar um “treme-treme” em meio aos transeuntes e causar certa repulsa. O terceiro foi chamado por Peachum de “vítima do progresso industrial”, um tipo cego e cambaleante (este era o “equipamento C” destinado ao rapaz)... Conforme demonstrou ao novato e nele esbarrou, este gritou aterrorizado. A respeito dessa manifestação de piedade, Peachum o censurou dizendo que, pelo visto, Filch não servia para mendigar e estava mais para transeunte...
Antes de se referir ao quarto traje, Peachum chamou a atenção de Célia, gritando que ela só podia estar se embriagando ultimamente, pois sem enxergar direito por causa da bebedeira, entregara um traje inadequado ao mendigo 136 (que fazia um “cavalheiro distinto”, trajando vestes com nódoas, mas não com imundícies)... Nessa fala ele caracterizou o quarto equipamento, além de explicar como (com aplicação de parafina a ferro quente) se faz um bom traje manchado que inspira a piedade.
Peachum interrompeu sua explanação e pediu ao Filch que tirasse suas vestes para colocar um dos trajes. O rapaz quis saber o que aconteceria com as próprias roupas e o “rei dos mendigos” lhe disse que a partir daquele momento elas seriam “da firma”... E pelo visto os trajes de Filch se tornavam o “quinto equipamento” que podia ser interpretado como “vestes de jovem que conheceu dias melhores, isto é, cujo berço não lhe prometia tantas desgraças”.
Filch quis entender por que ele mesmo não podia fazer o tal “jovem que conheceu dias melhores”... Peachum respondeu que ninguém acredita sinceramente nas verdadeiras misérias que os mendigos carregam... No caso, o rapaz só causaria aversão... Depois lembrou-lhe que ali no escritório ele não tinha nada que ficar perguntando.
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Célia Peachum estava ficando irritada e esbravejou com o novato dizendo que ele precisava se arrumar mais rápido, pois não ficaria segurando suas calças o tempo todo. Filch mostrou-se indignado e garantiu que não entregaria as botas, que eram o único presente que sua mãe lhe dera. Preferia desistir do “trabalho” para a J.J. Peachum. Célia reclamou que ele devia parar com aquelas bobagens porque sabia perfeitamente que ele estava era com os pés sujos... Filch confirmou e se justificou dizendo que o inverno estava muito rigoroso.
A mulher o levou para trás de um biombo e seguiu para uma mesa de passar, onde se pôs a preparar um traje qualquer. A certa distância J.J. perguntou-lhe sobre Polly... Onde estava a moça? Célia respondeu que “lá em cima”... Peachum perguntou se “aquele sujeito” a visitara no dia anterior como vinha fazendo com certa regularidade.
Célia Peachum argumentou que o marido não devia ser tão desconfiado, já que o “cavalheiro” era muito fino. Emendou que não havia homem mais fino do que o “Capitão” e que ele apreciava muito a jovem Polly.
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Assim é no texto da peça. E este cavalheiro, “Capitão”, muito fino e apreciado pela Dona Célia Peachum, é o Mac Navalha...
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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