Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_13.html antes
de ler esta postagem:
Filch,
que havia ido ao escritório de J.J. Peachum, se interessou pelas condições
impostas para a “aquisição da licença de mendigar”... Quis saber em que
consistia o equipamento que o tornaria digno de piedade dos transeuntes e ouviu
que a firma é que determinava. Em relação ao “ponto”, Peachum cravou que ele
ficaria na Baker Street numa área que abrangia desde o número 2 até o 104, e
acrescentou que pela localização, Filch teria de pagar “apenas cinquenta por
cento, incluindo o equipamento”.
O rapaz pagou e esclareceu que se chamava Charles Filch. J.J. Peachum
pôde completar a ficha de inscrição. Na sequência, gritou o nome da esposa:
“Dona Célia!”... Assim que ela apareceu, Peachum foi dizendo que o novo
agregado fora registrado com o número 314. Disse o nome do rapaz e o local onde
trabalharia.
Peachum disse à mulher que
providenciasse o “equipamento C”. Depois comentou que Filch conseguia o emprego
num momento excelente, já que em breve ocorrerias as “festas da coroação”.
(...)
Na sequência, Peachum
apresentou ao recém-contratado uns manequins ostentando os “cinco tipos básicos
da miséria capazes de comover o coração humano”... O primeiro equipamento
relacionava-se à “vítima do progresso dos meios de transporte”, um tipo
aleijado, sempre alegre e despreocupado apesar do seu horrendo “toco de braço”.
O segundo correspondia à “vítima da arte da guerra”, um tipo que devia encenar
um “treme-treme” em meio aos transeuntes e causar certa repulsa. O terceiro foi
chamado por Peachum de “vítima do progresso industrial”, um tipo cego e
cambaleante (este era o “equipamento C” destinado ao rapaz)... Conforme
demonstrou ao novato e nele esbarrou, este gritou aterrorizado. A respeito
dessa manifestação de piedade, Peachum o censurou dizendo que, pelo visto,
Filch não servia para mendigar e estava mais para transeunte...
Antes de se referir ao
quarto traje, Peachum chamou a atenção de Célia, gritando que ela só podia
estar se embriagando ultimamente, pois sem enxergar direito por causa da
bebedeira, entregara um traje inadequado ao mendigo 136 (que fazia um
“cavalheiro distinto”, trajando vestes com nódoas, mas não com imundícies)... Nessa
fala ele caracterizou o quarto equipamento, além de explicar como (com
aplicação de parafina a ferro quente) se faz um bom traje manchado que inspira
a piedade.
Peachum interrompeu sua explanação e pediu ao Filch
que tirasse suas vestes para colocar um dos trajes. O rapaz quis saber o que
aconteceria com as próprias roupas e o “rei dos mendigos” lhe disse que a
partir daquele momento elas seriam “da firma”... E pelo visto os trajes de
Filch se tornavam o “quinto equipamento” que podia ser interpretado como “vestes
de jovem que conheceu dias melhores, isto é, cujo berço não lhe prometia tantas
desgraças”.
Filch quis entender por que ele mesmo não podia fazer o tal “jovem que
conheceu dias melhores”... Peachum respondeu que ninguém acredita sinceramente
nas verdadeiras misérias que os mendigos carregam... No caso, o rapaz só
causaria aversão... Depois lembrou-lhe que ali no escritório ele não tinha nada
que ficar perguntando.
(...)
Célia Peachum estava ficando irritada e esbravejou com
o novato dizendo que ele precisava se arrumar mais rápido, pois não ficaria
segurando suas calças o tempo todo. Filch mostrou-se indignado e garantiu que
não entregaria as botas, que eram o único presente que sua mãe lhe dera.
Preferia desistir do “trabalho” para a J.J. Peachum. Célia reclamou que ele
devia parar com aquelas bobagens porque sabia perfeitamente que ele estava era com
os pés sujos... Filch confirmou e se justificou dizendo que o inverno estava
muito rigoroso.
A mulher o levou para trás de um biombo e seguiu para uma mesa de passar,
onde se pôs a preparar um traje qualquer. A certa distância J.J. perguntou-lhe sobre
Polly... Onde estava a moça? Célia respondeu que “lá em cima”... Peachum perguntou
se “aquele sujeito” a visitara no dia anterior como vinha fazendo com certa
regularidade.
Célia Peachum argumentou que o marido não devia ser tão desconfiado, já
que o “cavalheiro” era muito fino. Emendou que não havia homem mais fino do que
o “Capitão” e que ele apreciava muito a jovem Polly.
(...)
Assim é no texto da peça. E este cavalheiro, “Capitão”,
muito fino e apreciado pela Dona Célia Peachum, é o Mac Navalha...
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_14.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Um
abraço,
Prof.Gilberto