quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

“Deus lhe pague”, peça de Joracy Camargo – Maria, esposa do Juca operário, era mesmo muito ingênua; um diálogo sobre o imaginário da pobre mulher em relação aos ricos; o patrão obtém os desenhos da máquina projetada pelo seu empregado; Maria entrega os textos para que o empresário possa admirar a letra de seu marido

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_5.html antes de ler esta postagem:

A Maria do texto é ingênua e sua simplicidade diante do milionário empresário proporciona falas bem engraçadas para a plateia. É o que notamos quando, logo depois que o homem se sentou, disse que o Juca era mentiroso... O tipo quis saber por que e ela respondeu que o marido lhe dizia que o patrão tinha “cara de chimpanzé”... Mas ela salientou que não podia concordar com ele, pois, com a inesperada visita, podia ver que não era como a fizera pensar.
O homem quis saber como ela o imaginava... Maria respondeu que pensava que o patrão do marido fosse “milionário”... O tipo confirmou que era mesmo muito rico, então Maria disse que esperava que os milionários andassem com “roupas e chapéus de ouro”. Nem podia imaginar o tipo de comida dos ricos! Perguntou se ele tinha dores de cabeça ou nos rins, se sentia sede ou pesadelos...
O patrão sorria a cada frase da ingênua Maria ao mesmo tempo que confirmava que se tratava de um homem “normal” e que padecia de todos aqueles problemas... Ela riu mais uma vez e confessou-se “tola” por esperar algo totalmente diferente de um milionário... Se era como o patrão lhe dizia, então ele “não valia nada”, e emendou que preferia o Juca... Mais uma vez o patrão o patrão sorriu e quis saber o que o marido dela tinha de tão especial. Maria respondeu que ele jamais tinha dores de cabeça ou nos rins, e que seus sonhos eram sempre bons.
A resposta foi a “deixa” que o patrão esperava, pois na sequência perguntou onde o Juca estava... Maria respondeu que o Juca ficava até mais tarde na fábrica.
(...)
Quem assistiu ao “Dios se lo pague” sabe que no filme, no trecho em que o patrão visitava a humilde casa, Juca estava dormindo no quarto... O texto da peça dá a entender que ele sabia que não o encontraria na casa...
Na sequência o tipo observou que o operário estava se dedicando à “experiência de um novo invento”. Maria mostrou-se surpresa, já que sabia que o Juca lhe pedira segredo, no entanto concluiu que ele devia ter partilhado algo com o patrão. E se era assim, este devia gozar da confiança de seu marido... Curiosa, perguntou-lhe se achava que Juca poderia ficar rico com o seu projeto.
O patrão respondeu que não só Juca se daria muito bem com o seu invento como o ultrapassaria em riqueza. Obviamente Maria se encantou e sentenciou que o “aparelho” é bonitinho. Disse isso e quis saber se a visita era da mesma opinião. O patrão respondeu com um “só vendo”. Solícita, Maria disse que lhe mostraria os desenhos do marido.
Ela retirou-se e diante da porta de entrada arregalou os olhos, certamente para se certificar de que ninguém (inclusive o Juca) a observava. Depois retornou à mesa com um canudo de lata, dirigiu-se ao patrão e garantiu que ele tinha de ver os desenhos de Juca, pois só assim saberia que ele era “o homem mais inteligente do mundo”.
(...)
O patrão gostou do que viu e salientou que os desenhos estavam perfeitos... Maria ficou orgulhosa e destacou que a máquina que surgiria dos papéis seria operada por apenas um homem, e que ela realizaria a tarefa de cem operários. O tipo quis saber se Maria já havia lido o projeto...
Maria disse que admirava a bonita letra do marido, e que ele confiava muito nela... Mas ela não sabia o que os textos da papelada diziam. Guardavam os documentos debaixo do colchão, tudo “bem escondido”. Espertamente, o patrão provocou dizendo que não acreditava que a letra do Juca fosse tão bonita.
A mulher não queria passar por mentirosa e retirou-se para buscar os papéis. Ao se ver sozinho, o patrão dobrou os desenhos e enfiou-os no paletó, depois tampou o canudo vazio. Ela retornou com o calhamaço e foi logo exclamando que a letra do Juca era linda mesmo... O homem podia conferir. Foi isso que ele fez e respondeu que “Juca é um grande homem”... Mas o seu interesse estava no essencial do conteúdo.
Admirado, o inescrupuloso patrão deixou escapar que o segredo estava no movimento das “lançadeiras A e B”... Maria nem notou ou o incomodou. E foi assim que, com o cuidado da leitura silenciosa, ele se apropriou das informações do projeto de Juca.
Leia: “Deus lhe pague”. Ediouro.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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