Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/08/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_6.html antes
de ler esta postagem:
O
velho mendigo explicou que precisou contratar um secretário, um tipo esperto e
sempre antenado aos acontecimentos da cidade e que se encarregava de ler os
jornais. Dessa forma não lhe escapavam as principais datas e eventos mais
importantes e concorridos da gente abastada. Deixou escapar que passava horas
em sua biblioteca entretido com leituras de Upton Sinclair, Karl Marx e outros
autores. Muitas vezes seu passatempo predileto era interrompido pelo zeloso
secretário com suas relevantes informações e observações a respeito do perfil
dos potenciais doadores de esmolas.
Barata observou que o companheiro era mesmo bem organizado... Este puxou
um papel e pôs-se a ler as anotações do secretário a respeito dos que
compareceram às celebrações noturnas da igreja: “234 pessoas de luto, sendo 183
senhoras”... Observou que a maioria estava há pouco tempo enlutada e que isso
sempre proporcionava boas coletas. Prosseguiu com a leitura e informou que na
igreja estavam ainda “86 solteironas; 18 comerciantes desesperados e prestes a
falir; 96 noivos e namorados com as respectivas”... Emendou que as solteironas
eram normalmente generosas com os mendigos, era só uma questão de saber pedir
com “certo sorriso de bondade e malícia nos lábios”.
(...)
Não havia como não
concordar que o tal secretário parecia ser também psicólogo... A respeito dos
comerciantes à beira da falência, o velho informou que eles sempre doavam esmolas
por “medo da miséria”... Já os namorados costumavam dar maiores quantias (dois
mil réis) do que os noivos (dez tostões). Para termos uma ideia, “um tostão”
equivalia a cem réis, portanto, na conta do mendigo, os namorados eram duas
vezes mais generosos do que os noivos... Talvez porque tivessem ainda que
garantir um noivado promissor... Já os “pecadores em geral” davam apenas alguns
níqueis aos miseráveis mendigos.
O homem teve ainda de explicar que não nasceu mendigo
como Barata parecia estar concluindo... Ele disse que havia sido um trabalhador
comum e que pelejava demais para sobreviver. Enquanto foi operário dedicou-se
ao máximo e sujeitou-se às normas estabelecidas pelo patrão, todavia alimentou
sonhos... Fez planos que se mostraram promissores e que provavelmente o
levariam a uma vida de prosperidade material... Mas aconteceu que o
prejudicaram. Acrescentou que sua maior tragédia havia ocorrido há vinte e cinco
anos, e que estava disposto a contar tudo ao companheiro.
(...)
Como se pode notar até aqui, o texto da peça traz várias falas que foram
reproduzidas em “Dios se lo pague”, o filme. Na sequência veremos que o mendigo
narrará a ao Barata a história sobre o seu entrevero com o patrão, que lhe
roubou o projeto do espetacular invento.
(...)
No palco, o cenário onde estão os dois mendigos é
escurecido ao mesmo tempo em que em outro plano a iluminação passa a destacar a
humilde casa do trabalhador de vinte e cinco anos atrás...
No cômodo estava Maria, a companheira de Juca (este é o nome do velho
mendigo; Yuca, nos registro sobre “Dios se lo pague”)... O relógio aponta as
oito horas da noite, quando um senhor (o patrão) bate à porta. O tipo tem ares
importantes e Maria que se dedicava aos afazeres do dia-a-dia foi surpreendida
pela visita. Logo que atendeu ao distinto senhor pôs-se a limpar as mãos no
avental. O mesmo avental foi passado numa cadeira que Maria ofereceu para a
visita.
Maria sequer perguntou quem era o tipo... Para ela, o fato de vestir-se
bem indicava que se tratava de alguém importante. Não sabia se era educado
perguntar, pois não conhecia os hábitos dos ricos. Ele fez algumas observações
sobre a atitude de Maria e emendou que a educação é uma só, e que hábitos de
ricos e pobres são os mesmos.
Obviamente o patrão viu que
Maria era bem ingênua... Ela destacou que entre os pobres costuma-se
cumprimentar com um aperto de mão. Ele estendeu a mão e cumprimentou-a com um “boa
noite”.
Depois de se certificar com o próprio homem,
Maria se sentiu à vontade para perguntar quem ele era. O tipo respondeu que era
o diretor das fábricas onde o marido dela trabalhava. Ela não escondeu o seu
encantamento e insistiu para que ele se sentasse.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_7.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto