sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – com Napoleão, retrocesso da abolição dos escravos nas colônias franceses, resistência em Saint Domingue e mentalidade de liberdade entre os escravos de Guadalupe; abolição definitiva com a Segunda República; desprezo dos debatedores dos direitos em relação à condição das mulheres; um pouco do histórico da lei do divórcio na França; o pouco caso dos legisladores em relação aos direitos políticos e de cidadania das mulheres

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma.html antes de ler esta postagem:

Napoleão fez retroceder o processo de abolição dos escravos nas colônias francesas e ordenou a prisão de Toussaint-Louverture, líder haitiano que se tornou mártir da luta contra o escravismo.
O livro esclarece que a abolição definitiva foi retardada nas colônias da França “até 1848, quando uma Segunda República chegou ao poder”*. Lynn Hunt ressalta que os escravizados de Saint Domingue não aceitaram passivamente as imposições de Bonaparte e enfrentaram com bravura as tropas por ele enviadas. A resistência resultou no massacre de soldados franceses e de outros países, como “suíços, alemães e poloneses”**. A independência do Haiti passou para a História como a primeira protagonizada por escravos.

                   * Como sabemos, o Império Napoleônico foi derrotado em 1814. O Congresso de Viena que se reuniu na sequência tratou de restaurar as monarquias absolutistas que haviam sido abaladas durante os conflitos entre a França e nações europeias, sobretudo durante as Guerras Napoleônicas. No caso da França, três reis (Luís XVIII, neto de Luís XV, reinou até 1824; Carlos X, irmão de Luís XVIII e que foi destituído pela Revolução de 1830; Luís Felipe I, elevado ao trono após a queda de Carlos X) passaram pelo trono até a proclamação da citada Segunda República em 1848.

                  ** Milhares de soldados das forças de repressão aliadas a Napoleão morreram no enfrentamento aos negros do Haiti e de moléstias contraídas nas Antilhas, como a febre amarela.

A resistência foi em Saint Domingue...
Houve colônias em que as determinações de Napoleão foram seguidas à risca e a escravidão foi restaurada. Todavia, por toda parte os movimentos rebeldes impregnaram os antigos revoltosos do desejo de liberdade.
Na pequena Guadalupe, por exemplo, por ocasião da visita de um abolicionista após a queda da “monarquia ultraconservadora” de Carlos X, ocorreram manifestação de exaltação dos escravos à bandeira tricolor que havia sido “adotada pela República em 1794”. Diz-se que quinze ou vinte deles gritaram: “Signo glorioso de nossa emancipação, nós te saudamos!”; “Olá, bandeira benévola, que vem do outro lado do oceano para anunciar o triunfo de nossos amigos e as horas de nossa libertação”.

(...)

Enfim chegamos à parte do livro que trata dos processos que marcaram movimentos pelos direitos das mulheres... O ponto de partida para a reflexão dessa importante temática é o da assembleia francesa ao tempo da discussão e aprovação da Declaração dos Direitos.
Lynn Hunt esclarece que bem poucos deputados admitiam que os direitos aplicados aos “homens sem distinção de cor” deviam se estender também às mulheres. Apesar disso, em situações diversas a questão veio à tona e alguns direitos civis que muito interessavam a elas foram aprovados. Um deles foi o “direitos ao divórcio pelas mesmas razões de seus maridos”.
Até 1792, quando a Assembleia o aprovou, o divórcio era ilegal no país. Depois do fim do Império Napoleônico, a Monarquia revogou a lei (em 1816)... Em 1884 houve a reinstituição do divórcio, mas com restrições maiores do que as impostas na lei de 1792.
(...)
Em relação aos direitos políticos, pode-se dizer sem riscos de erros que as mulheres sofreram exclusão “universal” no correr do século XVIII “e durante a maior parte da história humana”. Até o final do XIX, em nenhuma parte do mundo permitia-se o voto feminino, e não se notava qualquer disposição dos legisladores de discutir a possibilidade de aprovação desse direito
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A partir do que até aqui se tratou nas postagens sobre “A Invenção dos Direitos Humanos”, vimos que grupos masculinos específicos mereceram a atenção dos debatedores dos direitos e aos poucos foram conquistando os direitos de cidadania. Ao mesmo tempo não se considerava concebível qualquer análise acerca da condição das mulheres. Lynn Hunt salienta que durante os séculos XVII e XVIII eventualmente ocorreram discussões em torno da “questão das mulheres”, notadamente em relação à educação a que elas teriam direito, mas nenhuma delas teve duração ou peso significativo.
Os processos que marcaram as votações das Declarações norte-americana e francesa não levaram em consideração a participação ativa das mulheres...
Vimos que a condição de protestantes, judeus, negros livres e escravos foram temas de publicações de panfletos, discursos de deputados, comissões e sociedades como a dos “Amigos dos Negros”....
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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