Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_12.html antes
de ler esta postagem:
Juca
voltou para onde estava a Maria... Ele trouxe o canudo destampado e os papéis
em desarranjo. Ele gritou com ela querendo saber onde estavam os desenhos.
Maria respondeu que só podiam estar no canudo, então o operário soltou gritos
irados denunciando que haviam sido roubados. O trabalho que poderia trazer
alguma esperança para a vida deles havia sido surrupiado e o Juca entendeu que o
ladrão só podia ter sido o próprio patrão.
Aos gritos de “miserável” e “canalha”, Juca deixou a casa às carreiras na
intenção de alcançar o empresário salafrário. Maria pegou o canudo e constatou
que não havia nenhum desenho em seu interior... No mesmo instante uma de suas
vizinhas entrou na casa, atraída que foi pela gritaria.
(...)
A vizinha perguntou o que
estava acontecendo... Maria permaneceu paralisada e com uma fisionomia assustada.
Sem conseguir transmitir uma resposta lógica, começou a balbuciar palavras que
pareciam desconexas: “Foi o Juca!... Os desenhos... O palácio... Os vestidos de
seda”...
Obviamente a vizinha não conseguiu entender qualquer
sentido e perguntou se Maria estava bem... Ela respondeu que não tinha nada,
mas logo assumiu uma feição de louca e disparou que “foi aquele homem!”, ele só
podia ser o próprio diabo!
Maria não sabia explicar e não conseguia raciocinar sobre o que tinha
acabado de vivenciar, sobre o golpe do qual havia sido vítima e, ao mesmo
tempo, cúmplice por ter prejudicado o marido. Sua vontade era gritar e ela
disse isso mesmo à vizinha. Logo repetiu as palavras desconexas (aquele homem;
o palácio; os vestidos; as joias) e, assim que a vizinha percebeu a gravidade
do caso e começou a chamar a sua atenção, passou a delirar afirmando que a
pobre casa era o bonito palácio... A colega não estava vendo a escadaria em
mármore?
A outra passou a segurá-la numa tentava de despertá-la
da divagação... Maria protestou exigindo que largasse o seu vestido de seda. Quis
saber se a vizinha estava com inveja. Tudo o que a outra conseguiu dizer foi um
“coitada”. Naquele mesmo momento o patrão vigarista entrou novamente na casa.
Maria apontou em sua direção e disse que ele era o diabo que havia lhe dado o
palácio onde vivia. O tipo sorriu e confirmou ao mesmo tempo em que lhe
subtraia os demais papéis. Em tom de chiste pedia que ela colocasse sua roupa “mais
rica”, pois iriam ao teatro. Completamente fora de si, Maria quis saber se
devia colocar o vestido que tinha pedras preciosas. Mais uma vez o salafrário
assentiu.
Logo que Maria saiu, a vizinha perguntou ao cavalheiro sobre o que a
teria deixado maluca daquele jeito... O tipo explicou que a coitada havia sido
vítima de um marido possesso... A mulher espantou-se, pois não conseguia
imaginar o Juca causando algum mal à esposa.
O patrão vigarista confirmou que o Juca teve um ataque de fúria e que
tentara assaltá-lo no momento mesmo em que entrava no carro. Mas se dera mal e
estava preso. Seria processado como ladrão! Disse isso e se retirou pela última
vez da casa operária. A vizinha ficou só... Lamentou a má sorte de Juca e olhou
para a porta por onde a Maria havia passado. Retirou-se da casa, pois percebeu
que nada podia fazer.
Maria voltou à cena...
Trazia uma toalha de mesa amarrada à cintura. Vários outros trapos estavam
amarrados à toalha e eram arrastados pelo chão. À cabeça levava um chapéu
masculino adornado com uma pena de espanador. Completamente desvairada, saiu de
casa para a rua sem objetivo definido ou noção da realidade.
(...)
A encenação da tragédia
passada há vinte e cinco anos terminou... O cômodo da pobre casa se escureceu e
logo notamos que a frente da igreja onde estavam o velho mendigo e o Barata
volta a se iluminar.
Barata ouviu com atenção a narrativa e perguntou
se a mulher havia mesmo enlouquecido. O companheiro respondeu que ela passou
muitos anos num hospício, convicta de que era a mulher mais rica e importante
do mundo. Ele (que era o Juca daquela história) acabara preso como assaltante e
condenado a seis anos.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_21.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto