Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/12/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold.html antes
de ler esta postagem:
Logo
na abertura do primeiro ato de “Ópera de três vinténs” assistimos o amanhecer
na rouparia que funcionava na residência de J.J. Peachum... Como já se salientou,
o “rei dos mendigos” vivia de explorar miseráveis, vendendo e alugando roupas e
acessórios que os tornavam criaturas “capazes de comover os corações cada vez
mais empedernidos”.
O “coral matinal” antecipa-nos o caráter de Peachum:
“Acorda mesquinho cristão!
Começa a pecar, salafrário!
Tu não passas de um charlatão:
Ganharás do Senhor teu salário.
Vende a
mulher e o irmão,
Porque
és um patife venal.
Deus
para ti é uma bolha de sabão?
Tu
verás o Juízo Final”.
O tipo se dirige ao público e discorre sobre a dificuldade que enfrenta
em sua arte de “despertar a piedade dos homens”. É que precisa inventar
artimanhas para tornar os seus agregados mendigos cada vez mais dignos da
piedade e esmolas ofertadas pela gente comum.
Peachum mostra o letreiro com os dizeres “Daí, e
dar-se-vos-á” e reclama que as belas frases já não comovem, que as palavras se
desgastam e assim não se consegue mais ganhar o pão. Seu maior incômodo era ter
de inventar sempre algo novo. Só fazia três semanas que os dizeres “É maior
ventura dar que receber” haviam entrado em circulação e já não surtiam qualquer
piedade. Pelo menos há a Bíblia, de onde sempre é possível arranjar alguma
inspiração... Mas até quando?
(...)
Na postagem anterior escrevemos sobre o início do filme de 1931... A
tela escura é o fundo para o canto dos marginalizados (e marginais, como era o
caso de Mac Navalha) que nos levam a refletir “De que vive o homem?”. A última
frase é “De trabalho sujo”.
Na sequência vemos um tipo bem alinhado deixando um prostíbulo. Uma das
mulheres o acompanha à porta enquanto outra se despede dele desde a janela. O distinto
cavalheiro que se mostra sorridente e satisfeito é o perigoso Mac Navalha.
Vê-se logo que tinha a intenção de passear à noite acompanhado da que saiu com
ele. Porém, duas jovens caminhavam pela calçada e uma delas chamou-lhe a atenção,
então no mesmo instante dispensou a dama com quem estivera até então. Sem
perder tempo, o Navalha caminha atrás das duas... Sabemos que ele é o perigoso
Mackie quando outra prostituta aparece noutra janela a fim de lhe entregar sua
famosa bengala que esconde a navalha.
Somos tentados a imaginar
que Mac Navalha teve um encantamento instantâneo e à primeira vista, no entanto
a jovem que despertou o seu interesse era ninguém menos do que a filha de J.J.
Peachum, a bela Polly que ele bem conhecia. Obviamente o filme não traz essa
revelação no início.
(...)
Tipos noturnos estão
parados na calçada diante de várias portas... Mas há grande movimentação nas
ruas, pois a noite é sempre festiva nas proximidades do porto. Mac anda no meio
da movimentação dos transeuntes e consegue manter certa distância das duas
garotas que paravam diante das vitrines das lojas.
Chegam
a uma grande praça de intenso movimento... Pelo visto os dias eram de feira no
Soho e um cantor se posicionou num pequeno palanque para apresentar seu número
que consistia exatamente na “moritat” sobre o Mac Navalha. Essa peça está na
abertura do texto para o teatro e foi reproduzida na postagem anterior.
Sobre a apresentação do cantor do filme, vemos que ele é acompanhado por
uma tocadora de realejo e por um auxiliar que apresenta cartazes que ilustram as
aberrações cometidas pelo Navalha.
O público que se aglomera
junto ao palanque permanece atento à “moritat”... É interessante notarmos o Mac
Navalha em meio às pessoas como se nada do que estava sendo cantado tivesse a
ver com ele. Polly se colocou bem diante do realejo, se manteve ao lado da
amiga e prestando atenção à apresentação... O inconveniente Navalha quase que colou
nela e dessa forma não teve como não o notar.
Polly depositou algum dinheiro no realejo e saiu com a amiga. O cantar
prosseguiu narrando as atrocidades cometidas pelo bandido “que passeia pelas
docas e está na multidão” (é isso o que a canção narra; é isso o que
literalmente estava acontecendo).
Mac seguiu as moças que pararam diante de outra
vitrine. Essa era de chapéus e artigos femininos da moda.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_13.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um
abraço,
Prof.Gilberto