domingo, 10 de janeiro de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – na abertura da peça, o amanhecer na loja de Peachum; das dificuldades de se enternecer o coração das pessoas para a caridade; bem no início do filmes, Mac Navalha deixa um prostíbulo e desiste de passear com sua dama da noite ao avistar Polly e uma amiga; a canção do “maritat” e a aglomeração nas ruas e praças; Polly e a amiga param diante de uma vitrine de artigos femininos

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/12/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold.html antes de ler esta postagem:

Logo na abertura do primeiro ato de “Ópera de três vinténs” assistimos o amanhecer na rouparia que funcionava na residência de J.J. Peachum... Como já se salientou, o “rei dos mendigos” vivia de explorar miseráveis, vendendo e alugando roupas e acessórios que os tornavam criaturas “capazes de comover os corações cada vez mais empedernidos”.
O “coral matinal” antecipa-nos o caráter de Peachum:

                   “Acorda mesquinho cristão!
                   Começa a pecar, salafrário!
                   Tu não passas de um charlatão:
                   Ganharás do Senhor teu salário.
                 
                            Vende a mulher e o irmão,
                            Porque és um patife venal.
                            Deus para ti é uma bolha de sabão?
                            Tu verás o Juízo Final”.

O tipo se dirige ao público e discorre sobre a dificuldade que enfrenta em sua arte de “despertar a piedade dos homens”. É que precisa inventar artimanhas para tornar os seus agregados mendigos cada vez mais dignos da piedade e esmolas ofertadas pela gente comum.
Peachum mostra o letreiro com os dizeres “Daí, e dar-se-vos-á” e reclama que as belas frases já não comovem, que as palavras se desgastam e assim não se consegue mais ganhar o pão. Seu maior incômodo era ter de inventar sempre algo novo. Só fazia três semanas que os dizeres “É maior ventura dar que receber” haviam entrado em circulação e já não surtiam qualquer piedade. Pelo menos há a Bíblia, de onde sempre é possível arranjar alguma inspiração... Mas até quando?

(...)
Na postagem anterior escrevemos sobre o início do filme de 1931... A tela escura é o fundo para o canto dos marginalizados (e marginais, como era o caso de Mac Navalha) que nos levam a refletir “De que vive o homem?”. A última frase é “De trabalho sujo”.
Na sequência vemos um tipo bem alinhado deixando um prostíbulo. Uma das mulheres o acompanha à porta enquanto outra se despede dele desde a janela. O distinto cavalheiro que se mostra sorridente e satisfeito é o perigoso Mac Navalha. Vê-se logo que tinha a intenção de passear à noite acompanhado da que saiu com ele. Porém, duas jovens caminhavam pela calçada e uma delas chamou-lhe a atenção, então no mesmo instante dispensou a dama com quem estivera até então. Sem perder tempo, o Navalha caminha atrás das duas... Sabemos que ele é o perigoso Mackie quando outra prostituta aparece noutra janela a fim de lhe entregar sua famosa bengala que esconde a navalha.
Somos tentados a imaginar que Mac Navalha teve um encantamento instantâneo e à primeira vista, no entanto a jovem que despertou o seu interesse era ninguém menos do que a filha de J.J. Peachum, a bela Polly que ele bem conhecia. Obviamente o filme não traz essa revelação no início.
(...)
Tipos noturnos estão parados na calçada diante de várias portas... Mas há grande movimentação nas ruas, pois a noite é sempre festiva nas proximidades do porto. Mac anda no meio da movimentação dos transeuntes e consegue manter certa distância das duas garotas que paravam diante das vitrines das lojas.
Chegam a uma grande praça de intenso movimento... Pelo visto os dias eram de feira no Soho e um cantor se posicionou num pequeno palanque para apresentar seu número que consistia exatamente na “moritat” sobre o Mac Navalha. Essa peça está na abertura do texto para o teatro e foi reproduzida na postagem anterior.
Sobre a apresentação do cantor do filme, vemos que ele é acompanhado por uma tocadora de realejo e por um auxiliar que apresenta cartazes que ilustram as aberrações cometidas pelo Navalha.
O público que se aglomera junto ao palanque permanece atento à “moritat”... É interessante notarmos o Mac Navalha em meio às pessoas como se nada do que estava sendo cantado tivesse a ver com ele. Polly se colocou bem diante do realejo, se manteve ao lado da amiga e prestando atenção à apresentação... O inconveniente Navalha quase que colou nela e dessa forma não teve como não o notar.
Polly depositou algum dinheiro no realejo e saiu com a amiga. O cantar prosseguiu narrando as atrocidades cometidas pelo bandido “que passeia pelas docas e está na multidão” (é isso o que a canção narra; é isso o que literalmente estava acontecendo).
Mac seguiu as moças que pararam diante de outra vitrine. Essa era de chapéus e artigos femininos da moda.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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