domingo, 10 de janeiro de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – votação pela abolição dos escravos em fevereiro de 1794; em defesa das máximas da Declaração e da posse das colônias; o avanço dos ideais de liberdade e direitos na mentalidade dos franceses enfraqueceu o movimento pela manutenção da escravidão nas colônias; Toussaint-Louverture e sua liderança no movimento de Saint Domingue, prisão e martírio; fragmento de poema de William Wordsworth em homenagem a Toussaint-Loverture

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/12/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_19.html antes de ler esta postagem:

O contexto de conflitos não dava tréguas aos legisladores franceses... Havia as intrigas políticas e guerras que envolviam Espanha e Inglaterra, além do movimento dos escravos nas Antilhas.
No final das contas, os deputados franceses, mais do que movidos pelo sentimento de humanidade ou “puro altruísmo esclarecido”, formalizaram seus votos na tentativa de defender a posse de sua colônia.
(...)
Apesar de pressionados pelos boatos a respeito da possibilidade de os ingleses, a partir do movimento pela libertação dos escravos, desbancarem a França dos territórios coloniais, “os deputados de Paris votaram por abolir a escravidão em todas as colônias em fevereiro de 1794”.
Podia-se dizer que os inimigos do abolicionismo ainda tinham fôlego para forçar que se limitasse a libertação apenas aos negros que se alinhassem às tropas francesas contra os inimigos espanhóis e ingleses... Acontece que as temáticas em torno dos direitos se espalhavam por toda França e tomavam conta das mentalidades, assim a ideia de manter as colônias apartadas da Constituição perdia qualquer fundamentação. Além disso, evidentemente, seria praticamente impossível barrar os movimentos sociais de negros livres e escravos por suas demandas em muito afinadas com a Declaração.
Ainda a respeito da importante decisão de conceder a liberdade aos escravizados das colônias, podemos dizer que ela foi tomada depois que os deputados ouviram com atenção as defesas feitas por três enviados de Saint Domingue (Lynn Hunt destaca que um era branco, outro era um escravo liberto e o terceiro um mestiço) em favor da emancipação como uma necessidade urgente. Então a escravidão acabou sendo abolida em todas as colônias do país (como se verá mais tarde, houve retrocesso) e decretou-se que “todos os homens, sem distinção de cor, residindo nas colônias, são cidadãos franceses e gozarão de todos os direitos assegurados pela Constituição”.
(...)
Questiona-se a respeito da compreensão do discurso em torno dos direitos e sua apropriação por parte dos escravos, mas, certamente, neles, o ideal de liberdade jamais se arrefeceu e todos entendiam desde sempre que, para que ela se tornasse uma realidade, deviam ir à luta.
Os deputados que representavam os proprietários nas colônias compreendiam bem esse fato e não era por acaso que enviavam missivas secretas aos seus representados e os orientavam a “vigiar as pessoas e os acontecimentos; prender os suspeitos; apoderar-se de quaisquer manuscritos em que a palavra ‘liberdade’ seja meramente pronunciada”.
(...)
Toussaint-Louverture foi o liberto que acabou se tornando líder dos revoltosos e um dos maiores heróis do movimento. Seis meses antes da abolição aprovada em fevereiro de 1794, Louverture proclamou:

                   “Eu quero que a Liberdade e a Igualdade reinem em Saint Domingue. Trabalho para que elas passem a existir. Uni-vos a nós, irmãos (companheiros insurgentes), e lutai conosco pela mesma causa”.

No ano de 1802, Napoleão ordenou o envio de tropas numerosas para o Haiti a fim de restabelecer o escravismo e capturar o líder Toussaint-Louverture, que acabou sendo transferido para a França e aprisionado em cela fria, onde morreu a 7 de abril do ano seguinte.
O grande revolucionário negro tornou-se celebrado pelos defensores da liberdade em todo o mundo... Lynn Hunt reproduz fragmento de poema de William Wordsworth em homenagem ao libertador negro:

                   “[Embora tu próprio caído, para não mais te erguer,
                   Vive e consola-te. Deixaste para trás
                   Poderes que lutarão por ti: o ar, a terra e os céus;
                   Nem um único sopro do vento comum
                   Te esquecerá; tens grandes aliados;
                   Teus amigos são o júbilo, a agonia
                   E o amor, e a mente inconquistável do homem.]”

Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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