terça-feira, 12 de janeiro de 2021

“Deus lhe pague”, peça de Joracy Camargo – a limitada Maria se esforçou no papel de aliada do explorador; o patrão quis se impor pelo prestígio social e ameaçou Juca; o operário vivia a trabalhar para além de sua jornada no seu projeto de seus sonhos; a proposta indecorosa; a confissão de Maria, a fúria de Juca e a marcação cerrada do capitalista

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo-o.html antes de ler esta postagem:

Maria ressurgiu com trejeitos exagerados... Procurou ser atenciosa com o Juca e deu-lhe muitos beijos, pois queria proceder conforme as orientações que havia recebido.
Juca arregalou os olhos e perguntou se o patrão já havia falado com Maria, sua esposa. O tipo respondeu que tivera apenas tempo para indagar-lhe sobre o rapaz. Desconfiado, o operário quis saber o que o empresário queria com ele.
O intruso vociferou que Juca não devia se esquecer de que ele era seu patrão e que de nada lhe valia se julgar um “grande senhor”, pois sem sua ajuda o invento se tornaria inútil. Juca não ficou na defensiva e confessou que já tinha propostas de fábricas estrangeiras para encaminhar o seu projeto.
O patrão sorriu nervosamente, sentou-se dizendo que os inventos nacionais apelavam sempre ao socorro do exterior. Na sequência exigiu que o Juca se sentasse. Sem obedecê-lo, o rapaz pediu que o dispensasse, pois se sentia constrangido na presença do empregador.
Nesse momento, Maria se intrometeu e pediu para o jovem esposo se sentar, pois era certo que ele ficaria mais rico do que o próprio chefe. Mais uma vez Juca se espantou e quis saber dela quem lhe havia dito aquele tipo de coisa. Maria respondeu que tinha sido o próprio patrão.
(...)
A desconfiança de Juca crescia a cada momento. Virou-se para o intruso visitante e quis que ele confirmasse o que sua ingênua esposa acabara de dizer. O patrão confirmou dizendo que Juca ficaria, sim, rico “se não for idiota”.
É claro que Juca quis entender o que o patrão quis dizer com aquilo. A resposta do outro não podia ser mais afrontosa, já que sugeriu que o operário devia transferir seu invento para ele, aceitando que não teria como dar qualquer prosseguimento ao mesmo... E foi ainda mais longe em seu cinismo ao dizer que o Juca teria direito a uma porcentagem do lucro sobre o que fosse produzido a mais, resultando que em pouco tempo se tornaria um milionário “às custas de seu patrão” (!).
Obviamente Juca o corrigiu e cravou que caso se enriquecesse seria às próprias custas, à custa de seu trabalho. O homem esbravejou que já havia lhe dito que sem o seu auxílio o invento não tinha qualquer valor.
Juca que até então havia se recusado a sentar-se, resolveu tomar uma cadeira. Com paciência, explicou que nos últimos três anos vinha se esforçando muito durante as noites em que trabalhava com o invento e pesquisas. Destinara boa parte de seu salário às suas experiências.
O tipo ganancioso sentenciou que chegara o momento de o rapaz ser recompensado... Sugeriu que ele pensasse bem para não se arrepender mais tarde... Disse essas coisas e se levantou, caminhou para a porta e levou a mão ao bolso do paletó, onde estavam os desenhos que havia surrupiado... Na sequência sugeriu ainda ao Juca que ele não se esquecesse, pois “sua felicidade está no meu bolso”.
(...)
Com um “boa noite” o patrão se retirou da casa... Juca permaneceu à mesa.
Maria havia ido até a porta e retornou para junto do marido. Ele foi dizendo que desconfiava do patrão. Ela resolveu “abrir o jogo” e o corrigiu dizendo que ele estava sendo tolo, pois devia desconfiar era dela.
Sem entender aonde a mulher pretendia chegar, Juca perguntou-lhe por que teria de desconfiar dela... Antes de entrar no assunto, Maria disse que não conseguia fazer fingimentos “de gente importante”. Ela rebateu as interrogações do companheiro afirmando que havia mostrado todos os papéis ao seu patrão... E não adiantava Juca ficar zangado! Porque o distinto homem lhe havia prometido palácios, vestidos de seda e tudo”.
Essa informação era de desolar. Juca se desesperou e gritou com ela querendo saber onde estavam os seus papéis... O rapaz ficou em estado de choque e foi para os fundos à caça de seu projeto.
(...)
Assustada, Maria se dirigiu à porta e foi surpreendida pelo patrão, que vigiou o casal desde que havia saído... Ela demonstrou surpresa, pois não esperava vê-lo tão cedo. O tipo respondeu que estava sempre onde se encontra o seu interesse.
Os gritos de Juca chegavam aos ouvidos de Maria, que pediu para o patrão fugir imediatamente. Ele a cumprimentou com um “boa noite” e sugeriu que ficasse pensando num lindo palácio e em vestidos de seda.
Nervosamente, ela respondeu que no momento não tinha tempo... Ele repetiu o “boa noite”, se virou e deu a entender que estava definitivamente indo embora.
Leia: “Deus lhe pague”. Ediouro.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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