Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_7.html antes
de ler esta postagem:
Como
o patrão se concentrava-se nos papéis e não mais se dirigia à Maria, ela
quebrou o silêncio perguntando-lhe se estava “lendo o segredo”. O tipo não
negou, mas tratou de adiantar que era um “homem honrado”. Ela quis saber se ele
lhe dava sua “palavra de honra”... Para confundi-la, respondeu que dava a sua
palavra de que era honrado.
Na sequência ele devolveu-lhe o canudo de lata que, como sabemos, estava
vazio... Devolveu também os papéis, cujas principais informações já sabia “de cabeça”.
(...)
Cinicamente, o patrão
orientou-a a guardar tudo “direitinho e nunca mais mostrar a ninguém”. Maria
lembrou que o marido sempre lhe dizia a mesma coisa ao sair de casa.
O embusteiro ainda teve a cara-de-pau de acrescentar
que “por aí” há pessoas que não prestam. Disse também que ela não devia falar
nada ao Juca sobre lhe ter mostrado o projeto.
Maria estava mesmo confusa e perguntou-lhe se achava que ela havia feito
mal em mostrar-lhe os desenhos e o calhamaço de registros do marido... O tipo
respondeu que não havia mal algum porque ele era “de confiança”. Ela sentiu-se
aliviada ao mesmo tempo que implorou para que não contasse a ninguém sobre o
que fizera.
O patrão sabia mentir e enganar bem, então fez um
carinho no queixo da pobre mulher e garantiu que se algum dia o Juca brigasse
com ela, certamente ela moraria num rico palácio e seria dona de belos vestidos
e joias caríssimas, além de ter um automóvel exclusivo para os passeios que lhe
aprouvesse.
De olhos arregalados, Maria quis saber se era verdade que ganharia mesmo
tudo aquilo se Juca brigasse com ela. O salafrário não só confirmou como sentenciou
que receberia muito mais. Ele mesmo lhe proporcionaria tudo o que desejasse!
(...)
O simplório raciocínio de Maria levou-a a concluir que não seria tão
ruim se o marido se zangasse com ela. O patrão mal intencionado respondeu que
era isso mesmo, todavia não era algo que ela podia provocar imediatamente.
Explicou que era preciso saber fingir e tratar o Juca com muito carinho para
que ele não desconfiasse de nada... A tola ainda perguntou se era daquela forma
que as pessoas importantes costumam proceder.
O patrão adiantou-se a
responder que não era daquele modo que as pessoas importantes agem, mas no
momento o que interessava era obedecê-lo. E para isso, devia guardar os papéis
e se comportar bem...
Foi isso que ela se pôs a
fazer... Mostrou-se satisfeita porque imaginava mesmo que, seguindo os
conselhos do cavalheiro, se tornaria importante...
(...)
O
patrão decidiu se retirar, pois já não tinha o que fazer na humilde casa
operária...
Aconteceu que quando chegou à porta topou com Juca em uniforme de
operário.
O texto da dramatização
esclarece que o Jovem Juca contava vinte e cinco anos quando esses episódios se
deram em 1905... Portanto devemos concluir que o “tempo presente”, o do
encontro dos mendigos na escadaria da igreja, ocorria em 1930... E que o velho
mendigo contava cinquenta anos.
(...)
O patrão não esperava encontrá-lo, mas cumprimentou-o sem
perder a pose. Juca respondeu ao “boa noite” e perguntou com o espanto o que
significava aquela visita... O outro sorriu e respondeu que “quis ter a honra
de ser o primeiro a abraçá-lo”.
Juca quis uma explicação e o patrão deu a entender que descobrira que seu
empregado vinha trabalhando escondido até mais tarde. O jovem perguntou se
aquilo era motivo de censura. Em tom de bajulação, o outro disse que sempre
nutrira simpatia por ele.
O rapaz agradeceu... Aos poucos pôde perceber as
intenções do patrão, que revelou já estar informado de que ele estava para se
enriquecer em breve graças ao “invento do novo tear”.
Juca mostrou-se modesto ao manifestar que “a preguiça de operário
cansado sugeriu-lhe um aparelhozinho”... Demonstrando que sabia mais do que
dizia, o patrão sentenciou que o aparelhozinho faria o trabalho de cem homens.
Novamente espantado, Juca interrogou como o empresário podia saber
daquele detalhe... Como que a justificar a informação e a minimizá-la, o tipo
deu a entender que seu gerente já vinha lhe falando do invento.
Neste momento Maria retornou à sala. Nota-se
claramente que se esforçava para demonstrar “ares de gente importante”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_12.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto