Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/08/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_12.html antes
de ler esta postagem:
Como
vimos, o donatário e governador da ilha de São Tomé, era ambicioso e não
titubeou ao explorar e enganar de modo vil o mani D. Afonso que, ingenuamente,
esperava contar com o auxílio português.
Vimos que Fernão de Melo enviou ao manicongo cristão aliado de Portugal
um navio com presentes desprezíveis. Essa e outras ofensas e ataques foram
relatadas por D. Afonso do Congo... Tinhorão destaca que os presentes eram um “chamariz”
com o qual o inescrupuloso fidalgo esperava atrair o manicongo para muitas
outras “trocas” vantajosas.
D. Afonso do Congo quis
saber do capitão-piloto, Gonçalo Peres, se Fernão de Melo possuía navios que
pudessem ser carregados de armamentos (bombardas e espingardas) para armar seus
homens tão logo queimassem “a casa grande dos ídolos”, pois certamente haveria
levantes contra essa medida reformadora da religião. O capitão-piloto respondeu
negativamente, mas adiantou que o governador de São Tomé esperava receber do
mani cristão carregamentos de tecidos, afiançou que ele os compraria de bom
grado e que certamente enviaria a ajuda solicitada tão logo pudesse.
Em nota o livro destaca trecho da carta de D. Afonso
em que esclarece o “pagamento antecipado” de “oitocentas manilhas e cinquenta
escravos” para Fernão Melo; cinquenta manilhas para sua mulher, trinta para o
filho e outras vinte para o capitão e mais vinte para seu escrevente.
(...)
D. Afonso quis saber se sua carta (de 1508; que dava notícias de sua ascensão
ao poder e de seu propósito de sincera aliança) que enviara a D. Manuel por
intermédio de Antônio Fernandes e do padre Rodrigo Eanes havia chegado ao destinatário.
Gonçalo Peres respondeu que os dois homens morreram durante a viagem, “um no
mar e outro na ilha de Cabo Verde”.
De 1508 a 1509, o mani D. Afonso aguardou em vão que
Fernão de Melo lhe mandasse as armas necessárias para colocar em prática o seu
intento de combater as práticas religiosas pagãs em seu reino... Acabou
desistindo da ajuda daquele que devia ser um fiel aliado e ordenou a queima dos
ídolos o mais secretamente possível.
(...)
A carta de 5 de outubro de 1514 traz registros detalhados das diversas “arbitrariedades
e violências cometidas por Fernão de Melo”.
Tinhorão esclarece que por
aquela época Portugal já havia deslocado o seu interesse para o Oriente... Ao
mesmo tempo, a “burguesia comercial atlântica” passava a atuar com maior
voracidade sobre os territórios da África.
Fernão de Melo, por exemplo, governava a ilha de São Tomé como se fosse
o próprio feudo e seguia ignorando a vontade de D. Manuel, interpretando-a em
benefício próprio.
Na citada carta, D. Afonso
do Congo denunciou que Fernão de Melo enviou-lhe certo Estevão da Rocha,
apresentado como pertencente à Câmara do monarca português e encarregado
(oficial) de encaminhar ao reino tudo o que ele pretendesse enviar a Portugal.
O
recorte (da carta do mani cristão do Congo) apresentado a seguir nos dá conta
de que a “gentileza” de Fernão de Melo tinha objetivos ilícitos...
“(...)
e assim mandamos D. Pedro nosso primo e D. Manuel nosso irmão e outros nossos
sobrinhos, e mandávamos uma carta a sua Alteza e outra para a rainha D. Leonor,
pelos quais nossos parentes mandávamos-lhes setecentas manilhas e muitos
escravos e papagaios e bichos e gatos de algálea, o qual estevão da Rocha nos
disse que mandássemos a fazenda diante dele (antes dele), a qual nós mandamos e
se meteu dentro do dito navio e ele foi depois com os ditos nossos parentes, e
tanto que se chegou ao navio e viu a fazenda já dentro (os presentes aos
monarcas portugueses) tomou as cartas que iam para Sua Alteza e as botou fora
na metade do chão e assim (igualmente) quebrou um braço de um nosso sobrinho
que se não queria sair fora do navio e se apegava a ele e assim botou fora o
dito D. Pedro e D. Manuel e todos os nossos parentes e se foi com tudo que a
Sua Alteza assim mandávamos”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_8.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto