segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – iniciativas técnico-científicas fundamentais à navegação em águas fundas e de alto mar; balestilha e quadrante; contribuições portuguesas para a evolução do astrolábio; Afonso X de Castela e a coletânea de informações astrológicas em “Libros del saber de Astrologia IV”; sobre a “rodela” e navegação a bolina

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/12/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore.html antes de ler esta postagem:

A opção pela navegação do Atlântico forçou os lusitanos a buscarem as técnicas que permitissem o avanço das embarcações rumo ao sul e em altas águas. Como se sabe, isso foi fundamental para o processo que marcou as conquistas na África, América e extremo da Ásia.
Os portugueses exploraram tudo o que a antiga “navegação de rumo e estima” permitia ao mesmo tempo em que contribuíam para o desenvolvimento da “navegação astronômica” que, como o nome sugere, baseava-se na observação de astros, como o sol ou a estrela polar (que é de primeira grandeza). Esse recurso permitiu estabelecer a localização da embarcação quando se efetuava a observação. Evidentemente, isso foi resultado de muitas iniciativas técnico-científicas datadas do final do XIV.
(...)
A balestilha, por exemplo, foi instrumento importante para se calcular “a altura dos astros”. Isso ocorria sempre que se apontava o canudo do aparelho para a estrela tomada por referência e, a partir do deslizamento do “virote” (uma haste), obtinha-se os dados cravados na “soalha” (que era uma “régua graduada”).
Já o quadrante podia revelar a “hora solar” a partir do deslocamento da sombra no correr do dia. Podia revelar ainda a altura dos astros sobre o horizonte e a latitude em que se encontrava o observador.
De todos os instrumentos de navegação, o astrolábio é o que melhor ilustra os avanços técnicos da navegação portuguesa. Este aparelho era basicamente uma evolução da invenção por muitos atribuída a Hiparco (o grego dos anos 150 d,C), o “pai da Astronomia”.
Entre os componentes do astrolábio de fins do século XIII havia a “esfera armilar”, que indicava dados historicamente coletados por astrônomos árabes.... O livro esclarece que tais informações já eram anunciadas em “Libros del saber de Astrologia IV: Libro del astrolábio redondo e Libro del astrolábio llano”, de Afonso X, o “rei Sábio” de Castela, falecido em 1284.
As muitas lâminas dispostas no astrolábio dificultavam a leitura da “altura dos astros e outros acidentes da esfera celeste”. Conforme se tornaram mais familiarizados com o aparelho, os portugueses proporcionaram inovações que resultaram na confecção do “astrolábio plano”, que simplificou a verificação em um:

                   “aro graduado, com duas pínulas ou lâminas providas de um orifício em cada uma das extremidades que, ao coincidirem para deixar passar os raios de luz, proporcionavam o alinhamento ótico que permitia medir os ângulos ou afastamentos angulares indispensáveis ao cálculo da altura do objeto observado”.

Os astrolábios confeccionados pelos portugueses podiam ser de madeira ou latão... Havia os que mediam 10 ou 15 centímetros... Os maiores chegavam a 50 centímetros. Os menores eram erguidos na direção do “astro-guia” pelos pilotos. Já os maiores podiam ser suspensos “por um cabo preso a um ponto fixo”.
O instrumento plano e simplificado, constituído pelo aro e pelas pínulas para a leitura, era comumente chamado de “rodela” pelos navegantes portugueses.
(...)
Sem dúvida, a “navegação a bolina” tornou-se especialidade dos portugueses no correr do século XV e foi recurso técnico fundamental para suas pretensões marítimas.
Basicamente esse tipo de navegação demandou mudanças na “ordenação do velame”. Até então, a disposição visava o aproveitamento máximo do “vento a favor”. Para conseguirem a “navegação a bolina”, os portugueses passaram a utilizar um cabo que enviesava “a vela no sentido do aproveitamento do vento de lado, de forma a permitir que a embarcação continuasse a avançar” mesmo com o vento contrário.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas