Talvez
seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/cortico-cem-anos-de-promiscuidade-de_14.html antes de ler esta
postagem:
Até a década de 1950 a casa de aluguel
(normalmente as aglomerações dos cortiços) predominou como modalidade de
moradia entre os trabalhadores... A partir de então se consolidou o “padrão
periférico”, que pode ser entendido como causa (mas também consequência) do
crescimento da cidade. Em síntese, esse “padrão” de moradia, construída à custa
do próprio trabalhador, apresenta a casa “unifamiliar” afastada do local de
trabalho, sem as estruturas básicas para um cotidiano elementar...
O texto de Kowarick e Clara
Ant segue apontando que o sobretrabalho do operário deve ser “computado
rigorosamente enquanto horas de labuta não pagas, necessárias à reprodução do
vasto contingente de mão-de-obra”... A “pulverização” dos trabalhadores em
locais distantes das fábricas, e afastados uns dos outros, pode ser entendida,
no mínimo, como interessante aos empresários... Os “perigos” verificados ao
tempo da greve de 1917 diminuíam conforme se dava a “periferização”.
Embora os autores considerem que a “dispersão física” tenha contribuído
para a restrição das atividades sindicais e políticas (sobretudo a partir do
golpe militar de 1964), destacam também que as décadas posteriores a 1950 haviam sido marcadas por vários movimentos grevistas, e isso revela que as mobilizações operárias
não foram completamente anuladas pelo “padrão periférico”.
Além disso, a dispersão
deve ser entendida como transitória porque, conforme as fábricas se organizam e
se desenvolvem, proporcionam os grupamentos operários em seu interior e nos
novos bairros.
No início da década de 1980
(época em que o texto foi elaborado) a cidade contava mais ou menos 450 mil
metalúrgicos. Com os seus agregados correspondiam a cerca de 20% da população...
Entre 1939 e 1964 a crescente demanda por habitação exigiu do governo a “mediação
financeira” através dos Institutos de Previdência, da Fundação da Casa Popular
e de instituições bancárias oficiais (Caixa Econômica Federal e as Caixas
estaduais)... Os “esforços oficiais” não foram suficientes para resolver a
situação satisfatoriamente. Em 25 anos, apenas 120 mil unidades foram
construídas... Sem dúvida, uma quantidade insignificante frente ao crescimento
populacional do mesmo período.
Após 1964, o BNH
(Banco Nacional da Habitação), criado para tratar do déficit habitacional, não
só atendeu bem pouco à população mais carente como, visando lucro, financiou
habitações para as camadas com remuneração acima da média. Os resultados se
refletiram no panorama das grandes cidades como São Paulo, onde as “habitações
subnormais”, como cortiços e favelas cresceram desmedidamente... Em 1979 a
população favelada atingiu os 7% do número de habitantes do município. Os especuladores imobiliários
adquiriram amplos terrenos destinados a loteamentos inviáveis para os
operários... Ao mesmo tempo, a “Lei do Inquilinato” inibia a construção para as
habitações de aluguel... Os resultados foram a expansão da cidade para locais
mais distantes e o consequente distanciamento do trabalhador em relação ao
local de trabalho e dos serviços urbanos... Com seus parcos recursos assumiam a
construção da própria moradia.
Os dados do início da
década de 1980 mostraram que a sub-remuneração era muito onerada... Os
trabalhadores gastavam em média 4 horas por dia nos deslocamentos de casa ao
trabalho... Cerca de 15% do salário mínimo se destinavam a essas locomoções.
Conclui-se que, se no início da industrialização,
o Estado ausentou-se da mediação que poderia exercer entre os empresários e os explorados
operários, anos depois a sua intervenção não serviu para “civilizar” as regras
impostas pelos patrões... A Economia cresceu tendo por base a “pauperização de
grande parcela da classe trabalhadora”.
De acordo com Kowarick e
Clara Ant, as longas jornadas do princípio da industrialização (quando ocorria
o “autoritarismo privatista”) foram substituídas por “jornadas
institucionalmente menores” (ao tempo do “autoritarismo burocrático”), mas
adicionadas às longas horas dispensadas para o transporte e construção das próprias
habitações.
O sonho de ter uma casa própria tornou-se comum entre os trabalhadores.
Isso nunca foi de fácil acesso para todos... Para concretizá-lo, famílias
inteiras realizaram sacrifícios imensos, aumentando suas jornadas de trabalho e
se dedicando à construção (em ritmos e prazos imprevisíveis) dos cômodos das
habitações... Esse sonho tanto se explicava quanto mais se temia a falta de
condição de pagar aluguel nos casos de desemprego.
Durante a década de
1970, não por acaso, se verificou a aquisição de pequenos lotes por mais de uma
família. É que os altos preços dos terrenos tornavam inviável a sua compra em
separado... O barraco da favela era o último recurso... O cortiço persistiu
como modalidade intermediária de habitação...
Os
autores salientam que não havia distrito da cidade sem cortiços... Nas áreas
centrais notavam-se casarões antigos que se adaptaram para esse fim... Além dos
casos de construções que se planejavam para se tornarem cortiços...
Continua
Um abraço,
Prof.Gilberto