De 1890 até o final da primeira década do século
XX a cidade de São Paulo passou de 65 mil para 350 mil habitantes. Essa
alteração se explica pela industrialização, que foi responsável por forte
imigração.
Os industriais sentiam-se
muito à vontade para explorar porque não havia “nenhuma mediação estatal”... A
condição de trabalho era das piores, e os operários, explorados como
mão-de-obra barata (em jornadas de mais de 14 horas), estavam sujeitos ainda
aos perigos proporcionados pelas máquinas e pelos ambientes insalubres...
Acidentes envolvendo mulheres e crianças eram muito comuns... Mas para os
patrões não havia dificuldades para substituir os que adoeciam, morriam ou ficavam
permanentemente inválidos...
O crescimento populacional nos remete às reflexões sobre as "demandas por
acomodação"... E as condições de moradia dos operários das primeiras fábricas selaram
os cortiços como o tipo de “habitação precária” mais antiga em São Paulo... O
cortiço apareceu como decorrência da industrialização.
O texto de Kowarick e de
Clara Ant aponta a situação como consequência do “autoritarismo privatista”...
O capital “deitava e rolava”.
Do pouco salário que os
operários recebiam, a maior parte destinava-se à alimentação, restando bem
pouco para a moradia... Não por acaso os cortiços tornaram-se o destino do
contingente proletário... Todos os membros da família, salvo as crianças menores
e os já muito idosos, tinham de trabalhar e, ainda assim, a condição era de
miséria total... As péssimas condições favoreciam a contaminação e as
enfermidades que resultavam em mortes prematuras.
Havia, sim, as
habitações “unifamiliares”, locais considerados “higiênicos”, porém sua locação
equivaleria a, no mínimo, metade do salário dos operários das fábricas. A eles,
então, restava a opção dos cortiços.
Pelo menos durante as três
primeiras décadas do século passado não havia muitas fábricas na cidade, mas as
que existiam (têxteis notadamente) concentravam a maior parte do operariado...
Sendo assim, foi natural que em suas proximidades se formassem os cortiços e, não raramente, junto aos trilhos ferroviários...
A vida nos bairros
operários confundia-se à vida nas fábricas... O cotidiano das fábricas era
conhecido e comentado pelas ruas onde os filhos menores dos trabalhadores
brincavam... Os vários apitos da fábrica “regulavam (também) a vida dos bairros”.
Brás, Mooca, Bom Retiro e Bixiga
foram bairros que se caracterizaram pelos cortiços habitados por operários...
Campos Elíseos, Higienópolis (esses nomes não são por acaso) e a Avenida
Paulista eram áreas habitadas pelos mais ricos... Kowarick e Clara Ant advertem
que, apesar disso, nas proximidades dos bairros mais elegantes ajeitavam-se
alguns amontoados... Em 1893 havia 60 cortiços em Santa Ifigênia, localizada a
apenas 300 metros de distância dos Campos Elíseos (dados citados de Relatório de Exame e Inspeção das Habitações
Operárias e Cortiços do Distrito de Santa Ephygênia)... Isso alarmou as
autoridades sanitárias do final do século XIX, quando uma epidemia de febre
amarela abateu-se sobre os moradores das pobres instalações...
Desde muito tempo as
autoridades incorporavam a necessidade de colocar fim nos cortiços às ideias de
limpeza e higienização, necessárias ao controle de focos contagiosos.
No
início da década de 1920 a cidade contava 580 mil habitantes... A gripe
espanhola fez inúmeras vítimas... Trecho de O Estado de São Paulo, de 4/2/1921 alertava sobre a necessidade de
as autoridades acabarem com os cortiços ou darem um jeito de os proprietários
higienizarem os “nocivos ambientes” que se alastravam pela cidade.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/cortico-cem-anos-de-promiscuidade-de_14.html
Um abraço,
Prof.Gilberto