O diálogo entre os dois meninos levou-os a questões profundas... Muito complexas... Devemos considerar que Gaarder apresenta-nos dois indivíduos, ambos com oito anos, de “universos diferentes”... Além disso, seu texto é endereçado à pequena Camila, que também conta oito anos de idade... É certo que as crianças que conhecemos nessa faixa etária são ávidas por saber mais a respeito do mundo que as cerca... São tão questionadoras quanto nossos dois protagonistas... Normalmente os adultos se encarregam de, com respostas “prontas e acabadas”, colocar fim ao processo que podemos chamar de “iniciação filosófica”...
Voltemos ao essencial do diálogo que prosseguiu.
Joakim refletiu e indagou a respeito de Deus... Se existe, quem É... Se não existe, o que é o universo... O universo é totalmente independente?
Eram questões que se relacionam àquelas a que chegaram anteriormente... Descobrimos muito sobre as nossas origens, mas para onde seguimos?
Descobrimos muito sobre as nossas origens, mas para onde seguimos?
Joakim perguntou ao menino do espaço em quê ele acredita... A questão mereceu uma reverência de sua parte... E ele respondeu que não tinha convicção de que o universo seja obra do acaso. O outro quis saber, então se ele acreditava que um deus teria feito tudo... Nova reverência... E Mika pediu que o amigo considerasse sua resposta “apenas uma resposta”... Joakim entendeu que o que ouviria era “menos importante” do que a pergunta que fizera, então concordou... Observou a fisionomia do amigo e aguardou com grande expectativa, mas Mika iniciou falando sobre a força da gravidade, que faz o planeta girar ao redor de uma estrela, e da Lua que atrai o mar e provoca o movimento das marés... Depois disso lançou outra pergunta ao amigo... Não teria sido a ação de uma determinada força que atraiu os organismos para fora dos oceanos e deu a eles olhos e cérebro para ver e pensar?
Joakim demonstrou não ter condições de responder a isso... E Mika concluiu seu raciocínio dizendo que às vezes pensava que aqueles que não creem nisso “devem ter um sentido importante a menos”.
Eu (prof.Gilberto), aqui à frente dessa máquina, fico imaginando que este trecho que acabei de registrar é maravilhoso, um dos mais instigantes do livro... Pode ser que algum leitor por aí tenha ficado frustrado com a “resposta” de Mika... Eu não.
Viam o sol mergulhando no mar... O dia estava cedendo lugar à noite... De repente ouviram a gritaria de tia Helena no jardim... Ela chamava Joakim. Ele explicou ao amigo que deveria descer... Que, se não fizesse isso, logo a tia chegaria ali e os encontraria, pois ela sabia que ele tinha o hábito de se retirar para pensar no “montinho”, o seu local preferido para essas ocasiões.
Enquanto Joakim desceu em disparada, ouviu atrás de si a voz do amigo dizer que achava que acordaria em breve... Joakim encontrou a tia no jardim... Ela reclamou, dizendo que já eram quase oito horas e que já fazia muito tempo que o procurava... Falou que tinha lido o bilhete, elogiou a letra do sobrinho... Mas insistiu que ele precisava jantar e ir direto para a cama.
Foi isso mesmo o que
aconteceu, às oito e meia Joakim já estava na cama... Enquanto jantou pensou no amigo, sobre onde estaria; se estava conseguindo se virar sozinho; qual o
significado de “daqui a pouco acordaria”... Depois, já no quarto, tia Helena
desejou-lhe boa noite e apagou a luz... Falou que dormiria na sala e finalizou
dizendo que logo o irmãozinho (ou irmãzinha) chegaria... Joakim pensou no
bebê com a certeza de que seria mesmo um menino... Ficou satisfeito ao
pensar que, graças ao encontro com Mika, estava apto a conversar com ele sobre
como tudo começou no planeta...Joakim acha que dormiu um pouco... Foi despertado por batidas na janela... Para a sua surpresa era o amigo do espaço, que tinha conseguido subir no telhado... Joakim se dirigiu até ele e, com um “psiu”, pediu que falassem baixo... Então o outro o convidou a olharem as estrelas.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/ei-tem-alguem-ai-de-jostein-gaarder-os_10.html
Leia: Ei! Tem alguém aí? Companhia das Letrinhas.
Um abraço,
Prof.Gilberto
