quinta-feira, 7 de março de 2013

“Cortiço: cem anos de promiscuidade”, de Lúcio Kowarick e Clara Ant, em “Novos Estudos CEBRAP” de abril de 1982 – trechos de documentos selecionados – “Fanfulla”, 1906; “A terra Livre”, 1907; “O Estado de São Paulo”, 1921

Alguns recortes de documentos selecionados por Kowarick e Clara Ant são importantes para análise e reflexão acerca do conteúdo proposto em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/cortico-cem-anos-de-promiscuidade-de.html.
* O recorte de Fanfulla, periódico da colônia italiana que desde o final do século XIX circulou em São Paulo, destaca trecho de um texto (A Casa dos Pobres) que saiu no número 3891, em 23 de março de 1906... Ele trata da condição de moradia dos operários e suas consequências.
* O recorte de A Terra Livre (de 23 de janeiro de 1907), periódico anarcossindicalista do início do século passado, trata da exploração imposta pelas fábricas de tecidos a operários adultos e crianças.
* O trecho de Coisas da Cidade, Uma Rua de Cortiços, extraído do jornal O Estado de São Paulo (de 4 de fevereiro de 1921), apresenta críticas às autoridades que não tomavam providências em relação aos cortiços (logo após a epidemia da gripe espanhola).

Trechos de A Casa dos Pobres, publicado no Fanfulla de 23 de março de 1906:
A tuberculose ceifa as suas vítimas: a insuficiência de ar e de luz, o dia-a-dia com numerosas pessoas em ambientes muito pequenos, mal ventilados, úmidos e baixos, produz a clorose, a anemia, etc... (essa) gente reduzida a aglomerar-se em dez ou doze pessoas em um ou dois cômodos porque os ganhos escassos e o crescimento dos aluguéis não permitem que tenham meios para alargar-se um pouco, (nos bairros pobres) aonde à noite se recolhe todo o exército de quem trabalha e produz, as moradias coletivas e os cortiços se transformam em verdadeiros pombais humanos, onde se vive numa promiscuidade de gente e de sexos...

Trechos de A Terra Livre, de 23 de janeiro de 1907:
Onde o suplício dos operários atingiu o cúmulo inquisitorial é nas fábricas de tecidos de São Paulo (...) os teares e as máquinas nunca param nem de dia nem de noite. Os homens (...) trabalham 16 horas por dia (...) as mulheres (...) 14, 12 e 11 horas por dia(...) As crianças lançadeiras de ambos os sexos, de 8 a 12 anos, que trabalham das 5 da tarde às 6 da manhã com 1 hora de intervalo sob vigilância dos guardas. A certa altura da noite quase todas essas crianças (...) meio mortas de fadiga e de fome, caem a dormir; então o encarregado acorda-as e manda-as retornar ao trabalho. Mas os pobres pequenos tornam a cair; então o contramestre desperta-as à bofetada e elas soluçando retornam ao trabalho (...). Os contramestres têm carta branca, podem bater nos seus subordinados ou despedi-los.

Trecho de Coisas da Cidade, Uma Rua de Cortiços, in O Estado de São Paulo, de 4 de fevereiro de 1921:
Oh! Os cortiços... Ora, depois da gripe, era de esperar que nossas autoridades não perdessem de vista os cortiços, e, ou tratassem de acabar com elles ou exigissem dos seus proprietários uma hygiene rigorosa, rigorosamente falsificada (sic). Entretanto, nada ou quase nada foi feito nesse sentido, e os cortiços continuam a aumentar de número dando rendimentos fabulosos aos proprietários.


Um abraço,
Prof.Gilberto

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