quinta-feira, 14 de março de 2013

“Cortiço: cem anos de promiscuidade”, de Lúcio Kowarick e Clara Ant, em “Novos Estudos CEBRAP” de abril de 1982 – décadas de 1930 a 1960; crescimento populacional e demandas operárias; movimentos sociais e ataques “sanitaristas” da classe dominante e autoridades; bairros operários na periferia

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/cortico-cem-anos-de-promiscuidade-de.html antes de ler esta postagem:

Os preços dos aluguéis das habitações “unifamiliares”, “dignas”, “higiênicas” e confortáveis eram exorbitantes para os operários... Além disso, imóveis com essas características eram sempre muito afastados das fábricas... A equação é simples... Quanto mais distantes residissem em relação ao local de trabalho, maiores eram os gastos dos operários com o transporte em bondes... Então, para o operariado, que contava muitas mulheres e crianças em suas fileiras, sempre havia sido “mais conveniente” morar nas proximidades das fábricas.
As péssimas condições de vida e trabalho levaram os trabalhadores ao confronto... Nos conflitos nos quais foram protagonistas eram tratados como “virulentos”, “contaminadores da pax urbana”... Não foram poucos os episódios grevistas... Sabemos que o de 1917 representou o principal movimento social daquele período em que a República ainda engatinhava no país... Kowarick e Clara Ant destacam que, mais que os sindicatos, as “ligas de bairro” exerceram importante papel na condução daquele movimento.
O fato é que, uma a uma, as fábricas tiveram de paralisar suas atividades, pressionadas que foram pelos trabalhadores que moravam em bairros circunvizinhos. Assim como a classe dominante e as autoridades classificavam os aglomerados proletários como doenças, “moléstias contagiosas” que precisavam ser extirpadas, entendiam, da mesma forma, que as agitações políticas proletárias se tratavam de “epidemias anarquistas”, “focos de desordem”.
O tempo passou e ocorreu a “desconcentração da moradia operária”. Paulatinamente, ela deixou de ser localizada apenas em torno dos bairros fabris da cidade... A década de 1930 foi marcada por um aumento populacional (que ultrapassou 1 milhão de habitantes)... Na maioria dos casos, os operários ainda recorriam ao aluguel, mas aos poucos foi se configurando a moradia operária em locais da periferia.
Bairros operários se formaram em locais mais afastados. Famílias de trabalhadores passaram a labutar para adquirir lotes nessas regiões... A situação se tornou complicada também porque a especulação imobiliária cresceu. Longas estradas e avenidas foram abertas e aonde os bondes não chegavam os trajetos passaram a ser completados por ônibus... O sistema de transportes foi alterado conforme a industrialização avançou...
Durante a década de 1940 a população ultrapassou os 2 milhões de habitantes. Neste período observou-se a “auto-construção da moradia”. Os lotes na periferia eram adquiridos sempre com muita dificuldade e os trabalhadores se esforçavam para construir a própria casa... Esse fenômeno resultou na multiplicação dos bairros populares... Os cortiços continuaram a ser alternativa para os que não se dispunham a (ou não tinham condições de) edificar a casa com as próprias mãos.
Em 1960 a população da cidade atingiu os 3,8 milhões de habitantes... O local de residência dos operários se tornava, cada vez mais, distante das fábricas. A demanda por transporte de massa também cresceu e o sistema foi alterado sem preocupações com a qualidade.
As habitações, sempre muito precárias, foram objeto de “sobretrabalho gratuito” das “horas de folga” dos operários... Podemos notar que (também) esse fenômeno perdura até os nossos dias. A “casa própria da periferia” tornou-se a ambição dos trabalhadores fabris e a modalidade de moradia mais significativa do que foram os cortiços no passado... A exploração do trabalho reproduziu condições paupérrimas no cotidiano do proletariado... A “casa própria de periferia” passou a significar, nos dizeres de Kowarick e Clara Ant, mera expressão dessa “pauperização”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/cortico-cem-anos-de-promiscuidade-de_16.html
Um abraço,
Prof.Gilberto

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