Talvez
seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/cortico-cem-anos-de-promiscuidade-de.html antes de ler esta
postagem:
Os preços dos aluguéis das habitações
“unifamiliares”, “dignas”, “higiênicas” e confortáveis eram exorbitantes para
os operários... Além disso, imóveis com essas características eram sempre muito
afastados das fábricas... A equação é simples... Quanto mais distantes
residissem em relação ao local de trabalho, maiores eram os gastos dos
operários com o transporte em bondes... Então, para o operariado, que contava
muitas mulheres e crianças em suas fileiras, sempre havia sido “mais
conveniente” morar nas proximidades das fábricas.
As péssimas condições de
vida e trabalho levaram os trabalhadores ao confronto... Nos conflitos nos
quais foram protagonistas eram tratados como “virulentos”, “contaminadores da pax urbana”... Não foram poucos os
episódios grevistas... Sabemos que o de 1917 representou o principal movimento
social daquele período em que a República ainda engatinhava no país... Kowarick
e Clara Ant destacam que, mais que os sindicatos, as “ligas de bairro”
exerceram importante papel na condução daquele movimento.
O fato é que, uma a uma, as fábricas tiveram de paralisar suas
atividades, pressionadas que foram pelos trabalhadores que moravam em bairros
circunvizinhos. Assim como a classe dominante e as autoridades classificavam os
aglomerados proletários como doenças, “moléstias contagiosas” que precisavam
ser extirpadas, entendiam, da mesma forma, que as agitações políticas
proletárias se tratavam de “epidemias anarquistas”, “focos de desordem”.
O tempo passou e ocorreu a
“desconcentração da moradia operária”. Paulatinamente, ela deixou de ser
localizada apenas em torno dos bairros fabris da cidade... A década de 1930 foi
marcada por um aumento populacional (que ultrapassou 1 milhão de habitantes)...
Na maioria dos casos, os operários ainda recorriam ao aluguel, mas aos poucos
foi se configurando a moradia operária em locais da periferia.
Bairros operários se
formaram em locais mais afastados. Famílias de trabalhadores passaram a labutar
para adquirir lotes nessas regiões... A situação se tornou complicada também
porque a especulação imobiliária cresceu. Longas estradas e avenidas foram
abertas e aonde os bondes não chegavam os trajetos passaram a ser completados
por ônibus... O sistema de transportes foi alterado conforme a industrialização
avançou...
Durante a década de
1940 a população ultrapassou os 2 milhões de habitantes. Neste período
observou-se a “auto-construção da moradia”. Os lotes na periferia eram
adquiridos sempre com muita dificuldade e os trabalhadores se esforçavam para
construir a própria casa... Esse fenômeno resultou na multiplicação dos bairros
populares... Os cortiços continuaram a ser alternativa para os que não se
dispunham a (ou não tinham condições de) edificar a casa com as próprias mãos.
Em 1960 a população da
cidade atingiu os 3,8 milhões de habitantes... O local de residência dos
operários se tornava, cada vez mais, distante das fábricas. A demanda por
transporte de massa também cresceu e o sistema foi alterado sem preocupações
com a qualidade.
As
habitações, sempre muito precárias, foram objeto de “sobretrabalho gratuito”
das “horas de folga” dos operários... Podemos notar que (também) esse fenômeno
perdura até os nossos dias. A “casa própria da periferia” tornou-se a ambição
dos trabalhadores fabris e a modalidade de moradia mais significativa do que
foram os cortiços no passado... A exploração do trabalho reproduziu condições
paupérrimas no cotidiano do proletariado... A “casa própria de periferia”
passou a significar, nos dizeres de Kowarick e Clara Ant, mera expressão dessa “pauperização”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/cortico-cem-anos-de-promiscuidade-de_16.html
Um abraço,
Prof.Gilberto