Então Pampineia propôs que o grupo respeitasse um chefe... E que cada um vivenciasse a chefia “e o carinho do agrado da maioria”. O primeiro chefe seria escolhido pelo grupo... Mas para os demais chefes haveria um processo de escolha determinado pelo “chefe do dia”. E isso quando o entardecer anunciasse o surgimento de Vênus (Vésper), e só então seria anunciado o escolhido. Este deveria esclarecer ao grupo o tempo de duração de sua chefia, o lugar onde acampariam e o modo como viveriam... Daria ordens e concentraria seus esforços para que tudo ocorresse conforme o anunciado.
O grupo escolheu Pampineia para liderar o primeiro dia. Filomena empolgou-se e fez um ornamento (uma grinalda) com flores de loureiro. Esse passaria a ser o símbolo que o líder do grupo ostentaria. Então Pampineia começou a providenciar alguns encaminhamentos. Chamou para perto de si os criados e as criadas que acompanhavam o grupo. Alterações foram anunciadas conforme o seu desejo e todos acataram conforme haviam combinado...

Mais uma vez, rapazes e moças se deram por satisfeitos com as palavras de Pampineia... E não era para menos, já que, exercendo o seu “reinado”, ela tinha todo direito de ditar orientações... Finalizou dizendo que todos poderiam se distrair pelo jardim ou, se quisessem, pelos agradáveis prados. Depois da “terceira hora” deveriam se reunir novamente para a refeição ao ar livre.
Então rapazes e moças iniciaram seus passeios; falavam apenas de coisas agradáveis e cantavam toadas de amor; fizeram grinaldas com ramos de diferentes árvores... Após o término do passeio se reuniram conforme o combinado. Logo notaram que Pampineia havia se esmerado no cumprimento de sua missão... Encontraram mesas com toalhas, pratos, talheres e copos bem limpos... O ambiente estava decorado com flores de giesta... Segundo a recomendação da “rainha”, todos lavaram as mãos e se postaram às mesas... Os pratos e “vinhos de excelente qualidade” foram servidos... Tudo muito agradável e assistido por três criadas... A refeição deu-se em clima cordial e alegre. O ambiente harmonioso se completou com as palavras amistosas que foram trocadas entre os convivas.
Após a refeição, Pampineia ordenou que instrumentos fossem tocados (Dioneio encarregou-se de um alaúde; Fiammetta de um violão)... Todos se puseram a dançar... Os criados tiveram permissão para fazer sua refeição e a “rainha” voltou-se ao bailado com as amigas e amigos. Na sequência prosseguiram com canções suaves. E foi assim que o dia transcorreu na mais perfeita harmonia, até que Pampineia decidiu que era momento de se recolherem aos aposentos. Rapazes e moças apartados alegraram-se ao notarem quartos floridos e limpos.
À “hora nona” Pampineia considerou que já era momento de todos se levantarem... Despertou rapazes e moças com o argumento de que “dormir demais durante o dia não traz benefícios à saúde”... Todos seguiram para um aprazível prado e instalaram-se à grama onde o sol não os pudesse atingir e formaram um círculo. A “rainha” dirigiu-se ao seu grupo se referindo ao intenso calor e ao cantar das cigarras nas oliveiras. Convenceu a todos de que o melhor que tinham a fazer era permanecer por ali mesmo... É verdade que havia tabuleiros de xadrez instalados, mas sugeriu que poderiam aproveitar mais se passassem o resto do dia a ouvir narrativas de cada um dos que participavam do grupo... Poderiam fazer isso até que o sol se pusesse, quando deveriam partir para outras diversões... Mas Pampineia fez questão de colocar sua ideia para a apreciação de todos.
Novamente houve aprovação unânime e a chefe do dia disse que cada um teria a liberdade de narrar o que lhe fosse do agrado... Dirigindo-se a Pânfilo, que estava à sua direita, Pampineia solicitou que ele narrasse a sua novela. Então, com atenção, todos se voltaram para ele.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio_2.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto