Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_31.html antes de ler esta postagem:
O intérprete anunciou que havia outro sentenciado encarcerado...
Depois voltou-se novamente ao escriba e trocou algumas palavras com ele... Alguns papiros e registros de regras foram manipulados. A audiência manteve-se atenta à movimentação desses atores...
Sareias permaneceu em oração... Eventualmente sacudia a ponta de seu manto que cobria-lhe o turbante... Com as mãos ainda abertas e elevadas, sua figura não escapava à atenção do pretor.
O intérprete retomou sua falação dizendo que um dos condenados era o Rabi Jeschoua, que estava ali à frente de todos e se dizia “filho de Davi”... E todos ficaram sabendo que o pretor sugeria a sua libertação... Ele acrescentou que o outro preso era um tipo “endurecido no mal”, que havia assassinado um legionário de modo traiçoeiro “numa rixa, ao pé do Xisto”... Este se chamava Barrabás.
Depois desse esclarecimento, abriu-se a consulta à multidão reunida no átrio. As pessoas já se mostravam impacientes... A quem concederiam o perdão?
(...)
No mesmo instante ouviu-se
um grito desesperado em defesa do criminoso Barrabás... Na sequência esse nome
foi repetido diversas vezes... Aos poucos fez-se uníssono.
Um
escravo do templo ousou subir os degraus e aproximou-se de Pilatos... Com
gestos furiosos, gritou que o povo queria que Barrabás fosse libertado. Um
legionário teve de entrar em ação e só então o abusado saiu de cena, rolando
para o local de onde havia saído.
Os fariseus eram os
mais furiosos... Organizados, batiam as sandálias e seus cajados de ferro no
piso para intimidar o pretor... Os “vendilhões do templo” sacudiam seus artigos,
balanças e sinetas e outros instrumentos... Esses também gritavam palavras ofensivas
contra o Rabi e, mesmo sem maiores embasamentos, vociferavam que “Barrabás era
o melhor”... Prostitutas de Tiberíade juntaram-se ao coro em defesa do encarcerado
que havia assassinado um soldado.
(...)
Nem se pode dizer que
todos os presentes odiassem o Rabi ou que tivessem motivos para desejar a Sua
morte. Mas o tumulto os empolgava de tal modo que acabaram se somando às vozes
que pretendiam a Sua crucificação.
Evidentemente a opção
da assembleia afrontava o pretor... Mas este permaneceu indiferente em sua
cadeira... Acomodou um pergaminho sobre os joelhos e fez alguns registros.
(...)
"Barrabás! Barrabás! Barrabás!”...
Eram os gritos que se ouviam por toda parte.
Jesus permaneceu em silêncio... Os registros de
Teodorico dão conta de que houve apenas um momento em que Ele voltou Seu olhar
úmido para a multidão que O condenava... Seus lábios tremiam... Com dificuldade
levou as mãos amarradas ao rosto para limpar uma gota de suor. Talvez nesse
momento revelasse “uma mágoa misericordiosa pela opaca inconsciência dos homens”
que O conduziam à morte.
Com violência, o
escriba bateu uma régua de ferro na pedra da mesa... Pronunciou o nome do
imperador três vezes e aos poucos a multidão se aquietou. Pilatos levantou-se
com dignidade, sem manifestar ansiedade, cólera ou impaciência, levantou a mão
e exclamou que podiam conduzir o condenado à crucificação.
(...)
Enquanto o pretor se retirava, a multidão aplaudia... A autoridade reconheceu
e atendeu ao anseio popular e também isso era motivo de comemoração.
Oito
legionários apareceram devidamente paramentados, revestidos de lona e com seus
magníficos escudos. O triunfante Sareias tocou no ombro de Jesus, entregando-o ao
decurião... Um dos soldados folgou a corda de Suas mãos... Outro tirou o capuz
que cobria Sua cabeça.
(...)
O Rabi da Galileia
foi conduzido pelos algozes...
Topsius e Teodorico
enrolavam cigarros quando viram a triste cena.
O alemão conhecia uma
passagem que os retirou do palácio de Herodes... No caminho, Teodorico notou
uns cárceres onde escravos cantavam tristemente.
Caminharam até
chegarem a um vasto terreiro... Um muro o separava de um jardim com
ciprestes...
A
um canto, dois dromedários ruminavam deitados junto a um amontoado de capim.
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto