segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – o intérprete anunciou o nome de Barrabás à multidão; tensão e pressão em favor da condenação de Jesus; Topsius e Teodorico deixam o palácio de Herodes

Um bom ano a todos.

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_31.html antes de ler esta postagem:

O intérprete anunciou que havia outro sentenciado encarcerado...
Depois voltou-se novamente ao escriba e trocou algumas palavras com ele... Alguns papiros e registros de regras foram manipulados. A audiência manteve-se atenta à movimentação desses atores...
Sareias permaneceu em oração... Eventualmente sacudia a ponta de seu manto que cobria-lhe o turbante... Com as mãos ainda abertas e elevadas, sua figura não escapava à atenção do pretor.
O intérprete retomou sua falação dizendo que um dos condenados era o Rabi Jeschoua, que estava ali à frente de todos e se dizia “filho de Davi”... E todos ficaram sabendo que o pretor sugeria a sua libertação... Ele acrescentou que o outro preso era um tipo “endurecido no mal”, que havia assassinado um legionário de modo traiçoeiro “numa rixa, ao pé do Xisto”... Este se chamava Barrabás.
Depois desse esclarecimento, abriu-se a consulta à multidão reunida no átrio. As pessoas já se mostravam impacientes... A quem concederiam o perdão?
(...)
No mesmo instante ouviu-se um grito desesperado em defesa do criminoso Barrabás... Na sequência esse nome foi repetido diversas vezes... Aos poucos fez-se uníssono.
Um escravo do templo ousou subir os degraus e aproximou-se de Pilatos... Com gestos furiosos, gritou que o povo queria que Barrabás fosse libertado. Um legionário teve de entrar em ação e só então o abusado saiu de cena, rolando para o local de onde havia saído.
Os fariseus eram os mais furiosos... Organizados, batiam as sandálias e seus cajados de ferro no piso para intimidar o pretor... Os “vendilhões do templo” sacudiam seus artigos, balanças e sinetas e outros instrumentos... Esses também gritavam palavras ofensivas contra o Rabi e, mesmo sem maiores embasamentos, vociferavam que “Barrabás era o melhor”... Prostitutas de Tiberíade juntaram-se ao coro em defesa do encarcerado que havia assassinado um soldado.
(...)
Nem se pode dizer que todos os presentes odiassem o Rabi ou que tivessem motivos para desejar a Sua morte. Mas o tumulto os empolgava de tal modo que acabaram se somando às vozes que pretendiam a Sua crucificação.
Evidentemente a opção da assembleia afrontava o pretor... Mas este permaneceu indiferente em sua cadeira... Acomodou um pergaminho sobre os joelhos e fez alguns registros.
(...)
"Barrabás! Barrabás! Barrabás!”...
Eram os gritos que se ouviam por toda parte.
Jesus permaneceu em silêncio... Os registros de Teodorico dão conta de que houve apenas um momento em que Ele voltou Seu olhar úmido para a multidão que O condenava... Seus lábios tremiam... Com dificuldade levou as mãos amarradas ao rosto para limpar uma gota de suor. Talvez nesse momento revelasse “uma mágoa misericordiosa pela opaca inconsciência dos homens” que O conduziam à morte.
Com violência, o escriba bateu uma régua de ferro na pedra da mesa... Pronunciou o nome do imperador três vezes e aos poucos a multidão se aquietou. Pilatos levantou-se com dignidade, sem manifestar ansiedade, cólera ou impaciência, levantou a mão e exclamou que podiam conduzir o condenado à crucificação.
(...)
Enquanto o pretor se retirava, a multidão aplaudia... A autoridade reconheceu e atendeu ao anseio popular e também isso era motivo de comemoração.
Oito legionários apareceram devidamente paramentados, revestidos de lona e com seus magníficos escudos. O triunfante Sareias tocou no ombro de Jesus, entregando-o ao decurião... Um dos soldados folgou a corda de Suas mãos... Outro tirou o capuz que cobria Sua cabeça.
(...)
O Rabi da Galileia foi conduzido pelos algozes...
Topsius e Teodorico enrolavam cigarros quando viram a triste cena.
O alemão conhecia uma passagem que os retirou do palácio de Herodes... No caminho, Teodorico notou uns cárceres onde escravos cantavam tristemente.
Caminharam até chegarem a um vasto terreiro... Um muro o separava de um jardim com ciprestes...
A um canto, dois dromedários ruminavam deitados junto a um amontoado de capim.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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