O ortodoxo doutor Eliézer é personagem interessantíssima.
As falas desse “doutor do templo” contribuíram significativamente para a construção de um entendimento mais amplo a respeito do cotidiano do lugar mais sagrado para os judeus (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_7.html).
E não é só isso... A sua conversa com Topsius destacou uma curiosa interpretação a respeito do planeta “plano como um disco”, no qual Israel ocuparia “posição central”... E há também a complexa “composição sólida” do céu (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_15.html).
Teodorico lhe dissera que estivera no caminho do Garebe para acompanhar a execução de Jesus da Galileia, o Messias condenado pelo Sanedrim... Eliézer de Silo havia lhe sugerido um passeio a Siloé, muito mais agradável do que o percurso dos condenados à morte na cruz... Disse que não ouvira falar a respeito da “aparição do Messias” e que o Rabi da Galileia certamente não era o Messias.
(...)
O velho “doutor do
templo e físico do Sanedrim” explicou mais a respeito do aguardado Messias...
Contou que ele devia se chamar Manahem, “o consolador”... É que ele “traria a
consolação a Israel”.
Disse
ainda que haveriam dois Messias... Emendou que o primeiro sairia “da tribo de
José” e não triunfaria porque seria derrotado por Gogue. O segundo descenderia
de Davi e graças à sua força venceria Magogue*.
Ainda a respeito do
segundo Messias, Eliézer de Silo contou que alguns sinais anunciariam a sua
chegada... Antes que ele nascesse haveria “sete anos de maravilhas” marcados
por “mares evaporados, estrelas despregadas do céu, fomes e tais farturas que
até as rochas dariam fruto”... Especificamente no último ano haveria conflitos
sangrentos entre as nações. Todos saberiam da chegada do Messias porque uma voz
estrondosa a anunciaria a todas as gentes... Ele viria sobre o Hebron com sua
espada de fogo.
* Gogue e Magogue são citados nos textos sagrados (Genesis, Ezequiel).
De modo simplificado, Gogue era um líder político e militar dos que descendiam
de Magogue. Esses eram inimigos do povo eleito. Os nomes se repetem no
Apocalipse de João, mas em contexto diferente. Aí, em conflitos de fim dos
tempos, o demônio reuniria todas as forças possíveis para a batalha final
contra Deus. Evidentemente a fundamentação do velho Eliézer não pode ser essa
última (que faz referência ao “anticristo”).
(...)
Eliézer de Silo contou
o que sabia a respeito da vinda do “verdadeiro Messias” e deu um suspiro...
Enquanto saboreava um figo, manifestou em tom de lamento que nenhuma das
“maravilhas” sobre essa esperada vinda parecia anunciar qualquer “consolação”.
No sonho, Teodorico passou
contar sobre a “vida de Cristo” ao velho doutor. Falou desde o Seu nascimento e
destacou a “vida pública” na Galileia, Seus feitos milagrosos e o anúncio do
reino do céu. Depois deixou claro que Sua existência e “modo de ser” contrariou
os poderosos (império romano, sacerdotes do templo e os mais ricos da Judeia) e
por isso O crucificaram.
A narrativa foi emocionante e neste ponto vemos que o Teodorico do sonho
nos remete àquele que fez os registros.
(...)
O velho Eliézer ouviu tudo sem demonstrar muito interesse... Permaneceu comendo
dos figos e por fim sentenciou que “o Sanedrim é misericordioso”. Disse que
fazia sete anos que servia o tribunal e que neste período apenas três processos
resultaram em condenações à morte. Ele deu a entender que não concordava com a
punição máxima.
Depois esclareceu que o país precisava mesmo de “palavras
de amor e justiça”, todavia “inovadores e profetas” vinham trazendo muitos
problemas e sofrimento ao povo.
Como que a colocar um
ponto final no assunto, disse que os figos que estava comendo não eram como os
que cultivava em Silo.
Teodorico
calou-se e enrolou um cigarro.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_24.html
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto