quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – Gade acusa um tipo de ter sido curado pelo Rabi da Galileia e depois pedir Sua crucificação no átrio do Pretório; “rito sumário”; o pretor liberou o corpo do Rabi a José de Ramata; “vão é aquele que admira pedras”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da.html antes de ler esta postagem:

Topsius e Teodorico se encaminhavam para o templo...
Pararam quando se aproximaram das ruínas de uma arco coberto de hera... Algumas pessoas se aglomeravam para prestar atenção aos movimentos e palavras de um essênio muito irritado.
O alemão logo reconheceu Gade vociferando irritado contra um tipo magro que tinha duas argolas douradas nas orelhas... O homem de barba rala e ruiva tremia enquanto se esforçava para negar a acusação do essênio.
(...)
Em síntese, Gade queria mostrar que conhecia o tipo e que ele se recusava a confirmar que havia sido curado por Jesus... Disse que sabia que a sua mãe era cardadeira em Cafarnaum. No mesmo instante o outro recuou e, como se estivesse fazendo uma correção, garantiu que se chamava Refraim, e que era filho de Eliézer, da localidade de Ramá...
Emendou que todos sabiam que sempre fora “são e forte como a palmeira nova”. Gade amaldiçoou a mãe que amamentara aquele mentiroso... Depois insistiu que outrora o tipo não passava de um inútil e que não passava de um “torto ramo infrutífero”, um “cão e filho de um cão”.
(...)
Gade gritou que o vira em Cafarnaum, numa viela onde havia uma fonte, junto à sinagoga... Acusou o tipo de ter se aproximado do Rabi de Nazaré... Atirou-se aos Seus pés, enchendo de beijos as Suas sandálias, e pedindo encarecidamente que o curasse... E por quê? Porque sua mão direita era de uma “negra secura” que o impedia a realizar qualquer tarefa.
O essênio revelou aos berros que a ocasião fora das mais temerárias porque estavam em pleno sabá... Os chefes da sinagoga e mais Élzear e Simeão presenciaram tudo! As autoridades religiosas prestaram atenção nos gestos do Rabi, pois queriam conferir se Ele “ousaria curar no dia do Senhor”. Todos viram que o tipo rolava no chão como um desgraçado...
O Rabi não o repeliu ou indicou-lhe a raiz do baraz como tratamento... Pelo contrário, orientou-o a estender-Lhe a mão apodrecida. E Foi só tocá-la para que todos a vissem renovada como que “regada pelo orvalho do céu”.
Sem disfarçar emoção, Gade disse que o milagre havia acontecido... O tipo pôde movimentar os dedos para o espanto dele próprio e de todos que estavam presentes.
(...)
Neste ponto de sua narrativa, o essênio que Topsius e Teodorico haviam conhecido na grande casa de Gamaliel lançou os braços para o ar... Depois arrematou para todos os que o ouviam que a caridade do Rabi de fato havia curado o tipo.
Então voltou-se ao seu acusado e perguntou se Ele lhe estendera a ponta do manto para receber qualquer moeda... O próprio Gade respondeu que não.
(...)
A irritação de Gade era por conta de ter visto aquele tipo no pretório juntar sua voz aos demais que pediam a libertação de Barrabás e a crucificação de Jesus. Mas não era aquela uma atitude comparável à dos porcos?
Seu discurso inflamado tornou-se perigoso para o pobre de barba rala e ruiva... Alguns dos que ouviam se mostraram escandalizados e atacaram com gritos de “maldito!” Um velho foi o primeiro a abaixar-se para pegar duas pontudas pedras... O tipo acusado por Gade de ser “o ingrato de Cafarnaum” percebeu que sua situação tornava-se dramática... Sussurrou que era de Ramá e que nada tinha a ver com os episódios narrados.
O essênio ainda mais se enfureceu e agarrou o seu acusado pelas barbas. E para que não pairassem dúvidas, anunciou que por baixo da manga da túnica nova daquele tipo havia um braço marcado por duas cicatrizes provavelmente resultantes de golpes de foice. Na sequência rasgou o tecido para evidenciar o que acabara de denunciar.
Todos viram o que Gade antecipara, pois ele mesmo cuidou de agarrar o tipo pelo braço para arrastá-lo por entre as pessoas.
(...)
Rito Sumário...
Gade lançou o seu acusado à turba, que o perseguiu com gritaria e pedradas.
Topsius e Teodorico se aproximaram do conhecido... Sorriram e elogiaram sua fidelidade e convicção em Jesus.
Mais calmo, o essênio estendeu as mãos para um vendedor de água que acompanhara o desenrolar das ações que haviam atraído as pessoas àquela localidade... Refrescou-se o quanto pôde, limpou as mãos numa toalha de linho que trazia à cintura e anunciou que certo José de Ramata reivindicara o corpo do Rabi. Disse ainda que o pretor concedera-lhe o pedido.
(...)
Ele parecia apressado... Explicou que podiam se encontrar no pátio da casa de Gamaliel “à nona hora romana” (15:00 horas)... Perguntou para onde os dois estrangeiros se encaminhavam... Topsius respondeu que estavam a caminho do templo.
Então Gade cobriu a cabeça com o capuz e, antes que saísse apressado em meio às pessoas que nutriam respeito pelos essênios, pronunciou que “Vão é aquele que admira pedras!”
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_4.html
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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