domingo, 7 de janeiro de 2018

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – a bênção da sexta hora no “pátio das mulheres”; um pouco do ritual, incensos, salmos, trompas e liras levitas; o Raposo descreve as “filhas de Sião”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_7.html antes de ler esta postagem:

No momento em que entraram no “Pátio das Mulheres”, um velho sacerdote finalizava as bênçãos da “sexta hora” desde o alto da porta de Nicanor.
A citada porta era toda de bronze... Como estava entreaberta, Teodorico pôde notar o grande acumulado de ouro e pedras branquíssimas de um santuário... Os degraus que conduziam até ela eram lustrosos e neles ajoelhavam-se levitas com vestes brancas... Eles portavam trompas e liras.
O velho carregava o incensador de ouro enquanto descia os degraus vagarosamente... Vestia uma túnica bem ajustada e marcada por esmeraldas em forma de pinha e por pequenos guizos na extremidade. Caminhava descalço e seus pés estavam tingidos... Uma faixa com um grande sol bordado a ouro o envolvia na altura das costelas.
(...)
Os devotos permaneceram ajoelhados e em silêncio... Suas cabeças cobertas pareciam coladas ao piso... Os mantos e véus que os cobriam traziam as cores dos corais da Fenícia e o da folhagem das figueiras... Na analogia que fez, Teodorico imaginou um triunfante Salomão passando por entre flores e folhagens.
O velho manteve o olhar fixo no alto enquanto incensou o lado que dava para os desertos do Oriente, e depois para as bandas do mar. O silêncio era tal que até mugidos de gado desde o fundo do santuário podiam ser ouvidos.
Todos os presentes entendiam que a fumaça branca que se levantava trazia a bênção do “Muito-Forte” a Israel... Os levitas acionaram seus instrumentos e logo todos se ergueram elevando os braços ao céu e entoando um salmo em honra da “eternidade de Judá”.
O momento solene se encerrou sem grandes alardes... Sequer foi possível perceber a saída dos levitas e seus instrumentos...
(...)
Gamaliel e Eliézer de Silo retiraram-se por um dos pórticos...
Às portas das várias câmaras onde ocorriam rituais, consagrações e purificações, passaram bandejas com toda qualidade de frutos e flores da Ásia...
Peças de bronze localizavam-se entre as colunas... Junto a elas estavam umas inscrições em ouro que orientavam os fiéis à queima de incensos e nardos, e também às oferendas (de pombas e rolas).
(...)
Enquanto Topsius observava com atenção os lustrosos revestimentos que refletiam sua capa, Teodorico notava que o grande pátio ficara repleto de mulheres.
E foi às “filhas de Jerusalém” que o rapaz dedicou sua atenção... Achou que eram “cheias de graça e morenas como as tendas do Cedar” e que muitas tinham a pele clara e os olhos negros evidenciados pela “tintura de cipro” nos cílios...
Em geral traziam os rostos descobertos... Uma ou outra usava véus finos e transparentes. E é por isso que ele pôde conferir tantos detalhes.
Teodorico registrou muito mais a respeito das israelenses avistadas no templo... Escreveu sobre seus cabelos e aspectos físicos enfatizando as joias em ouro e pedrarias que ostentavam... Destacou a graciosidade de seus movimentos “ondulados e graves”... Nem mesmo as sandálias que traziam guizos e correntes escaparam de sua observação!
(...)
A leitura do trecho revela que o Teodorico do sonho jamais desistiu das possibilidades de se aventurar com as mulheres... Não é por acaso que suas palavras destacam a sensualidade elas que despertavam em sua alma.
Ele descreve os tecidos de roupas bordadas, os mais finos linhos coloridos e o algodão da Galácia, além do ardente perfume que delas exalavam. Explica que pôde distinguir as mais ricas, pois essas caminhavam entre escravas vestidas em panos amarelos... Essas serviçais carregavam o guarda-sol feito de penas de pavão, sacos com tâmaras doces, rolos com textos da lei e espelhos de prata.
Já as mais pobres trajavam camisas simples de “algodão de riscadinho multicor” e traziam os braços descobertos... O máximo que ostentavam era um “talismã de coral” bem rudimentar...
(...)
Ele mesmo salienta que todas aquelas mulheres despertavam-lhe desejo...
Não por acaso chamou a atenção do companheiro alemão dizendo-lhe que estava “para estourar”. Topsius desdenhou e observou que nenhuma delas possuía “mais intelectualidade que os pavões dos jardins de Antipas” ou conhecia textos de “Aristóteles ou Sófocles”...
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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