No momento em que entraram no “Pátio das Mulheres”, um velho sacerdote finalizava as bênçãos da “sexta hora” desde o alto da porta de Nicanor.
A citada porta era toda de bronze... Como estava entreaberta, Teodorico pôde notar o grande acumulado de ouro e pedras branquíssimas de um santuário... Os degraus que conduziam até ela eram lustrosos e neles ajoelhavam-se levitas com vestes brancas... Eles portavam trompas e liras.
O velho carregava o incensador de ouro enquanto descia os degraus vagarosamente... Vestia uma túnica bem ajustada e marcada por esmeraldas em forma de pinha e por pequenos guizos na extremidade. Caminhava descalço e seus pés estavam tingidos... Uma faixa com um grande sol bordado a ouro o envolvia na altura das costelas.
(...)
Os
devotos permaneceram ajoelhados e em silêncio... Suas cabeças cobertas pareciam
coladas ao piso... Os mantos e véus que os cobriam traziam as cores dos corais da
Fenícia e o da folhagem das figueiras... Na analogia que fez, Teodorico
imaginou um triunfante Salomão passando por entre flores e folhagens.
O velho manteve o
olhar fixo no alto enquanto incensou o lado que dava para os desertos do Oriente,
e depois para as bandas do mar. O silêncio era tal que até mugidos de gado
desde o fundo do santuário podiam ser ouvidos.
Todos
os presentes entendiam que a fumaça branca que se levantava trazia a bênção do “Muito-Forte”
a Israel... Os levitas acionaram seus instrumentos e logo todos se ergueram
elevando os braços ao céu e entoando um salmo em honra da “eternidade de Judá”.
O momento solene se
encerrou sem grandes alardes... Sequer foi possível perceber a saída dos
levitas e seus instrumentos...
(...)
Gamaliel e Eliézer de
Silo retiraram-se por um dos pórticos...
Às portas das várias
câmaras onde ocorriam rituais, consagrações e purificações, passaram bandejas
com toda qualidade de frutos e flores da Ásia...
Peças de bronze localizavam-se
entre as colunas... Junto a elas estavam umas inscrições em ouro que orientavam
os fiéis à queima de incensos e nardos, e também às oferendas (de pombas e
rolas).
(...)
Enquanto Topsius observava com atenção os lustrosos revestimentos que
refletiam sua capa, Teodorico notava que o grande pátio ficara repleto de
mulheres.
E foi às “filhas de Jerusalém” que o rapaz dedicou sua atenção... Achou
que eram “cheias de graça e morenas como as tendas do Cedar” e que muitas
tinham a pele clara e os olhos negros evidenciados pela “tintura de cipro” nos
cílios...
Em geral traziam os rostos descobertos... Uma ou
outra usava véus finos e transparentes. E é por isso que ele pôde conferir
tantos detalhes.
Teodorico registrou muito
mais a respeito das israelenses avistadas no templo... Escreveu sobre seus
cabelos e aspectos físicos enfatizando as joias em ouro e pedrarias que
ostentavam... Destacou a graciosidade de seus movimentos “ondulados e graves”...
Nem mesmo as sandálias que traziam guizos e correntes escaparam de sua observação!
(...)
A leitura do trecho revela que o Teodorico do sonho jamais desistiu das
possibilidades de se aventurar com as mulheres... Não é por acaso que suas
palavras destacam a sensualidade elas que despertavam em sua alma.
Ele
descreve os tecidos de roupas bordadas, os mais finos linhos coloridos e o
algodão da Galácia, além do ardente perfume que delas exalavam. Explica que pôde
distinguir as mais ricas, pois essas caminhavam entre escravas vestidas em panos
amarelos... Essas serviçais carregavam o guarda-sol feito de penas de pavão,
sacos com tâmaras doces, rolos com textos da lei e espelhos de prata.
Já as mais pobres
trajavam camisas simples de “algodão de riscadinho multicor” e traziam os
braços descobertos... O máximo que ostentavam era um “talismã de coral” bem
rudimentar...
(...)
Ele mesmo salienta
que todas aquelas mulheres despertavam-lhe desejo...
Não
por acaso chamou a atenção do companheiro alemão dizendo-lhe que estava “para
estourar”. Topsius desdenhou e observou que nenhuma delas possuía “mais intelectualidade
que os pavões dos jardins de Antipas” ou conhecia textos de “Aristóteles ou
Sófocles”...
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto