Diversos sites (https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Rel%C3%ADquia e outros) destacam a importância de “Vida de Jesus”, de Ernest Renan, e “Memórias de Judas”, de Ferdinando Petruccelli dela Gattina para a produção textual de Eça de Queiroz no citado capítulo. Para alguns, o autor plagiou a produção de Petruccelli.
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Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_28.html antes de ler esta postagem:
Topsius e Teodorico deixaram Jericó num ensolarado domingo... Seguiram pelo Vale de Querite tendo a Galileia como destino...
Os bons cristãos que chegassem à Terra Santa não perderiam a oportunidade de mais esta romagem. Teodorico não se sentia animado. Nenhuma emoção o motivava a percorrer mais esses “e ermos caminhos da Síria”.
O fato é que manteve-se indiferente ao “país de Efraim e de Zebelon” e logo cansou-se das paisagens.
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Acamparam
em Betel assim que a noite caiu... A lua cheia que surgiu atrás dos montes de
Gileade convidava à proza e à conversa sobre antigas histórias. O guia Pote foi
logo indicando o solo sagrado onde o patriarca Jacó tivera o espetacular sonho
da “escada que faiscava” desde o chão até as estrelas, e que era utilizada por
anjos de “asas fechadas”.
Maravilhado, o rapaz
dizia que as entidades celestiais subiam e desciam... Teodorico apenas bocejou
e disse que aquilo tinha “o seu chic”... A sua reação exemplifica bem o que foi
o resto da viagem pela “terra dos prodígios”... Nada chamava a sua atenção! As
ruínas pouco lhe diziam... Até mesmo o “poço de Jacó”, sítio dos mais
concorridos pelos peregrinos, o enfastiou.
À sua volta todos
sabiam que aquelas eram as mesmas pedras onde um dia Jesus se sentou e saciou a
sede “bebendo do cântaro de uma samaritana”... Também Teodorico, cansado da
calma daquelas estradas, podia acomodar-se nelas e beber da mesma água.
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Tudo entediava...
O
fato de saber que certos monumentos estavam impregnados da história
bíblica parecia piorar a sua condição...
Teodorico queixou-se, por exemplo, da ocasião em que passou a noite numa cela
de mosteiro tendo ao fundo “os cedros que abrigaram Elias” e “as ondas,
vassalas de Hirão, Rei de Tiro”.
Mesmo quando galopou
pela planície de Esdrelon ou remou no Lago de Genesaré sentiu-se massacrado
pelo tédio.
Mas eventualmente o rapaz sentia um aperto diferenciado no coração...
Era como que uma “saudade fina e gostosa” do tempo antigo, “vivido” no sonho.
Ao fumar diante das tendas, ou a cavalgar solitariamente pelos córregos secos,
pensava na “terma romana, onde uma criatura maravilhosa de mitra amarela se
ofertava, lasciva e pontifical”... Isso o agradava.
Isso e tudo o mais! A casa de Gamaliel, onde o belo Manassés manifestou toda
a sua disposição para a luta ao levar a mão à rica espada cravejada de pedras
preciosas; os mercadores no templo e suas diversas negociações; “a sentença do
Rabi com um traço vermelho, num pilar de pedra, à porta Judiciária”; a gente
local e a gente estrangeira... Tudo isso parecia chamá-lo de volta.
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Ele mesmo achava graça... Evidentemente não
podia ser... Abandonar a sua condição de bacharel e o conforto de seu tempo em
troca da “bárbara Jerusalém”? Exatamente por causa do disparate da ideia, o
saudosismo logo se esmorecia...
Ao
notar-se “diante das ruínas do Monte Ebal, ou sob os pomares que perfumam
Siquém (o vale onde no passado foi erguida a cidade levita de mesmo nome)”,
voltava a se sentir enfastiado.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_31.html
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto