Como se viu, o longo e conturbado sonho* de Teodorico reservou-nos uma versão conturbadora a respeito dos episódios que se seguiram à crucificação de Cristo...
A polêmica que a envolve só pode ser inaceitável pelos cristãos, e torna “A Relíquia” um dos romances mais controversos.
* acesse desde http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_32.html / http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_20.html para conferir o polêmico sonho.
(...)
A “viagem
ao passado de mil e oitocentos anos” chegou ao fim...
Topsius conduziu
Teodorico às carreiras pela “praça rodeada de pálidos arcos”... E foi como se
tudo começasse a se desmanchar...

A pleno galope
passaram pela Porta de Ouro enquanto ouviam o estrondo de pedras que se descolavam
das estruturas...
Pegaram a estrada de
Siquém no rumo de Jericó... Estavam perturbados e sequer tinham certeza de que
os cavalos pisassem as lajes de basalto do caminho. As colinas que constituíam
as paisagens pareciam “correr no sentido oposto” e lembravam “dorsos de camelos
na debandada de um povo”.
À sua frente,
Teodorico notava a agitação da capa de Topsius “por uma rajada furiosa”... O
rapaz agarrou-se às crinas de sua égua, que seguia esbaforida e dardejando “jatos
de fumo avermelhado” pelas narinas.
Depois de algum tempo,
avistaram a planície avizinhada pelas serras de Moabe. O acampamento que haviam
deixado desde que partiram para Jerusalém surgiu e logo os cavalos estacaram.
(...)
Da fogueira, restara somente algumas “brasas dormentes”.
Chegaram à tenda e encontraram apenas um resto de pavio com tímida chama.
O toco era o que restara da vela que Topsius havia acendido para se vestir.
Exausto, Teodorico atirou-se sobre o precário colchão...
Sequer tirou as botas empoeiradas.
Não demorou e ele
sentiu que a tenda estava sendo invadida por estupenda luminosidade... Pensou
mesmo que fosse alguém com uma fumegante tocha de radiante luz dourada...
(...)
Enfim, o despertar...
Teodorico
arregalou os olhos e levantou-se... Então entendeu que a luz provinha dos raios
de sol desde os montes de Moabe. O astro já banhava o acampamento, e o alegre
Pote chegava para despertá-lo...
O rapaz trazia suas
botas!
Para melhor conferir o que se passava, Teodorico afastou os cabelos que
cobriam seus olhos e viu sobre a mesa as várias garrafas esvaziadas na noite
anterior... Aos poucos recordou-se que haviam brindado “à ciência e à religião”...
Viu
que à sua cabeceira estava o embrulho com a coroa de espinhos... No outro catre
estava Topsius “com um lenço amarrado na testa”. Certamente a bebedeira da noite
anterior resultara em dores de cabeça. O alemão ajeitava os óculos de aros dourados
e bocejava.
Pote achava graça da
preguiça dos dois estrangeiros... Ao notar que estavam satisfatoriamente
despertos, perguntou-lhes se desejavam “tapioca ou café” para iniciarem o
dia...
Teodorico
suspirou e, bastante aliviado por se perceber novamente em sua individualidade
de “criatura do final do século XIX”, pulou sobre o colchão e manifestou que
desejava uma “tapioca bem docinha” e macia tal como as de sua terra natal.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_30.html
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto