Talvez seja
interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_21.html antes de ler esta postagem:
Tertuliano o levou
para a sala... Antônio olhou ao redor e acomodou-se na cadeira estofado...
Percebeu que o ambiente servia também de escritório para o seu “igual”...
Retirou a barba e começou a imaginar sobre a primeira vez que o professor o
vira em ação no “Quem Porfia Mata Caça”... Teria sido naquela poltrona?
O professor não tinha interesse em dar satisfações... Permaneceu de pé e
com a fisionomia fechada anunciou que era melhor o tipo dizer logo o que
pretendia... Antônio deu a entender que ele devia se sentar também...
Sem demonstrar pressa,
avaliou que chegara num mau momento, pois o ambiente, a máquina de escrever e
os papéis espalhados pela escrivaninha davam a entender que ele estava
trabalhando. Depois acrescentou que o que tinha a dizer tinha certa urgência. E
é por isso que não pôde entrar em contato para combinar a melhor ocasião.
Mas então, o que o levava a arriscar-se indo à casa do
outro? O ator repetiu que o assunto tinha a ver com a Maria da Paz. Depois
retirou do bolso a cópia da carta de Tertuliano à produtora. Como sabemos, ele a
conseguiu através dos préstimos da funcionária.
Antônio Claro lembrou que o próprio Tertuliano dissera-lhe a respeito...
Mas acrescentou que ele não lhe revelara que o documento havia sido assinado
por sua amiga.
Tertuliano pegou o papel... Verificou que se tratava
mesmo de uma cópia a partir do texto que havia produzido... Quis saber como
aquilo chegara às mãos de Antônio. Este respondeu que teve trabalho para obtê-lo...
Esclareceu que no começo era movido pela vaidade, pois queria ler as
considerações sobre o seu trabalho... Essas coisas.
O professor o interrompeu dizendo que pretendia apenas conhecer a
verdadeira identidade de Daniel Santa-Clara. Antônio Claro concordou que o
outro obtivera êxito em seu intento... Tertuliano, porém, lamentou o resultado
de sua iniciativa e observou que seria melhor não o terem respondido.
Antônio observou que não adiantava reclamar... Era tarde demais para
lamentar, pois a “caixa de Pandora” estava aberta. O professor a abrira e,
portanto, devia “aguentar as consequências”.
Tertuliano discordou... Não tinha de suportar nada porque tudo havia
sido esclarecido entre os dois... O assunto estava “morto e enterrado”. Antônio
redarguiu... Disse que o outro até podia pensar daquela maneira, mas havia a
assinatura de Maria de Paz...
Tertuliano explicou que a chamara para subscrever porque queria se
manter incógnito. Antônio quis saber o motivo...
A resposta do professor foi
no mínimo infeliz... Ele disse que “queria se manter na sombra até o último
momento” e aparecer de surpresa... Então Antônio Claro protestou argumentando
que sua esposa, Helena, estava passando muito mal por causa de toda aquela
história... Vivia a tomar tranquilizantes para esquecer que na mesma cidade vivia
um tipo idêntico ao marido.
Como que a se desculpar,
Tertuliano disse que não tinha a menor ideia de que o outro fosse casado...
Antônio respondeu que era só ele se colocar em seu lugar... E o provocou pedindo
para imaginar se ele fosse à Maria da Paz dizer-lhe que se tratava de um tipo
idêntico ao Tertuliano, iguais em tudo, “até no tamanho do pênis”.
O tipo completou
garantindo que a moça ficaria chocada. Tertuliano se assustou e esbravejou que
o proibia terminantemente de dizer qualquer coisa à sua da Paz. Antônio
pediu-lhe que mantivesse a calma porque não dissera e nada diria à outra.
Aquelas palavras revelavam muito... Mesmo assim Tertuliano quis saber o
que ele estava afirmando ao dizer que “nada diria”... Exigiu que Antônio
respondesse logo.
O ator manteve-se calmo e
respondeu que Tertuliano devia guardar sua fúria e violência para depois...
Garantiu que possuía técnica de karatê suficiente para derrubá-lo, e que não
era porque fossem semelhantes em tudo que o seriam também na força.
Irritado, Tertuliano exigiu que o tipo se fosse
imediatamente, pois estava disposto a chamar a polícia. Antônio ironizou ao
dizer que ele podia chamar também as televisões, fotógrafos e repórteres dos
jornais... Assim o escândalo se tornaria mundial.
Tertuliano explicou que aquilo só traria prejuízos à sua carreira no
cinema, então era melhor esquecerem-se da história toda... Antônio disse que
pouca gente se importaria com o ocaso de um artista secundário...
Quanto a “esquecerem-se”,
explicou que era algo para começarem a processar mais tarde...
Talvez umas vinte e quatro horas mais tarde.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_23.html
Leia: O
Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto