segunda-feira, 21 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – Antônio trouxe a cópia da carta; Tertuliano se enfurece ao vê-lo falar a respeito de Maria; ainda não é momento de esquecer

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_21.html antes de ler esta postagem:

Tertuliano o levou para a sala... Antônio olhou ao redor e acomodou-se na cadeira estofado... Percebeu que o ambiente servia também de escritório para o seu “igual”... Retirou a barba e começou a imaginar sobre a primeira vez que o professor o vira em ação no “Quem Porfia Mata Caça”... Teria sido naquela poltrona?
O professor não tinha interesse em dar satisfações... Permaneceu de pé e com a fisionomia fechada anunciou que era melhor o tipo dizer logo o que pretendia... Antônio deu a entender que ele devia se sentar também...
Sem demonstrar pressa, avaliou que chegara num mau momento, pois o ambiente, a máquina de escrever e os papéis espalhados pela escrivaninha davam a entender que ele estava trabalhando. Depois acrescentou que o que tinha a dizer tinha certa urgência. E é por isso que não pôde entrar em contato para combinar a melhor ocasião.
Mas então, o que o levava a arriscar-se indo à casa do outro? O ator repetiu que o assunto tinha a ver com a Maria da Paz. Depois retirou do bolso a cópia da carta de Tertuliano à produtora. Como sabemos, ele a conseguiu através dos préstimos da funcionária.
Antônio Claro lembrou que o próprio Tertuliano dissera-lhe a respeito... Mas acrescentou que ele não lhe revelara que o documento havia sido assinado por sua amiga.
Tertuliano pegou o papel... Verificou que se tratava mesmo de uma cópia a partir do texto que havia produzido... Quis saber como aquilo chegara às mãos de Antônio. Este respondeu que teve trabalho para obtê-lo... Esclareceu que no começo era movido pela vaidade, pois queria ler as considerações sobre o seu trabalho... Essas coisas.
O professor o interrompeu dizendo que pretendia apenas conhecer a verdadeira identidade de Daniel Santa-Clara. Antônio Claro concordou que o outro obtivera êxito em seu intento... Tertuliano, porém, lamentou o resultado de sua iniciativa e observou que seria melhor não o terem respondido.
Antônio observou que não adiantava reclamar... Era tarde demais para lamentar, pois a “caixa de Pandora” estava aberta. O professor a abrira e, portanto, devia “aguentar as consequências”.
Tertuliano discordou... Não tinha de suportar nada porque tudo havia sido esclarecido entre os dois... O assunto estava “morto e enterrado”. Antônio redarguiu... Disse que o outro até podia pensar daquela maneira, mas havia a assinatura de Maria de Paz...
Tertuliano explicou que a chamara para subscrever porque queria se manter incógnito. Antônio quis saber o motivo...
A resposta do professor foi no mínimo infeliz... Ele disse que “queria se manter na sombra até o último momento” e aparecer de surpresa... Então Antônio Claro protestou argumentando que sua esposa, Helena, estava passando muito mal por causa de toda aquela história... Vivia a tomar tranquilizantes para esquecer que na mesma cidade vivia um tipo idêntico ao marido.
Como que a se desculpar, Tertuliano disse que não tinha a menor ideia de que o outro fosse casado... Antônio respondeu que era só ele se colocar em seu lugar... E o provocou pedindo para imaginar se ele fosse à Maria da Paz dizer-lhe que se tratava de um tipo idêntico ao Tertuliano, iguais em tudo, “até no tamanho do pênis”.
O tipo completou garantindo que a moça ficaria chocada. Tertuliano se assustou e esbravejou que o proibia terminantemente de dizer qualquer coisa à sua da Paz. Antônio pediu-lhe que mantivesse a calma porque não dissera e nada diria à outra.
Aquelas palavras revelavam muito... Mesmo assim Tertuliano quis saber o que ele estava afirmando ao dizer que “nada diria”... Exigiu que Antônio respondesse logo.
O ator manteve-se calmo e respondeu que Tertuliano devia guardar sua fúria e violência para depois... Garantiu que possuía técnica de karatê suficiente para derrubá-lo, e que não era porque fossem semelhantes em tudo que o seriam também na força.
Irritado, Tertuliano exigiu que o tipo se fosse imediatamente, pois estava disposto a chamar a polícia. Antônio ironizou ao dizer que ele podia chamar também as televisões, fotógrafos e repórteres dos jornais... Assim o escândalo se tornaria mundial.
Tertuliano explicou que aquilo só traria prejuízos à sua carreira no cinema, então era melhor esquecerem-se da história toda... Antônio disse que pouca gente se importaria com o ocaso de um artista secundário...
Quanto a “esquecerem-se”, explicou que era algo para começarem a processar mais tarde...
Talvez umas vinte e quatro horas mais tarde.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_23.html
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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