sábado, 19 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – acertando-se com Maria; diálogo franco e romântico; telefonando “apenas porque sim”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_19.html antes de ler esta postagem:

Tertuliano interrompeu os lamentos de Maria da Paz... Disse que continuariam a se relacionar...
Ela quis saber se permaneceriam com os “desencontros” e até quando viveria a tentar a “comunicação impossível”... Ele a interrompeu novamente para dizer que a amava.
Maria estava acostumada a ouvi-lo falar assim... Principalmente quando estavam entrelaçados na cama... Ele nunca dizia que a amava depois dos encontros amorosos.
Tertuliano insistiu que a amava... Ela protestou dizendo que não era justo tortura-la dessa maneira.
Tertuliano voltou à carga afirmando que ela precisava acreditar! Então pediu que silenciasse para ouvi-lo com paciência...
Mas isso era tudo o que Maria sempre quis!
O rapaz garantiu que suas vidas mudariam definitivamente... Ela respondeu que não acreditava que isso pudesse ocorrer. Novamente ele disse que era preciso acreditar.
A moça se sensibilizou com as palavras... Pediu que o outro tivesse cuidado com o que dizia... Afinal ele nem sabia se teria condições de cumprir a parte dele. Tertuliano concordou e apelou para a racionalidade ao dizer que nenhum dos dois sabia o que o futuro lhes reservava.
Maria respondeu que a confiança que ele pedia era algo com a qual ele sempre pôde contar... Então, por que ele a pedia agora? Tertuliano respondeu que pretendia que vivessem juntos.
(...)
Ela nem quis acreditar... Estaria sonhando? Se fosse seu desejo, ele poderia repetir as mesmas palavras! Sem pestanejar, o moço disse que não tinha dúvidas.
Maria manifestou que não entendia o que podia ter ocorrido para que ele mudasse tanto... O que teria se passado na cabeça ou no coração de Tertuliano? Ela o interrogou, pois sabia que até então nada daquilo fazia parte de seus planos.
Tertuliano explicou que essas coisas acontecem mesmo... As pessoas mudam, e isso havia ocorrido com ele. Maria fez várias perguntas sobre a sua convicção... As respostas foram incisivas...
Sim, Tertuliano estava amando Maria da Paz tão intensamente que desejava viver com ela!
(...)
Enquanto Tertuliano garantia todas essa coisas, insistia que ela devia se cuidar, pois a desejava completa. Maria quis saber se podia contar a novidade à mãe... Ele não se opôs mesmo sabendo que futura sogra não o tivesse em grande consideração.
Maria explicou que não era por acaso... Toda mãe quer o melhor para os filhos, e ela via que a filha não dava mostras de felicidade.
Tertuliano confessou que havia conversado com a mãe a respeito Maria. Dona Carolina esperava que o filho despertasse a tempo de encontrá-la ainda ao seu lado. A moça ficou satisfeita com o que ouviu e concluiu que ele estava precisando ouvir conselhos como aquele.
Ele arriscou sugerir à Maria que dissesse à mãe para dormir descansada...
Maria garantiu que ela é quem não teria condições de dormir... Despediram-se com as promessas de se encontrarem no dia seguinte... Após o trabalho, Maria tomaria um táxi para chegar o quanto antes ao apartamento do amado.
(...)
Desligaram os aparelhos...
Tertuliano ficou a imaginar Maria correndo para os braços da mãe a gritar entre risos e lágrimas...
Depois pensou sobre o quanto ela devia estar feliz... E sobre o quanto ele demorou a tomar uma decisão que resultasse em felicidade para todos. Estaria à altura de uma condição mais estável? Talvez não.
(...)
Dirigiu-se à cozinha... Precisa se alimentar... Lamentou ter de retornar ao velho hábito de recorrer aos enlatados.
Viu que na geladeira havia um recado deixado pela vizinha arrumadeira... As letras informavam que o refrigerador guardava uma sopa.
Alimentou-se... Cansado como ainda estava da viagem resolveu deitar-se... Abriu o livro das civilizações mesopotâmicas, mas não conseguiu se concentrar.
O sono estava para dominá-lo quando sentiu que Maria sussurrava ao seu ouvido que gostaria de receber um telefonema seu “apenas porque sim”...
Então resolveu agasalhar-se com o roupão... Foi até à sala e ligou para a namorada... Disse apenas que “estava com sede e ligara para pedir-lhe um copo de água”.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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