sexta-feira, 4 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – senso comum e suas relações com as demandas humanas; tudo ou nada resolvido; inércia também se verifica na História; o jogo pode prosseguir independentemente da desistência de um dos contendores

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_3.html antes de ler esta postagem:

Tertuliano estranhou e não pôde deixar de se expressar em relação à posição tipicamente machista do Senso Comum... Este esclareceu que nada mais era do que o resultado das próprias demandas humanas, de homens e mulheres...
Mas e como ficavam os conselhos e as opiniões que ele devia proporcionar aos mortais? A “entidade” explicou que nem sempre errava... Além disso, todos deviam ajudá-lo, pois ele nada mais é do que a “média aritmética” daquilo que se espera dele...
O professor arriscou dizer que, portanto, o Senso era “previsível”. O invisível confirmou... Então era por isso que ele o aguardara no carro?

O Senso argumentou que já era tempo de voltar a aparecer... Estava claro que ouvira toda a conversa do encontro entre os dois “iguais”... Tertuliano quis saber se fizera bem ou mal o ter insistido no encontro. Senso Comum respondeu que isso era lá com ele... Dependia muito do que o professor entendia por mal ou bem... Considerando-se o fato de ter chegado à situação de não ver alternativa a não ser a do encontro, seria mais adequado dizer que tudo aquilo era simplesmente indiferente (nem bom nem mal).
Tertuliano não desaprovou a sentença... Emendou que para colocar “ponto final” à história tinha de insistir no encontro. Neste ponto, o Senso Comum questionou se o rapaz pensava seriamente que tudo estava acabado... Achava então que cada um retornaria para o próprio cotidiano, junto de sua mulher e, a partir de então, teriam a vida nos trilhos normais? Seria mesmo possível se esquecerem de tudo o que comprovaram?
Tertuliano não entendia assim... Para ele bastava os dois desejaram apagar de uma vez tudo o que aconteceu e o que sabiam... Não precisava ser de outro modo! O Senso Comum usou o exemplo do carro que descia pela estrada... Era certo que se desligassem o motor o veículo continuaria o movimento... A inércia explica isso... Argumentou que também na História pode-se notar o mesmo princípio.
O diálogo prosseguiu confuso... Tertuliano citou uma partida de xadrez em que um dos oponentes sai do jogo... Senso Comum explicou que também isso não significava o “fim da partida” porque o que permanece à mesa pode prosseguir jogando com a vantagem de poder manipular as peças que quiser (brancas ou pretas) e, assim, vencer de qualquer modo porque “joga com todas”.
Tertuliano entendeu que, como se retirara da casa onde se encontrara com Antônio Claro, já não havia “jogo”... Mas o Senso explicou que restaram “três jogadores”, o próprio Antônio, sua esposa Helena, e a Maria da Paz.
Obviamente Tertuliano não entendeu aonde o invisível queria chegar... Então perguntou o que a da Paz teria a ver com aquela história... O Senso lembrou que ela havia sido usada pelo professor para que ele chegasse ao seu objetivo, que era o de encontrar o ator... Era certo que mais cedo ou mais tarde ela conheceria todo aquele enredo.
Senso Comum também fez referências à esposa de Antônio Claro... Destacou que não estranharia se, conforme a “movimentação das peças”, ela viesse a se tornar a “rainha do tabuleiro”.
Tertuliano ouviu... Depois disse que o Senso possuía muita imaginação.
Senso Comum disse que afirmara noutra ocasião que somente o senso comum carregado de “imaginação de poeta poderia ter sido o inventor da roda”. Tertuliano o corrigiu ao ressaltar que não haviam sido exatamente aquelas palavras. O invisível ressaltou que não tinha importância... Estava a dizê-las neste momento em que percorriam a estrada de volta para casa.
O professor mostrou sua irritação ao dizer que o Senso seria uma companhia melhor se não pretendesse ser o dono da razão sempre.
A entidade discordou... Disse que nunca arrogou para si a plena posse da razão... Se eventualmente errava jamais se recusara estender “a mão à palmatória”... Tertuliano respondeu que nessas ocasiões o Senso sempre se apresenta com “cara de vítima de clamoroso erro judiciário”.
Na continuação da conversa, Senso Comum emendou que também a ferradura havia sido por ele inventada... Tertuliano brincou ao dizer que só podia ter sido graças à sua sensibilidade de poeta...
Estavam para se despedir quando o Senso perguntou-lhe a respeito do que faria ao chegar à cidade... O professor respondeu que telefonaria à mãe para dizer-lhe que em dois dias a visitaria... Também ligaria à Maria da Paz para deixá-la a par da visita que faria à mãe.
(...)
Depois de um tempo, Antônio Claro passou com seu carro a alta velocidade pelo de Tertuliano... Fez breve movimento com a mão direita... Senso Comum perguntou quem poderia ser aquele tipo.
Tertuliano explicou que era o seu “igual”, o “original”... E admirou-se porque o Senso não o reconhecera... Senso Comum disse que não tinha como reconhecer porque nunca estivera com aquele...
O professor explicou que os dois se pareciam em tudo... O Senso observou que ele ainda estava com a barba postiça... A conversa o distraíra de tal forma que se esquecera de tirá-la.
Senso Comum destacou que o carro do outro era bem mais potente... Tertuliano disse que o tipo estava apressado porque queria contar à esposa a respeito do encontro... O Senso respondeu que “talvez não”.
A despedida foi das mais amigáveis... Senso Comum pediu que o deixasse à entrada da rua... Tertuliano sugeriu que poderiam subir para continuar a conversa no apartamento... O Senso rejeitou porque precisava “colocar a imaginação para trabalhar”... Certamente precisariam dela.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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