Vimos que Antônio Claro conduziu a pobre Maria da Paz à sua casa de campo... O tipo passou-se por Tertuliano e se relacionou com ela como se fosse o seu amado. Em seu entendimento, esse era o bem merecido castigo imposto ao seu “igual”.
Tertuliano não ficou atrás nas maquinações. Ousou transmudar-se em Antônio Claro, dirigiu o automóvel do ator até o prédio residencial e entrou em seu apartamento. Embora sua intenção primeira fosse a de pretendesse constranger o outro criando uma situação que o colocasse como mentiroso e marido infiel, o professor teve uma madrugada de paixões e entrelaçamentos carnais com Helena.
(...)
Tertuliano teve um sonho
atordoante... Helena despertou com sua agitação e tentou acalmá-lo.
Ela estava bem à vontade, corpo leve, solto e seios à
mostra. Dizia-lhe palavras tranquilizadoras. Aos poucos o tipo se aquietou...
Helena quis saber detalhes do sonho ele tivera...
O professor contou (exatamente como o descrevemos em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_25.html) sem deixar de
mencionar que, quando estava diante do muro com o letreiro informando sobre o
abismo, todo o chão desaparecia (menos os pedaços abaixo dos pés, que pareciam formar
duas pequenas ilhas; e bem próximo outras duas ajudavam a formatar um
“arquipélago composto”).
Helena o ouviu... Admirou-se com a narrativa porque não
estava habituada a ouvir o marido a falar daquela maneira... Achou interessante
ouvir um relato repleto de trechos que pareciam conter mais de um
significado...
(...)
O quadro da sequência é romântico...
Os dois pares de pés estão ali na mesma cama desarrumada durante a ardente
noite que tiveram.
Helena perguntou se o marido (que é Tertuliano vivendo o “outro Antônio
Claro”) estava mais tranquilo... Ele respondeu afirmativamente e ao mesmo tempo
agradeceu a atenção que ela lhe dava.
Na sequência a mulher falou a respeito da relação que tiveram durante a
madrugada... Sentenciou que o sentira pleno de ternura, algo que jamais
ocorrera. Obviamente ele não conhecia o “histórico do casal”, então disse
apenas que, se era daquela forma que ela o sentira, assim havia sido.
Ela lamentou que certas
coisas (boas sensações) não voltam a ocorrer... Ele disse que há as que se
sucedem frequentemente. Helena concordou e pronunciou um dito que diz que “quem
deu rosas uma vez, não pode voltar a dar menos que rosas”...
Essa conversa envolvida em
harmonia levou-os a novo entrelaçamento.
(...)
O dia dera em
ensolarado...
Ela o beijou uma última vez
e se retirou da cama... Sugeriu que ele ficasse para dormir mais um pouco...
Enquanto isso providenciaria o desjejum.
Tertuliano não tinha o menor interesse de dormir ou de
permanecer por mais tempo na casa. Precisava retornar ao seu apartamento, pois
podia ter ocorrido de a noitada de Antônio Claro não ter sido das melhores.
Nesse caso o tipo podia antecipar o retorno... Talvez telefonasse para
Helena justificando que chegaria antes do meio-dia... Inventaria qualquer coisa
sobre imprevistos ou discussões mal resolvidas com a equipe.
De sua parte, Tertuliano também tinha dificuldade para
justificar à Helena a necessidade de sair de casa... Por tudo o que ocorrera na
última noite, a manhã de sábado parecia ainda mais maravilhosa e parecia convidar o casal a
permanecer dialogando numa "indefinida prorrogação".
(...)
O que se via era uma Helena encantada como há muito não lhe ocorria... Ela
entendia que seu relacionamento com o marido tinha tudo para mudar... E para a
melhor! Há quanto tempo não tomavam o desjejum no aconchego do “leito de
amor”...
Mas, contrariando suas expectativas, tudo
indicava que a feliz intimidade e paz do casal não ocorreriam novamente.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago-de.html
Leia: O
Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto