quarta-feira, 2 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – conhecendo qual dos dois é o duplicado; o original não pode tirar nenhuma vantagem na história; cada um deve seguir o próprio caminho, afinal que importância há no fato de existir “um homem igual a outro”?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago.html antes de ler esta postagem:

Houve uma conversa sobre a revelação que cada um devia fazer... Tertuliano quis ter certeza de que aquilo era mesmo importante para Antônio Claro.
Por que seria necessário conhecer a hora em que cada um viera ao mundo?
(...)
O ator respondeu que estava disposto a saber... Sua postura não era natural, agia como se tivesse ensaiado os trejeitos e dizeres... Mas Tertuliano não tinha como duvidar. Ele apenas via o outro sorrir e dar a entender que seria franco, pois afirmava que jamais pensara em mentir.
Antônio Claro sugeriu um sorteio para definir quem falaria primeiro... Tertuliano disse que não havia necessidade... Ele se propôs a começar, e emendou que já que a questão era de “retidão e boa-fé” não havia porque desconfiarem um do outro.
Na sequência, o professor revelou que havia nascido “às duas da tarde”. Antônio Claro teve a fisionomia alterada como se estivesse sentindo pena do outro... Justificou-se ao dizer que nascera primeiro... Quanto tempo separava o nascimento dos dois? Meia hora antes... O ator corrigiu-se no mesmo momento ao “lembrar-se” de que na verdade “colocara a cabeça para fora às treze horas e vinte e nove minutos”...
Dando a entender que aquilo seria um fardo para o outro, disse que lamentava sua condição de “duplicado”. Tertuliano bebeu de um gole só o conhaque que restava em seu copo... Depois sentenciou que comparecera ao encontro para acabar de vez com a curiosidade a respeito do fenômeno que descobrira... Como isso já estava resolvido podia partir.
Antônio Claro quis persuadi-lo... Podiam conversar mais... Sugeriu jantarem num restaurante localizado na região... Era só Tertuliano acomodar a barba postiça no rosto e ninguém notaria semelhança entre os dois...
O professor não achou boa a ideia... Explicou que certamente seus conhecimentos a respeito da História não interessariam ao Antônio... Ao mesmo tempo ele mesmo não pretendia falar sobre cinema e assuntos correlatos que faziam parte do repertório de Antônio.
Este entendeu que o outro estava chateado... Perguntou se estava contrariado por não ter sido o primeiro a nascer... Tertuliano respondeu que “contrariado” não era a palavra adequada... Não gostaria que o desfecho fosse aquele, mas também não adiantava questionar os motivos... Tudo estava perdido? Talvez não...
Ele argumentou que Antônio Claro sequer poderia sair por aí a gabar-se de que era o “original”... Seria visto como um doido a afirmar coisas absurdas! Teria de tê-lo como companhia para que pudesse comprovar.
O ator explicou que não tinha intenção de “espalhar por aí” a história dos dois. Fez questão de afirmar que se tratava de um artista de cinema... De modo algum queria ser confundido com um “fenômeno de feira”. De sua parte, Tertuliano também fez questão de resgatar sua identidade de professor de História... Também não pretendia ser visto como uma “anomalia”.
(...)
Então é isso... Os dois estavam de acordo... Entenderam que não havia mais razões para se reencontrarem... Tertuliano desejou boa sorte ao Antônio Claro... Que seguisse feliz em seu papel de “original”, apesar de não poder tirar dele nenhuma vantagem... Sequer teria um público a aplaudi-lo por causa disso!
O professor acrescentou que manteria distância... Inclusive de qualquer “curiosidade de ordem científica” e de jornalistas. Antônio Claro ficou satisfeito com o que ouviu e disse que não seria difícil se manterem afastados... A cidade grande propicia isso... Além disso, levavam vidas bem diferentes. Tertuliano concordou... Chegaram àquele ponto por causa da “malfadada fita”...
Ele não era apreciador de filmes... Este não era o seu passatempo... E quanto a um ator de cinema interessar-se por um professor de História? Tertuliano sentenciou que isso nem devia ter “expressão matemática”.
Antônio Claro lembrou que até então não havia a menor probabilidade de existirem como “iguais” e, no entanto, estavam ali... Tertuliano respondeu que faria de tudo para subtrair de sua consciência as imagens dos filmes que havia visto... Admitiu que eventualmente, ao se recordar, sofreria como que num pesadelo... Mas também isso deveria passar.
Afinal que importância há no fato de existir “um homem igual a outro”?
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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