sexta-feira, 18 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – comparando dona Carolina à Cassandra; conselhos da mãe antes do retorno à cidade grande; avaliação sobre a estadia no interior e perspectivas de mudanças também em relação à da Paz; gravações na secretária eletrônica

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_58.html antes de ler esta postagem:

Depois de dona Carolina vaticinar que o filho teria de “despertar” para a vida de modo violento, o rapaz sentenciou que ela tinha vocação para Cassandra.
Ela quis que ele se explicasse melhor... Então ele falou da filha do rei Príamo, de Troia, que se pôs a gritar para que os patrícios não aceitassem o presente enviado pelos gregos... Tertuliano disse que a história podia ser lida na “Ilíada”, de Homero... Por exigência de dona Carolina, Tertuliano contou o desfecho que se seguiu ao desprezo dos troianos às advertências da princesa.Ela concluiu que Cassandra de Troia tinha razão... Tertuliano concordou que “Cassandra tem sempre razão”. Dona Carolina raciocinou que ele mesmo dissera que ela tinha “vocação de Cassandra”... Nesse caso, ele podia ser como um daqueles troianos que não quiseram crer no que lhes era advertido e, por isso, morreram queimados... Ela acrescentou que o mundo está cheio de situações como essa e o próprio filho parecia não perceber que podia terminar como um dos troianos...
Tertuliano ouviu as palavras da mãe e respondeu que não havia nenhum “cavalo de madeira” à sua porta. Dona Carolina não se incomodou por ter sido comparada à tal Cassandra... Em vez disso, pediu que o rapaz seguisse seus conselhos de não voltar a encontrar o tipo que o deixara transtornado.
Ele prometeu que não pretendia lidar com o sósia novamente...
E ficaram nisso.
Tomarctus retornou para perto de sua dona, mas foi aos pés do professor que ele se aconchegou... O cão parecia saber que o moço já estava de saída.
(...)
Vemos Tertuliano retornando para casa...
Enquanto dirigia pensou sobre as conversas que tivera com a mãe... Considerou satisfatório o entendimento a que chegaram a respeito do fenomenal caso do qual era parte com o Antônio Claro... Também refletiu a respeito das palavras de dona Carolina sobre a Maria da Paz... Pensou sobre como havia insistido com ela que o melhor seria “acabar de vez” com a relação... Mas agora levava em consideração que no momento não dizia essas coisas com convicção... Tinha a sensação de que havia vacilado em relação à aversão que sustentara durante certo tempo... Em vez disso sentia que valia à pena buscar um entendimento com a da Paz.
Pelo visto era isso mesmo... Concluiu que seus temores diziam respeito ao fracasso no primeiro casamento e também às dúvidas que o recomeço sempre anunciam.
Tertuliano concluiu que devia pensar mais seriamente sobre a possibilidade de entender-se com Maria... Por isso teria de telefonar a ela assim que chegasse.
A distância ficava cada vez menor... Só eventualmente pensou em Antônio Claro no meio do trajeto... Mas é interessante observar que a imagem do tipo não lhe vinha como a de um “igual”...
Parecia mesmo que sua consciência estava negando a existência do tipo... Pelo visto o caso seria totalmente superado, pois nem mesmo conseguia resgatar a conversa que haviam tido na casa de campo.
É isso... Vemos um novo Tertuliano... Prometera à mãe que não procuraria o sujeito e estava disposto a não quebrar a promessa.
Não podia reclamar da curta estadia na casa da mãe... Aquilo lhe fizera bem e o ajudara a entender que a vida mudaria... Certamente telefonaria à da Paz... Era imperdoável não ter entrado em contato nos últimos dias... Pelo menos devia ter perguntado sobre a saúde da mãe dela! Foi muita falta de consideração.
(...)
Tertuliano chegou ao final da tarde... O modo como subiu ao apartamento revela o seu estado de espírito... Dirigiu por mais de quatrocentos quilômetros sem parar e trazia mais bagagens do que levara... Mas estava tão empolgado que nem notou o quanto andava ligeiro.
Chegou à porta, colocou as malas no chão, abriu a porta e acendeu as luzes... Uma boa sensação de “retorno ao porto seguro” o invadiu. O apartamento era como que “outra mãe”.
A limpeza geral e a ausência de qualquer grão de poeira eram sinais de que a vizinha do andar de cima estivera diariamente a cuidar dos cômodos.
O sinalizador da secretária eletrônica indicava que havia gravações... Enquanto se acomodava dispôs-se a ouvi-las.
A primeira era uma chamada do diretor da escola... O tipo desejava boas férias e também perguntava a respeito da redação da proposta que seria enviada ao ministério. A segunda era do colega de Matemática, que havia ligado apenas para saber como estava de “marasmo” e para sugerir que uma viagem pelo país ao lado de boa companhia seria excelente terapia.
A terceira gravação havia sido deixada pelo Antônio Claro.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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