sábado, 12 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – mais sobre a comunicação e os “filtros” que cada um deve acionar para desvelar o que fica nas “borras”; refletindo sobre o mistério da carta; afinal, o que o ator espera conseguir com a cópia do documento?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago-em.html antes de ler esta postagem:

Antônio Claro ficou muito satisfeito com a promessa da funcionária... Tão contente ficou que não pôde deixar de expressar o grande prazer de conhecê-la e de conversar com ela...
A moça disse que por acaso a encontrara num dia bom... Falou qualquer coisa a respeito de, ao ajudá-lo, sentir-se como personagem de um enredo literário. Ele quis que ela se explicasse melhor, mas foi interrompido por sua promessa de enviar a cópia pelo correio.
Antônio disse que preferia retornar à produtora... Mas ela esclareceu que não ficaria bem ser vista pelos demais funcionários a entregar-lhe um envelope. Seu emprego correria sério risco.
A resposta deixou o ator chateado... Estava próximo de obter uma cópia da carta e era evidente que não pretendia que o documento chegasse às mãos de Helena. Todavia não podia colocar em risco o trabalho da outra.
(...)
Ele pediu desculpas à funcionária... Mais uma vez a moça surpreendeu pelo modo como se expressou. Ela disse que as pessoas confundem os sentidos das palavras e não dão importância para o modo como falamos, principalmente à nossa entonação... Explicou que é preciso “filtrar”, e nesse processo sempre ficam algumas “borras” que concentram o que de fato pretendemos ao nos comunicar... Antônio disse que aquilo parecia bem complicado e que apenas os que possuem “ouvidos absolutos” teriam condições de interpretar as tais “borras”, mas ela garantiu que era uma questão de treino.
A moça continuou a falar a respeito das próprias experiências... Lamentou que as duchas tomadas no fim do dia não fossem capazes de “limpar os filtros entupidos” que carregamos em nosso interior e que impossibilitam o entendimento adequado das informações que nos são passadas durante o dia.
Antônio mostrou admiração... Mas não era incrível! Uma simples funcionária com tanto “conteúdo filosófico”... Arriscou dizer que não era como um canário que o pardal cantava, mas como um rouxinol. Depois emendou que gostaria de vê-la novamente... Ela respondeu que acreditava mesmo, pois “seu filtro” estava confirmando exatamente isso.
Ele quis saber o nome dela... Ela respondeu que não havia motivo... Não era assim que Antônio estava pensando, então cogitou sobre a possibilidade de voltar a precisar dela... A funcionária respondeu que era só solicitar ao chefe do departamento... Era bem possível que ele convocasse a titular (que estava de férias) naquela função.
(...)
Acertaram-se conforme ela havia definido... O ator concluiu que ficaria sem ter notícias dela... Ela se comprometeu a enviar a cópia... Nada mais.
À saída, Antônio encontrou o antigo conhecido... Perguntou-lhe o nome da garota que o havia atendido... O tipo respondeu que ela se chamava Maria.
(...)
Conforme Maria (a funcionária da produtora) havia prometido, a cópia da carta chegou pelo correio às mãos de Antônio Claro.
Mas até que isso ocorresse, passaram-se três dias... Nesse intervalo, ele ficou a raciocinar sobre o enigma que precisava resolver... Sabia pelas palavras do próprio Tertuliano que este enviara a carta à produtora... Todavia a única carta com as características que foram mencionadas era de autoria de uma mulher... Pode ser que o tipo tivesse pedido a ela para escrever, assim permaneceria no anonimato... Também podia ser que o próprio Tertuliano escrevesse o documento sem revelar o nome verdadeiro... O professor teria combinado a estratégia com alguém? Era preciso ler o conteúdo da cópia e conhecer o endereço registrado no envelope.
(...)
Enfim a cópia chegou às mãos de Antônio Claro...
A funcionária havia juntado um cartão com a seguinte mensagem: “espero que lhe sirva para alguma coisa”... A moça não assinou.
Ao ler o cartão, Antônio pensou sobre o propósito daquelas palavras... Haveria algum? Estaria em alguma “borra” remanescente após o processo de “filtragem”?
O certo é que ele concordava com a mensagem... Esperava que aquilo servisse para algo... O quê? Depois... O quê faria depois?
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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