segunda-feira, 21 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – Maria e Tertuliano decidem onde se instalarão; adiantando a redação do projeto solicitado pelo professor; uma visita inesperada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_54.html antes de ler esta postagem:

Tertuliano decidiu que a relação com Maria da Paz não só continuaria como avançaria para um estágio de maior união... Ao que tudo indica se entenderam bem... Ela desejava viver junto ao amado, e ele sinalizou positivamente.
Mas é claro que “o passo seguinte”, onde morariam, exigiu alguns entendimentos. A questão girava em torno do local onde se instalariam... Se no pequeno apartamento do professor ou no de Maria, que era maior.
Prevaleceu o bom senso... O apartamento de Tertuliano ficaria menor ainda se tivesse de abrigar três pessoas... Já o de Maria era suficiente para o casal, a mãe dela e mais os livros do professor.
Ainda não haviam acertado para quando ocorreria a mudança, mas, diferentemente do período anterior, os noivos conseguiam concordar em vários pontos... O único senão que ainda pesava sobre a consciência de Tertuliano era o não ter revelado a história da duplicação à Maria... Ele havia lhe prometido que quando chegasse a ocasião adequado contaria os detalhes que faltaram ser ditos na vez que confessou a respeito da mentira sobre a carta à produtora.
Mas a verdade é que, da mesma forma que ele não se animava a iniciar diálogo a respeito do delicado assunto, ela também não ousava perguntar-lhe... Talvez porque temesse abalar o encantado momento que viviam.
Seria melhor deixar o assunto bem enterrado? Haveria risco de ele voltar à tona? Ainda não é momento de pensar sobre essas questões.
(...)
Já fazia dois dias que Tertuliano metera-se em sua escrivaninha comprometido com a finalização do projeto que devia ser enviado ao ministério... Maria achou melhor não incomodá-lo e por isso não se falavam nem mesmo ao telefone... Ele considerou de suma importância colocar um termo à tarefa para depois dedicar-se à mudança, principalmente à organização dos livros.
Após a refeição do meio do dia num restaurante próximo à sua casa, Tertuliano caminhou pensando sobre o quanto ainda faltava para finalizar o trabalho e entrega-lo ao diretor... Considerou que já era tempo de adquirir um computador, pois o trabalho na máquina de escrever demandava revisões que lhe tomavam tempo... Maria já trabalhava com computadores no banco e com certeza ela o ensinaria a lidar com a máquina.
Sem mais demoras, voltou à sua redação... De repente a campainha tocou... Pelo adiantado da hora não podia ser a vizinha que fazia a limpeza dos cômodos... Também não devia ser o carteiro ou qualquer dos funcionários que faziam as medições de luz, água e gás...
Mas só podia ser algum vendedor (talvez de “enciclopédias em que se explicam os costumes do tamboril”).
Novamente a campainha tocou... Interrompeu a datilografia e dirigiu-se à porta. Ao abri-la, deparou-se com o tipo usando a barba postiça. Antônio Claro se anunciou e Tertuliano foi perguntando o que ele pretendia.
(...)
O professor estava visivelmente incomodado... Antônio disse que queria conversar... Emendou que havia telefonado e deixado a gravação que solicitava um retorno, o que não ocorreu.
Tertuliano sentenciou que o que tinham de conversar já havia sido tratado na casa de campo... Antônio salientou que ainda faltava algo que ele precisava comunicar. Entendia que o outro não percebesse o que ainda tinham de falar, mas deixou claro que não era conveniente falar-lhe à entrada sob o risco de ser ouvido pelos vizinhos.
O professor insistiu que não tinham nada a tratar... O outro adiantou que o que tinha a dizer envolvia Maria da Paz. As palavras o assustaram e ele quis saber se havia acontecido algo... Antônio respondeu que “por enquanto, nada”.
Mas então não tinham nada a tratar! Tertuliano quis encerrar de vez o encontro inesperado... Todavia Antônio repetiu que “por enquanto”...
Não havia dúvida... O tipo estava planejando algo...
E, fosse o que fosse, envolvia a pobre da Paz em alguma trama.
Sem alternativa, Tertuliano abriu passagem para o inconveniente, que sugeriu sentarem-se para anunciar o que o trazia ali.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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