sábado, 5 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – ainda não é o fim da novela; a barba postiça foi endereçada à casa do ator; também as atitudes dúbias de Antônio confundem Helena, cada vez mais consternada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_4.html antes de ler esta postagem:

Na manhã seguinte, Tertuliano pôs-se a refletir sobre o que dissera ao Senso Comum a respeito de não mais usar a barba postiça e andar de “rosto descoberto”... A verdade é que inconscientemente talvez estivesse desafiando ao “original”... Pelo visto a novela não se encerraria tão cedo.
Ele havia sido incisivo ao garantir que entre ele e o Antônio Claro nada mais havia a ser tratado... Era por isso que não mais se encontrariam... Isso podia ser “ilustrado” pela metáfora do ter se retirado “da mesa de jogo”.
Todavia as falas e postura do professor deixam escapar algumas contradições. Tanto é verdade que logo após o desjejum seguiu à papelaria onde adquiriu uma pequena caixa para depositar a barba postiça e enviá-la ao Antônio Claro.
Mas é evidente que aquilo não era um presente... Obviamente o ator possuía acessórios para figurinos diversos... Os dois estavam mais para desafetos! Jamais usaria o objeto enviado por Tertuliano.
(...)

Ao receber o pacote, o tipo reconheceria imediatamente... Sem entrar em detalhes, diria à esposa que aquilo se tratava de uma ofensa, um desafio. Helena estranharia e diria que ele não possui nenhum inimigo...
De pouco adiantaria dizer que entre os atores há muitos melindres e invejas... Nunca é demais recordar que sua carreira estava em ascensão e isso podia provocar intrigas entre os mais insuspeitos colegas.

(...)
Sem entender o que levaria alguém a enviar uma barba postiça ao marido, Helena voltou à carga... Então Antônio respondeu que aquilo havia sido usado pelo seu “igual” no dia em que se encontraram... Disse que entendera perfeitamente o motivo do disfarce, pois alguém do povoado podia confundi-lo com ele mesmo e a confusão se estabeleceria.
Helena quis saber o que o marido faria com o “presente”... Antônio respondeu que poderia devolvê-lo com um bilhete “curto e grosso”... Mas acrescentou que isso só alimentaria uma troca de correspondências que não lhe interessava. Sua carreira não podia correr esse tipo de risco.
A mulher disse que no lugar do marido colocava fogo naquilo... Antônio argumentou que não se tratava de um caso de morte... Depois brincou que ela não ficaria bem de barba (dado que ela deu a ideia “colocando-se em seu lugar”).
Helena não gostou da brincadeira e passou a lamentar o caso, um transtorno para a sua cabeça. Apesar de não poder acreditar na “total semelhança”, passava mal só de pensar que na cidade havia um tipo idêntico ao esposo.
O estado de espírito de Helena se explica pelo fato de ela ter se assustado muito com o depoimento de Antônio Claro após o encontro com o Tertuliano... Ele garantiu que em tudo eram semelhantes, até mesmo impressões digitais e documentos de identificação...
(...)
O ator pediu que ela mantivesse a calma... Sugeriu um tranquilizante.
Helena respondeu que estava tomando remédios desde o telefonema do tipo misterioso... Antônio disse que não reparara... Ela emendou que normalmente ele não a reparava muito... Mas o que ele podia fazer se a outra ingeria os remédios às escondidas?
A mulher pediu desculpa e concordou que aquilo passaria... Antônio reforçou a ideia dizendo que chegaria o tempo em que não se lembrariam de mais nada.
Mas alguma coisa tinha de ser feita com os “pelos repugnantes”... Essa foi a sentença proferida por Helena.
Antônio respondeu que guardaria a barba postiça junto com o bigode que havia usado em “Quem Porfia Mata Caça”... Helena quis saber que interesse havia em guardar um acessório que havia sido usado em outra cara...
Um tanto desorientado, Antônio disse que “a cara é a mesma”.
Helena desaprovou... Ele só podia querer que ela enlouquecesse com aquele tipo de afirmação. Será que pretendia fazer daquilo uma espécie de relíquia? A mulher não tinha como definir o raciocínio porque a primeira reação do esposo ao abrir o pacote havia sido de repulsa ao mesmo tempo em que dizia que aquilo vinha de “mão inimiga”.
Antônio Claro quis corrigi-la, mas ela insistiu que seus gestos e expressão deram a entender que era o que ele pensava (que se tratava de uma agressão de algum inimigo).
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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