quarta-feira, 23 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – os “iguais” se separam; descendo os degraus para acessar os "andares inferiores"; Maria é conduzida à casa de campo; acertando os últimos detalhes

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_84.html antes de ler esta postagem:

Então se acertaram!
Já era momento de se retirar... Os vencedores devem saber a ocasião mais apropriada... O tipo já se sentia tocando a mulher de Tertuliano. Apressou-se a deixar sobre a mesa as chaves de seu veículo e de sua casa... Também deixou os documentos pessoais... E mais! Por entender que Tertuliano tinha razão a respeito dos “pormenores” que as mulheres sempre reparam, deixou sua “aliança de casamento, um lenço com as suas iniciais, um pente de bolso”.
Trocaram informações a respeito de onde seus carros estavam estacionados... Ambos conheciam os veículos um do outro... Também Antônio Claro havia deixado o documento de seu carro no porta-luvas.
Tertuliano quis saber se ele não levaria a barba postiça com a qual havia chegado... Antônio respondeu que a barba ficaria... Afinal havia sido adquirida pelo professor...
Enfim estava pronto para se retirar... Partiria para o encontro com Maria perfeitamente identificado como Tertuliano, professor de História... Garantiu que retornaria na manhã seguinte com a mesma cara para recuperar suas roupas e demais pertences.
(...)
No derradeiro momento Tertuliano e o “outro Tertuliano” se olharam mais uma vez.
O professor abriu a porta com todo cuidado... Não queria despertar a vizinhança para uma visão assustadora.
O Máximo Afonso conduziu sua visita à área de saída... O “outro Tertuliano” desceu a escadaria... O que um tinha a dizer ao outro fora dito... Era isso o que pretendiam desde o encontro na casa de campo.
O fim da história parecia se aproximar.
(...)
Tertuliano, o Máximo Afonso, fechou a porta que dava acesso aos “andares inferiores”. Fez isso vagarosamente... Silenciosamente.
É Saramago quem diz que se Cassandra ali estivesse sentenciaria que “é precisamente desta maneira que se baixa também a tampa de um caixão”.
Tertuliano estirou-se no sofá e fechou os olhos... Uma hora se passou... Não dormiu... Parecia calcular o tempo de percurso de seu carro conduzido pelo Antônio Claro... O tipo já devia estar na estrada com Maria.
Não havia como magoar-se com ela... A imagem da amada se apagava em seus pensamentos... Pensou no Antônio Claro, seu inimigo... Era certo que ele havia vencido a batalha... Mas outra estava por começar.
A injustiça prevaleceria?
(...)
Conforme a tarde caía, Tertuliano calculava o local onde seu veículo devia estar... Seguindo pelo conhecido desvio, Antônio Claro evitava o povoado e poupava tempo. Logo estaria diante de sua casa de campo.

(...)

Evidentemente o “outro Tertuliano” estava com as chaves do imóvel... Disse à Maria que o proprietário era um antigo colega de escola. Não eram amigos que trocavam confidências ou falavam de “assuntos particulares”, mas um confiava no outro e por isso ele lhe emprestara a casa.
Antônio (“outro Tertuliano”) disse que o proprietário não sabia que passariam a noite no local... Maria estava encantada com tudo, principalmente com o comprometimento do amado em solidificar cada vez mais a relação.
Ele a beijou e pediu para aguardá-lo no veículo, pois queria conferir se estava tudo em ordem nos interiores da casa... Evidentemente o tipo tratou de eliminar evidências que podiam estragar seu plano... Entre essas, um quadro com o retrato dele com Helena.
Ainda sentada no banco do passageiro, Maria contemplou a paisagem do entardecer no campo (“o vale, a linha escura de choupos e freixos que acompanha o leito do rio, os montes ao fundo, o sol que quase já roça a lomba mais alta”)...
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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