quinta-feira, 3 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – Antônio Claro morrerá meia hora antes de Tertuliano? nada de exames de DNA; o Senso Comum aparece no banco do carona; elogios à postura viril de Tertuliano

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_2.html antes de ler esta postagem:

Tertuliano tinha apenas mais uma questão intrigante... Se em tudo eram iguais, se até mesmo nasceram no mesmo dia, mês e ano, também aconteceria de morrerem no mesmo momento?
Antônio Claro quis saber por que o outro resolvera discutir tal temática... O professor sentenciou que “a morte sempre vem a propósito”... A frase deixou Antônio intrigado porque na sequência ele se lembrou da ocasião em que haviam se falado por telefone, quando Tertuliano também fizera referência à morte... Teria ele uma “obsessão mórbida”?
Tertuliano esclareceu que, quando telefonou, as palavras simplesmente vieram à sua boca sem serem efetivamente pensadas... Mas evidentemente não era o caso desse momento em que acabavam de conferir suas semelhanças... Ele quis saber se falar sobre a morte incomodava o ator.
Não havia problema para Antônio Claro... Então Tertuliano disse que, como em absolutamente tudo eram iguais, podia ocorrer de morrerem no mesmo dia... É claro que, já que Antônio era mais velho trinta minutos, não seria de se estranhar se morresse meia hora antes do seu “igual”... Além disso, isso significa que durante trinta minutos ele (Tertuliano) seria o original.
Antônio Claro deu de ombros para aquela possibilidade... Desejou que ele vivesse bem os “trinta e um minutos de identidade pessoal”... O que contava para ele era o fato de que, enquanto estivesse vivo, aquilo não ocorreria.
Tertuliano apenas comentou que a última frase de Antônio era muito simpática... Ajeitou a barba postiça no rosto e pôs-se a sair... Antes, porém, disse que faltava apenas um teste que talvez trouxesse “mais luz” ao fenômeno do qual eram sujeitos... O teste de DNA para conferir a informação genética de cada um...
Antônio Claro foi incisivo ao dizer que não concordava de jeito nenhum... Tertuliano acabou se convencendo... Ele mesmo pôs-se a refletir sobre a absurda situação... Os dois chegando a um laboratório para coletar amostras... O resultado seria definitivo...
Certificariam uma mera coincidência ou uma aberração... O ator disse isso... Tertuliano concluiu com um “ou fenômenos de feira”... Nenhum dos dois suportaria aquilo... Era evidente... E nisso concordavam... Pelo menos nisso!
(...)
Despediram-se com o “boas tardes” tradicional...
O sol já não podia ser avistado, pois estava atrás das montanhas... O céu não tinha nuvens e estava luminoso...
“A intensidade crua do azul fora temperada por um pálido tom rosado que lentamente se expandia”.
Tertuliano já estava na estrada que dava para o povoado... Olhou para trás e pôde enxergar o vulto de Antônio Claro... Nem um nem outro fez qualquer aceno de despedida.
(...)
Quem “apareceu” no banco do carona foi o Senso Comum... O invisível foi logo soltando uma de suas ironias... Disse que era ridículo Tertuliano prosseguir dirigindo mantendo a barba postiça.
O professor respondeu que antes de chegarem à estrada tiraria o acessório... Garantiu que jamais o usaria novamente... Emendou que não precisava se disfarçar... Se o outro quisesse que se virasse...
O Senso Comum advertiu que talvez ele não pudesse afirmar com tanta certeza. Tertuliano o corrigiu ao dizer que era mais um pressentimento. Na sequência a entidade manifestou sua admiração pela postura do professor durante o encontro... Portou-se como homem!
Tertuliano respondeu que para ele isso não era novidade. O Senso Comum observou que normalmente suas fraquezas se sobrepunham às forças... Mas daquela feita havia sido diferente...
Então todo aquele que não está sujeito às fraquezas é homem? Tertuliano quis saber... O Senso respondeu que aquele que consegue dominá-las também o é.
Se assim era, as mulheres que dominam suas fraquezas seriam como homens?
O Senso Comum respondeu que, “em sentido figurado”, seria isso mesmo.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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