segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Dubreuilh levanta suspeita sobre o caráter de Peltov; animados, Lambert e Samazelle falam de estimativas acerca da colossal quantidade de pessoas presas em campos de trabalho forçado; Henri pensa nos momentos de prazer vivenciados naquele dia e se incomoda com as estimativas referentes às perseguições realizadas pelo regime e as mazelas da humanidade; Peltov é apresentado e inicia o seu depoimento; Lambert traduz as informações sobre a exploração soviética de um “sub-proletariado”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-as.html antes de ler esta postagem:

Estamos no ponto em que Dubreuilh conversava com Samazelle a respeito das informações coletadas a respeito de George Peltov, que apareceria para esclarecer o dossiê apresentado por Sacriassine... Como sabemos, Henri e Lambert tinham acabado de chegar para a reunião.
(...)
Para Dubreuilh, se a identidade do denunciante estava devidamente comprovada, o mesmo não se podia dizer em relação ao seu caráter... Samazelle insistiu que as informações contidas no dossiê eram precisas e que os russos reconheciam “a existência dos campos e o internamento administrativo”. Dubreuilh quis saber quantos homens estavam nesses campos... Lambert interveio e afirmou que quando estivera na Alemanha no ano anterior ficou sabendo (através de boatos, é verdade) que o número de prisioneiros em Buchenwald aumentou muito depois da libertação promovida pelos russos... A totalidade girava em torno de quinze milhões... Samazelle considerou a quantidade moderada.
Henri sentiu-se incomodado ao ouvir os dados estimados do número de perseguidos pelo regime comunista... Era muita coisa que os opositores falavam... Sem dar muito crédito folheou o dossiê... Na verdade não confiava plenamente em Scriassine... Todavia o fato estava posto, pois o ex-funcionário era real e até Dubreuilh “levava o caso a sério”...
(...)
Henri refletiu sobre o seu dia marcado pelo confortável e luxuoso almoço no “Iles Borromées” com Josette e os tipos da imprensa ilustrada... Enquanto aquilo ocorria (em todos os cantos da terra) “homens estavam sendo explorados, sofriam com a fome e eram assassinados”...
(...)
De repente Scriassine chegou om o tipo “de cabelos pretos e prateados”, “de rosto tão imóvel como o de um cego de nascença”... George Peltov era alto e “vestia-se impecavelmente”...
Scriassine o apresentou pelo primeiro nome, observou o escritório e fez perguntas sobre a segurança do lugar e sobre os moradores do andar de cima... Dubreuilh explicou que o vizinho era “professor de piano”, um tipo “inofensivo”... Os moradores de baixo estavam viajando... Depois de acomodados, Scriassine disse que George podia falar em alemão ou em russo, resumiria e comentaria os documentos que trazia... Como a “questão dos campos de trabalho” era a mais “terrificante”, iniciaria por ela...
(...)
Lambert disse que não haveria problema se o dissidente falasse em alemão porque ele estava disposto a traduzir... Scriassine transmitiu isso e Peltov pôs-se a falar... Mergulhou para dentro de si e, como se estivesse tendo visões, manteve o olhar fixo, falando apaixonadamente...
Lambert seguiu traduzindo... Fez entender que o outro dizia que os campos de trabalho não eram algo acidental que algum dia seria abolido... Os investimentos do Estado soviético exigiam excedentes que só podiam ser obtidos a partir de “trabalho suplementar”... Assim, diminuir o recrutamento de trabalhadores livres significaria (evidentemente) diminuir a produtividade... Essa situação propiciou a formação de um sub-proletariado que recebia “um estrito mínimo vital” em troca do “trabalho máximo”... É claro, garantia Peltov, isso só era possível “mediante um sistema concentracionista”.
Peltov prosseguia seu depoimento, Lambert ia traduzindo e todos o ouviam com atenção... Na sequência, o dissidente tratou dos abusos em relação ao “trabalho corretivo”... Este existia desde o início do regime, mas foi a partir de 1934 que a NKVD passou a dar ordens para o internamento em campos de trabalho por períodos de até cinco anos... As penas maiores passavam por “julgamento preliminar”... Entre 1940 e 1945 houve certo esvaziamento desses campos para engrossar o exército... Muitos morreram de fome... Após a guerra eles voltaram a ser povoados.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas