terça-feira, 10 de dezembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Peltov fala sobre os campos soviéticos de trabalho, esclarece a condição desumana a que os prisioneiros são submetidos e apresenta os documentos; Henri se revoltou com as informações, pois não conseguia admitir que também na URSS havia exploração de seres humanos até a morte; Scriassine tenta sensibilizar os presentes a tomarem uma posição favorável às denúncias; Samazelle e Lambert concordam, mas Dubreuilh apresenta alguns entraves

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html antes de ler esta postagem:

Peltov fazia seu depoimento ao mesmo tempo em que abria documentos... Foi assim que revelou os campos de Caraganda, Tzardskuy, Uzbek aos presentes...
(...)
Na verdade, menos que campos, tratavam-se de “porções de estepe gelada, charcos, abarracamentos apodrecidos, em que homens e mulheres trabalhavam quatorze horas por dia, em troca de seiscentos gramas de pão. Morriam de frio, de escorbuto, de desinteria, de esgotamento. Quando se tornavam fracos demais para o trabalho, eram encurralados nos hospitais, onde sistematicamente morriam de fome”.
(...)
Henri revoltou-se com as informações... Peltov bem podia estar mentindo, pois em sua condição (distante do país) ficava-se à vontade para falar qualquer coisa... O tipo só podia ser suspeito...
Ele olhou para Dubreuilh, mas não conseguiu detectar nenhuma reação em sua fisionomia... Provavelmente duvidasse de tudo aquilo (essa era a sua “norma”)... “A dúvida é nossa primeira defesa; mas não se deve tampouco confiar nela”... Henri lembrou-se que em 1938 duvidava que logo ocorreria guerra; em 1940 duvidou das câmaras de gás”... Sinceramente lamentava, pois tinha certeza que Peltov exagerava em seus relatos... Mas também desconfiava de que nem tudo o que dizia fosse invenção... Ao observar novamente o dossiê (que anteriormente julgara “sem sentido”), associava os papéis às palavras do fugitivo e montava um panorama terrível em sua mente...
Henri via os textos oficiais (traduzidos para o inglês) que tratavam dos campos... Havia testemunhos de observadores americanos, de “deportados entregues aos nazistas”...
Ele percebeu com amargura que até Dubreuilh deveria concordar que também “na União Soviética homens exploravam outros homens até a morte!”.
(...)
Depois que Peltov se calou, Scriassine questionou os presentes... Intelectuais que eram, aceitavam “uma ditadura de espírito”... Poderiam endossar aqueles crimes contra a humanidade?
Samazelle foi o primeiro a se pronunciar dizendo que não havia dúvidas... Dubreuilh manifestou-se em relação à falta de informações sobre os motivos que teriam levado Peltov a evadir-se da URSS... Além disso, seria necessário saber os motivos de ele ter colaborado com o regime por tanto tempo... Em sua opinião, razões excelentes deviam ser apresentadas por aquele que fazia as comprometedoras acusações...
É claro que Dubreuilh não queria correr o risco de auxiliar qualquer manobra antissoviética... Então explicou que apenas metade do comitê do SRL estava presente. Samazelle deu a sua opinião em relação ao voto que concluiriam ali como tradução da decisão do SRL.
Lambert se mostrou indignado, pois considerava que não havia motivos para hesitação... Mesmo que apenas quarta parte do que Peltov havia dito fosse verdade, seria necessário “anunciar através de alto-falantes”... E sintetizou que campo de concentração, nazista ou soviético, dá no mesmo... Não há lógica em combater os de um grupo para “encorajar outros”...
Dubreuilh entendeu a colocação de Lambert, mas alertou que não tinham o poder de “modificar o regime da URSS”... Poderiam, sim, agir na França a partir dos conceitos que ali se fazia da União Soviética...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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