segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Henri e Lachaume discutem a respeito do artigo de Ficot sobre Dubreuilh; o intuito de “L'Enclume” era manter os jovens afastados das ideias de Dubreuilh; Lachaume concorda que o texto era muito duro e deixa escapar que havia diferenças no partido; Perron questiona a respeito da falta de liberdade na revista; Lachaume defende que “o partido detém o melhor bocado”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_1.html antes de ler esta postagem:

Henri estava no Bar Rouge... Ali encontrou Vincent, Lachaume e Sézenac. Enquanto tomava um café conversava com Lachaume. Vimos que ele aproveitou para dizer ao moço o que pensava a respeito do artigo sobre Dubreuilh, publicado no mês anterior.
(...)
Lachaume disse que já conhecia sua opinião, pois Vincent havia lhe falado a esse respeito. Completou afirmando que as críticas a Dubreuilh feitas por Ficot não podiam ser desmentidas... Henri criticou o fato de associarem Dubreuilh a um “inimigo da classe operária”... E justamente Lachaume, que no ano anterior (e naquela mesma mesa) falava que deveriam trabalhar “ombro a ombro”... Então, garantia Henri, a publicação só podia ser comparada a uma imundície...
O rapaz argumentou que L’Enclume nunca publicou algo contra Henri... Perron não se iludia e disse que não podia garantir que ficaria livre de ataques comunistas indefinidamente... Sua indignação estava no teor dos ataques a Dubreuilh, e num momento em que as partes se tratavam de modo polido... Lachaume reconheceu que a ocasião era imprópria e que, além disso, “Ficot foi um pouco forte”. Mas, ainda assim, Lachaume não tirava a razão das críticas a Dubreuilh que, com seu “humanismo medíocre” e “loquacidade banal” podia influenciar os jovens. E sintetizou afirmando que a proposta política de Dubreuilh era “conciliar o marxismo com os velhos valores burgueses”...
Henri, sempre defendendo Dubreuilh, respondeu que ele era a favor de outra coisa... E não se conformava que os ataques em L’Enclume não tivessem sido nesses termos. Em vez disso, apresentaram-no “como um cão de guarda da burguesia”. Lachaume explicou que aquela linguagem era necessária para que a mensagem fosse compreendida pelos leitores. Henri não aceitou a argumentação e disse que L’Enclume era lido por intelectuais...
Lachaume respondeu que não havia escrito o artigo... Isso era verdade, mas, como bem lembrou Perron, ele havia aceitado o texto. O rapaz disse que se a revista fosse dele e de seus companheiros, trataria o debate com Dubreuilh na base da discussão, e não do insulto... Então Henri aproveitou aquela fala para fazer uma provocação sobre a falta de condição de se expressar numa revista devido à falta de liberdade... Perguntou se permanecer em L’Enclume, estando em desacordo,  não o tornava indisposto.
Sobre isso, Lachaume respondeu que era preferível que fosse ele a outro qualquer, e enquanto não criassem caso com ele, permaneceria na revista.
Henri se espantou com a possibilidade revelada por Lachaume... O moço respondeu que “o PC não é o SRL” e que “quando duas tendências se defrontam, os vencidos se tornam facilmente suspeitos”. Perron lembrou-o de que tempos atrás ele mesmo o chamava a integrar o PC, então se admirava de a saída do rapaz não ser algo impossível... Lachaume respondeu que nunca sairia, embora soubesse que intelectuais do partido esperavam a sua desfiliação... Finalizou com um “a gente aprende a engolir”.
Perron fez questão de dizer que aquela condição de contemporizar com a oposição na atuação política, para ele, era inadmissível... Lachaume quis se justificar dizendo que aquilo de “aprender a engolir” só é possível quando se entende que “o partido detém o melhor bocado” e é por ele que as diferenças pessoais devem ser postas à parte...
O moço estava convencido de que “só os comunistas faziam o trabalho útil”, então não se importava com os episódios de desconforto entre os que compõem o partido... Preferia suportar o desprezo (por manter-se firme às convicções) a retirar-se...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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