Henri estava no Bar Rouge... Ali encontrou Vincent, Lachaume e Sézenac. Enquanto tomava um café conversava com Lachaume. Vimos que ele aproveitou para dizer ao moço o que pensava a respeito do artigo sobre Dubreuilh, publicado no mês anterior.
(...)
Lachaume disse que já conhecia sua opinião, pois Vincent havia lhe
falado a esse respeito. Completou afirmando que as críticas a Dubreuilh feitas
por Ficot não podiam ser desmentidas... Henri criticou o fato de associarem
Dubreuilh a um “inimigo da classe operária”... E justamente Lachaume, que no
ano anterior (e naquela mesma mesa) falava que deveriam trabalhar “ombro a
ombro”... Então, garantia Henri, a publicação só podia ser comparada a uma
imundície...
O rapaz argumentou que L’Enclume nunca publicou algo contra
Henri... Perron não se iludia e disse que não podia garantir que ficaria livre
de ataques comunistas indefinidamente... Sua indignação estava no teor dos
ataques a Dubreuilh, e num momento em que as partes se tratavam de modo
polido... Lachaume reconheceu que a ocasião era imprópria e que, além disso,
“Ficot foi um pouco forte”. Mas, ainda assim, Lachaume não tirava a razão das
críticas a Dubreuilh que, com seu “humanismo medíocre” e “loquacidade banal”
podia influenciar os jovens. E sintetizou afirmando que a proposta política de
Dubreuilh era “conciliar o marxismo com os velhos valores burgueses”...
Henri, sempre defendendo Dubreuilh, respondeu que ele
era a favor de outra coisa... E não se conformava que os ataques em L’Enclume não tivessem sido nesses
termos. Em vez disso, apresentaram-no “como um cão de guarda da burguesia”.
Lachaume explicou que aquela linguagem era necessária para que a mensagem fosse
compreendida pelos leitores. Henri não aceitou a argumentação e disse que L’Enclume era lido por intelectuais...
Lachaume respondeu que não havia escrito o artigo... Isso era verdade,
mas, como bem lembrou Perron, ele havia aceitado o texto. O rapaz disse que se
a revista fosse dele e de seus companheiros, trataria o debate com Dubreuilh na
base da discussão, e não do insulto... Então Henri aproveitou aquela fala para
fazer uma provocação sobre a falta de condição de se expressar numa revista
devido à falta de liberdade... Perguntou se permanecer em L’Enclume, estando em desacordo,
não o tornava indisposto.
Sobre isso, Lachaume respondeu que era preferível que fosse
ele a outro qualquer, e enquanto não criassem caso com ele, permaneceria na
revista.
Henri se espantou com a possibilidade revelada por Lachaume... O moço
respondeu que “o PC não é o SRL” e
que “quando duas tendências se defrontam, os vencidos se tornam facilmente
suspeitos”. Perron lembrou-o de que tempos atrás ele mesmo o chamava a integrar
o PC, então se admirava de a saída do rapaz não ser algo impossível... Lachaume
respondeu que nunca sairia, embora soubesse que intelectuais do partido esperavam
a sua desfiliação... Finalizou com um “a gente aprende a engolir”.
Perron fez questão de dizer que aquela condição de contemporizar com a
oposição na atuação política, para ele, era inadmissível... Lachaume quis se
justificar dizendo que aquilo de “aprender a engolir” só é possível quando se
entende que “o partido detém o melhor bocado” e é por ele que as diferenças
pessoais devem ser postas à parte...
O moço estava convencido de que “só os
comunistas faziam o trabalho útil”, então não se importava com os episódios de
desconforto entre os que compõem o partido... Preferia suportar o desprezo (por
manter-se firme às convicções) a retirar-se...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-ao.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto