domingo, 1 de dezembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – contrastando com sua felicidade, Henri surpreende Paule mergulhada em suas lembranças do passado; mais uma vez o assunto foi a necessidade de ela se envolver em novas atividades; Paule discorda completamente e não aceita que Henri decida o seu procedimento ético; ela não quer uma relação alicerçada apenas na amizade, e garante que ele não precisa se culpar por seus “desvios de conduta”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_30.html antes de ler esta postagem:

Henri estava em estado de graça... Passou a noite com Josette e sentia-se renovado... De manhã passearam pelo parque de diversões... Havia nele uma mistura de encantamento e compaixão, já que a via vulnerável perante a mãe, os traumas do passado e com as incertezas quanto ao rumo que deveria tomar. A bela Josette era ingênua e Henri se perguntava como poderia auxiliá-la.
Depois de se despedirem, ele seguiu para o apartamento de Paule... Eram apenas 11 horas da manhã, então chegaria cedo e por isso resolveu levar um Bordeaux.
(...)
Silenciosamente Henri se aproximou da porta, e dali pôde ver que Paule estava de joelhos no tapete, onde havia um amontoado de papéis antigos (cartas dele) e fotografias... A moça retinha uma delas nas mãos e a contemplava. Não estava chorando... Provavelmente alimentasse alguma esperança...
Henri entrou e bateu a porta de modo a anunciar a sua chegada... Isso a alertou e ela recolheu as cartas e fotografias. Ele perguntou-lhe o que estava fazendo... Paule disse que não o esperava àquela hora e respondeu que relia as antigas cartas.
A poltrona estava forrada de papéis, objetos de sua veneração... Henri observou tudo isso enquanto colocava o vinho sobre a mesa. Disse-lhe que não devia se “enterrar no passado”... Lamentando que não estivesse pronta para recebê-lo, Paule pediu que aguardasse até que arrumasse a mesa e se retirou para a cozinha.
Henri se dirigiu às cartas, mas foi impedido pela violenta intervenção dela... Paule gritou, agarrou a papelada e a atirou no armário. Ele deu de ombros para a iniciativa tresloucada...
A mesa foi arranjada e eles se postaram um de frente para o outro... Paule serviu entradas, enquanto Henri oferecia o Bordeaux e sugeria que ela saísse algumas vezes para não se entediar... A moça respondeu que não via motivos para sair e, além disso, gostava daquele ambiente.
Henri argumentou que, se ela não admitia voltar a cantar, podia arranjar outra coisa para fazer... Paule destacou que, aos trinta e sete anos, não sabia nenhum ofício... Sobre isso, Henri disse que não era problema, pois sempre se poderia aprender algum. Ela perguntou-lhe se desejava que passasse a ganhar a vida com algum trabalho... Perron respondeu que a questão não era dinheiro, mas que ela se interessasse por algo... Paule quis arrematar dizendo que se interessava pela relação entre eles, e que isso lhe bastava há dez anos.
(...)
Foi nesse momento que Henri se encheu de coragem para dizer que as coisas haviam mudado, e que ela bem sabia disso... A relação havia se transformado em amizade e o que importava para ele era que ela recuperasse a independência...
Paule respondeu que entre os dois não seria possível uma relação de amizade... Falou sobre a chegada dele vinte minutos antes da “hora fixada” e do modo febril ao bater a porta... Disse isso querendo mostrar que aqueles não eram “modos de amigo”...
Sua teimosia deixava Henri irritado... Paule se fechou e terminaram a refeição em silêncio.
Depois ela perguntou se ele voltaria à noite... Ouviu um “não”, então comentou que ele já não retornava com frequência para o apartamento... Perguntou se aquele procedimento era parte do “novo plano de amizade”...
Henri respondeu que simplesmente as coisas aconteceram daquela forma. Paule se justificou e disse que o amava com toda generosidade e respeito à sua liberdade... Esclareceu que se tornara indiferente a todo e qualquer procedimento banal dele, e isso incluía possíveis omissões de sua parte a respeito de outras mulheres... Assim, não era por causa dela que ele deveria se sentir culpado.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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