Henri não resistiu ao encanto, ingenuidade e carências de Josette e acabou cedendo à sua insistência para que a acompanhasse ao encontro social no “Iles Borromées”... Logo que chegou, porém, viu que aquele não era um ambiente para os seus... Viu Josette se realizando e refletiu sobre como Dubreuilh e Anne se espantariam ao vê-lo estampado nas reportagens ilustradas...
(...)
O momento foi todo de Josette... Henri pensava sobre quantas vezes ela
tivera oportunidade de sorrir durante a vida... Certamente bem poucas... Ele
concluiu que “as mulheres não são alegres”... Pensou em Paule e no modo pífio
como a relação entre eles terminou... Nadine não recebeu nada dele...
Esperava realizar Josette
em suas aspirações materiais... Quem sabe dessa vez não seria bem diferente?
Dois jornalistas se aproximaram... Henri sorriu para
as câmeras.
(...)
Depois do almoço marcado pela celebração à futura estrela dos palcos no
luxuoso restaurante, Henri seguiu para a casa de Lambert... Logo que desceu do
táxi topou com Nadine... Ao vê-lo, a moça comentou com espanto que até ele
havia aparecido e emendou com um “coisa louca o que cerca o pobre órfão”.
Henri quis corrigi-la dizendo que aquela história nada
tinha de engraçado... Nadine deu de ombros e opinou que Lambert nada perdia com
a morte do pai... Ela garantiu que sabia que devia cumprir outro papel naquele
momento de tristeza para o rapaz, mas não podia... Ainda mais que Volange
apareceu e estava com ele naquele momento... Henri não gostou de saber que
Louis Volange estava com Lambert (e nem de saber que suas aparições eram
constantes na casa).
Henri chegou à porta e Lambert o saudou pela gentileza da visita; Louis
surpreendeu-se com a “felicidade do acaso”... Há meses não se viam... Henri refletia
sobre o fato de Lambert não lhe falar sobre as constantes visitas daquele
tipo... Observou o terno de flanela do rapaz (que carregava uma tarja preta ao
lado) e percebeu que ele não se esforçava para afastar o estereótipo do “órfão
acabado”...
Henri disse-lhe que o fato de não querer sair de casa por aqueles dias
era normal, mas ocorreria uma reunião à tarde na casa de Dubreuilh para definir
decisões de L’Espoir... Sem entrar em detalhes, ele estava se referindo ao
dossiê obtido por Scriassine e à entrevista com o refugiado soviético...
Não é que o comparecimento de Lambert fosse tão necessário, mas Henri
queria colocar um fim em seu estado de enlutado... O rapaz comentou que não
estava com a cabeça boa para retomar as atividades. Disse que pensava na morte
do pai e que era com certa convicção que refletia sobre as advertências de
Volange acerca de dúvidas que envolviam a morte de seu pai... Para Louis, o
velho havia sido assassinado.
Henri se espantou com aquela hipótese... Lambert justificou-a dizendo
que, além de as portinholas não se abrirem sem serem acionadas por alguém, o
suicídio (após absolvição no processo) não se sustentava...
Louis acrescentou que aquele não era um caso
isolado, e citou outros (Péral e Molinari) que também “caíram de um trem” depois
de serem absolvidos... Henri tentou levantar outras considerações que tinham de
ser cogitadas e falou sobre a condição emocional e do cansaço do senhor
Lambert... Isso também poderia ter provocado transtornos no velho... Lambert
não admitia e disse que ainda descobriria o autor do assassinato.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-as.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto