É claro que o ambiente de “Iles Borromées” em nada lembrava os bares que costumeiramente Henri frequentava... Josette disse que já havia feito a reserva... Ele pegou o telefone no mesmo instante com a intenção de cancelar... Porém ela o impediu e disse que “todos os esperavam”.
Então Henri ficou sabendo que o evento era uma ideia de Lucie Belhomme para engatilhar a publicidade e carreira da filha... Os jornalistas estariam presentes para registrar “a conversa do autor com a atriz”... O protesto foi agressivo... Henri negou peremptoriamente e disse que se ela quisesse ser fotografada deveria se contentar com a sua ausência...
A moça começou a chorar e a lamentar porque mandou fazer um vestido especial para a ocasião... Ela esteve muito animada quando se preparava, no entanto, com sua resistência, Henri a arrasava.
Ele disse que havia muitos outros restaurantes agradáveis... Josette tinha os olhos cheios de lágrimas e insistia dizendo que a aguardavam... Suplicou-lhe que fizesse algo por ela... Henri perguntou o que ela fazia por ele... A moça desesperada respondeu que não era a mesma coisa... Ele perguntou se realmente ela desejava comparecer àquele almoço requintado... Ela explicou que se tratava de um evento social muito importante para a sua carreira... Henri disse-lhe que bastava ela fazer bem a parte que havia assumido que falariam bem dela.
Perron dobrou-se aos apelos de Josette... Ela explicou que teria de aproveitar as chances que apareciam... Revelou que era um sacrifício também para ela, que não suportava ser advertida pela mãe em público sobre o que calçava ou vestia... Ele quis consolá-la dizendo que não via nenhum defeito em seu modo de ser... Josette arrematou dizendo que ele não entendia “o que é a vida de uma mulher que não se realizou”... Ele respondeu que ela conseguiria o que bem quisesse... Depois, dando-se por vencido, disse que se pretendia ser fotografada ao seu lado no “Iles Borromées” isso ocorreria.
(...)
Então seguiram para o evento... Enquanto desciam a
escada, ela quis saber por que ele não tinha um carro... Ele perguntou se ela
não havia percebido que ele não possuía dinheiro... Já no táxi, Josette
perguntou se ele não gostava de dinheiro, e Henri respondeu que todos gostam,
mas no seu caso o dinheiro não estava acima de tudo... Josette quis se
justificar dizendo que não gostava do dinheiro acima de tudo, mas gostava muito
“das coisas que se compram com ele”.
Henri abraçou Josette e a encheu de esperança... Disse que podia ser que
sua peça se tornasse um grande sucesso e isso os enriqueceria... Então ele
compraria coisas que ela apreciasse e, eventualmente, a levaria a bons
restaurantes...
(...)
Ao chegarem ao “Iles Borromées”, Henri foi tomado por terrível
angústia... Tudo ali o desagradava: jardins floridos, mulheres e homens
empetecados, perfumados e cheios de joias... Perguntava-se o que estava fazendo
ali...
Josette sorria e tentava engajá-lo ao mesmo tempo em que se esforçava
por mostrar-se triunfante perante os convidados... Em seus pensamentos, Henri a
comparava com Paule... Notava que Josette era sincera até em seus desejos
sórdidos... Paule, que quase nunca mentia, não conseguia transmitir tanta
sinceridade nos gestos e falas...
Henri ficou a imaginar também as reações de Dubreuilh e Anne ao terem acesso
à reportagem ilustrada...
Ele queria evitar o almoço, considerava-se “puritano”
como os seus mais chegados companheiros... Ali as pessoas esbanjavam... Ele não
teria dificuldade em pagar a conta, mas definidamente não era o seu ambiente...
Perguntou a Josette se ela estava contente. A moça respondeu que ele era muito
gentil... Garantiu-lhe que só ele mesmo poderia proporcionar-lhe ocasião tão
feliz...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_7.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto