Henri estava conversando com Lachaume... Ele fez críticas ao texto que havia saído em L’Enclume . O rapaz defendeu o sectarismo de Ficot, embora concordasse que teria feito diferente, quer dizer, não atacaria Dubreuilh... Henri notou que a filiação do moço ao PC era incondicional, mas isso significava também ter de suportar certos desconfortos e “aprender a engolir”.
(...)
Ele entendeu as palavras de Lachaume... No final das contas, quem
poderia ser considerado íntegro? Ele mesmo estava vinculado ao SRL sem se importar com a opinião que
tinha em relação ao “insucesso” da atuação da agremiação... Lachaume aceitou
conviver com os métodos que desaprovava...
Quem participa “de corpo inteiro nos atos”?
(...)
No momento mesmo em que
Perron quis retirar-se, pois iria para o jornal, Vincent argumentou que também
iria. Sézenac emendou que sairia com eles, mas Vincent disse que precisava
trocar umas palavras com Henri...
Então Vincent e Henri saíram do bar... Perron quis
saber como é que Sézenac estava se virando... Vincent disse que o outro lidava
com tradução, mas ninguém sabia ao certo a respeito de quê... Sézenac era um
tipo que mergulhava nos entorpecentes e vivia sem endereço certo, pois passava
as noites nas casas dos amigos. Naquela ocasião era Vincent quem o acolhia.
Henri o alertou para tomar cuidado, pois os viciados “vendem pai e mãe”... Com
um tipo desesperado como Sézenac não era aconselhável compartilhar segredos e
compromissos.
Vincent queria falar a respeito da peça de Henri... Todos diziam que
seria apresentada “em outubro no Studio 46 e que a estrela seria a pequena
Belhomme”... Henri disse que era verdade e que naquela mesma noite assinaria o
contrato com Vernon. Vincent explicou que a mãe de Josette “teve a cabeça
raspada, e não sem razão”... Esclareceu que se tratava de uma colaboracionista,
que possuía um castelo na Normandia e havia recebido vários oficiais alemães
com os quais dormia... Ressaltou que era certo que a pequena Belhomme também
estivera a serviço dos nazistas.
Henri disparou que aqueles mexericos não eram assunto
para ele... Acaso Vincent fazia investigações policiais? O moço respondeu que havia
um dossiê com fotografias e cartas. Os amigos de Vincent tiveram acesso à documentação...
Ele próprio não conhecia o material... Perron esclareceu que aquilo não lhe
dizia respeito... Vincent respondeu que todos deviam ter o compromisso de
impedir que “os salafrários” retornassem “à direção do país”...
Perron se irritou com aquela pregação toda. De sua parte, Vincent
esclareceu que “a Belhomme não estava sendo visada”, mas sob vigilância. Fez
questão de falar com Henri porque entendia que seria bem desagradável ele ter
de encarar complicações por causa daquela situação específica. Vincent queria
preveni-lo, mas Henri garantiu que o rapaz não precisava se preocupar...
Prosseguiu em silêncio até o jornal, mas, em seu íntimo, Henri pensava
em Josette participando dos festins dos oficiais nazistas... “A mãe, mais de
uma vez, a havia vendido”... Ele pensava sobre essas coisas e ao mesmo tempo
sustentava que esperava dela algumas noites mais...
(...)
Durante o jantar, Henri observava a pequena
Josette a sorrir para Vernon... Não havia dúvida de que ele estava angustiado,
e esperava o momento de maior intimidade para perguntar-lhe a respeito do que
Vincent falara.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_4.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto