Eros desceu ao mundo dos mortais. Veio para cumprir a tarefa estabelecida por Afrodite, para quem a beleza de Psique era uma afronta. Mas Eros não se conformava... Sabia que a mãe sempre fora boa para com os mortais e nunca manifestara tanta inveja como em relação à jovem princesa.
O seu drama naquele instante era cumprir uma tarefa que em síntese primava por ser totalmente contrária às suas convicções e identidade de “deus do Amor, ícone do desejo e do prazer”... Mas sabia que não podia falhar sob pena de sofrer severa punição.
Ele contemplou as feições de Psique de modo apaixonado mais uma vez antes de se fazer algoz... Notava que esteticamente a princesa se assemelhava a uma “estátua esculpida por um artista apaixonado”. Chegou mesmo a proferir que sentia profunda dor por cometer aquela injustiça e que preferia morrer a ter de derramar-lhe o feitiço... Mas o senso de dever foi maior e despejou a gota amarga no rosto da donzela...
Por um breve instante Psique tornou-se esverdeada... Aquela transformação foi pesarosa para Eros, que deitou a cabeça no colo da sentenciada e chorou. Ele trazia escondido um frasco contendo água doce e, na tentativa de atenuar ou diminuir os efeitos cruéis do feitiço, decidiu “ministrar” uma gota...
Mas aconteceu que no momento em que ia fazer isso, a moça despertou e se assustou. O resultado foi que toda a água doce que trazia caiu sobre o seu rosto... O susto levou Eros a se ferir acidentalmente com a ponta de uma das flechas que trazia costumeiramente.
Sem conseguir tornar-se invisível novamente, a divindade procurou se retirar o mais rápido que podia, porém o máximo que conseguiu foi colocar-se num ponto escuro do quarto. Psique conseguiu notar que havia um estranho no aposento e gritou por socorro. Só então Eros percebeu-se ferido pela própria flecha e ficou apavorado... A princesa exigiu que ele se revelasse, mas Eros garantiu que não podia fazer isso, confessou-se apaixonado por ela, que doravante não poderia mais deixar de pensar nela e prometeu que tornaria a vê-la.
Depois voou pela janela...
(...)
Os gritos de Psique acordaram o pai, que se dirigiu até ela munido de um
punhal. Ele perguntou o que havia ocorrido e ela respondeu que um homem havia
entrado pela janela... O rei, que mal conseguia dormir devido às suas
preocupações com o futuro da família e o destino do país, ficou abalado. Porém
não pôde deixar de destacar que uma invasão ali era impossível, pois o castelo
estava totalmente resguardado por vigias de sua guarda armada... A menos que o
intruso fosse uma divindade... Então Psique revelou que viu que um vulto saiu
voando pela janela... O rei quis fazê-la entender que ela teria se assustado
com algum sonho ruim, apenas isso.
(...)
Psique só se tranquilizou e dormiu com a garantia de que o pai
permaneceria velando o seu sono... De sua parte, o rei estava mesmo preocupado com
o episódio. Via que se tornava cada vez mais difícil cumprir a promessa que
fizera aos deuses... Um apaixonado anônimo invadindo o quarto de Psique! Aquilo
não poderia terminar bem.
É claro que o rei colocaria tropas no encalço de qualquer suspeito de
tamanha ousadia... O assunto seria muito comentado e desgastaria a imagem da
família... Talvez tivesse de pensar na possibilidade de casar Psique “com
alguém forte o bastante para protegê-la”.
(...)
Um mês se passou e não houve uma noite sequer
sem que a princesa reclamasse a presença do pai para que pudesse dormir...
Então o rei enviou uma mensagem ao reino vizinho para anunciar que aceitava
ceder a mão de Psique ao príncipe mais velho e, além disso, concedia que
Téssora se casasse com o mais novo.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/12/eros-e-psique-partir-de-texto-de-joao_26.html
Leia: Eros e Psique. Coleção Mitológica. Editora Paulus.
Um abraço,
Prof.Gilberto