quinta-feira, 1 de junho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 8 de agosto de 1895; sobre o primo Lucas, tempo de estudo em Ouro Preto e desperdício do dinheiro dos pais; “A Casca”, jornalzinho da família criado por Lucas; queijos que mais se pareciam com borracha; a venda de Lucas e as provocações da garotada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley.html antes de ler esta postagem:

Lucas era um dos primos de Helena. Sem entrar em maiores detalhes a respeito da filiação do moço, ela informa que ele passara algum tempo em Ouro Preto, onde seus pais esperavam que estudasse... Mas aconteceu que o rapaz não se dedicou à formação e ainda por cima andou gastando dinheiro. Por isso teve de retornar para Diamantina.
Reservaram algumas tarefas para Lucas no sítio da família “na Lomba”. Helena não entendia como ele não tinha se acertado com os estudos, já que era divertido e inteligente também.
Foi Lucas quem criou um jornalzinho que circulava entre os tios, primos e primas. O folhetim chamava-se “A Casca” e tinha por princípio divulgar textos que “descascavam” os familiares. De modo simplificado, isso significava que as publicações deviam expor situações engraçadas nas quais os parentes se envolviam.
(...)
Helena registrou sobre esses episódios no dia 8 de agosto de 1895.
Leontino, que tinha letras das mais bonitas ficou responsável pela cópia das “matérias” de “A Casca”.
A ideia era a de todos contribuírem com redações. Desde o princípio, Helena quis evitar se expor. Não queria publicar nada porque sabia que os primos “a descascariam”.
O próprio Lucas foi quem mais a provocou com seus textos no jornalzinho. Depois de suportar um bocado, ela resolveu escrever um artigo.
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O título da redação de Helena  era “Ferradura de Mosquito”. Sem fornecer maiores detalhes a respeito de seu texto, ela nos dá a entender um pouco do seu conteúdo contando-nos sobre as iniciativas de seu desafeto de publicações, o primo Lucas.
Como vimos, o rapaz estivera em Ouro Preto para estudar, mas além de gastar o dinheiro que os pais disponibilizaram, não concluiu nenhum curso. De volta à Diamantina, dedicou-se ao sítio (que ela chama de “retiro”) na Lomba. O intento dos pais era possibilitar que o rapaz produzisse queijos e manteiga para vender.
Aconteceu que os queijos feitos por ele “pareciam borracha”! E quando envelheciam ficavam tão duros como pedra. Disso resultou que ninguém mais “comprava queijo da Lomba”.
(...)
A mãe de Lucas “vendeu suas últimas apólices” e investiu numa pequena venda na esperança de que o moço vingasse como “vendeiro”.
O modesto estabelecimento localizava-se nas proximidades de outros mais antigos, como o de seu Assis. Evidentemente isso significava que ele aparecia como um “novo concorrente”.
Os comerciantes mais experientes começaram a dar alguns níqueis à garotada para provocá-lo... Os meninos chegavam ao balcão de sua venda e perguntavam aos berros se ele vendia “ferradura para mosquito”, “queijo de borracha” ou “feijão bichado”.
O rapaz perdia a paciência... Em vez de ignorá-los até que se cansassem, perseguia-os numa correria tremenda, e com uma vassoura na mão!
Viu-se logo que não suportava provocações e por isso teve de encerrar o negócio.
(...)
Helena não deixou de manifestar a sua opinião a respeito...
Lamentou que o primo levasse os cobres da mãe sem que produzisse qualquer bom resultado.
Em sua opinião, ele tinha um pouco de “doido”.
Então ela se pôs a perguntar se “as cidades da vizinhança tinham tantos doidos como Diamantina”.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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