A respeito do General Grant é bom que se saiba que os entendedores da navegação só tinham elogios a fazer àquela gigantesca máquina. Suas grandes rodas movimentadas pelo potente motor a vapor conduzia satisfatoriamente as duas mil e quinhentas toneladas pelas águas do Pacífico. A composição contava ainda com três mastros que sustentavam grande vela. Disso tudo resultava que a embarcação avançava à velocidade de doze milhas por hora.
Não havia dúvida de que a viagem voltara a um eixo satisfatória... Phileas Fogg calculava que a travessia do pacífico duraria uns 21 dias e acreditava mesmo que chegariam a São Francisco no dia 2 de dezembro... Mais uns nove dias e desembarcariam em Nova York... Outros nove dias de travessia do Atlântico e chegariam a Londres. Se tudo corresse como imaginava venceria a aposta com algumas horas de sobra, já que a data a ser batida era o 21 de dezembro.
(...)
Verne destaca que entre os passageiros contavam-se muitos americanos,
mas também havia ingleses e entre eles vários militares que curtiam o período
de licença para viajar pelo mundo.
A
travessia foi das mais tranquilas e nenhum acidente foi registrado. A
embarcação balançava bem pouco e isso tornava a viagem muito cômoda para todos...
Algo muito apropriado a Fogg, que não era mesmo dado a agitações e a falações.
Aouda respeitava o
silêncio de seu protetor e pouco o incomodava. Ela sabia que todo aquele tempo
juntos os aproximava significativamente. Por isso a jovem entendia que seu
vínculo com o inglês se tornava cada vez mais sólido.
Phileas
Fogg não notava, mas a sua protegida passou a nutrir por ele muito mais do que
o reconhecimento por sua nobreza. Ela se sentia atraída pelos projetos de Fogg
e sinceramente fazia votos para que tudo desse certo em sua empreitada na
“volta ao mundo”. A moça angustiava-se ao avaliar que certos imprevistos
pudessem comprometer o sucesso de seus planos.
Ela conversava sobre
suas inquietações com Passepartout, que não deixava de pensar sobre os seus
sentimentos. Para ele estava claro que Aouda sentia-se atraída emocionalmente por
seu patrão.
O francês também
nutria por Fogg reconhecimento e fidelidade jamais experimentados. Depois de
tudo o que havia passado, não se cansava de tecer elogios ao seu senhor... Para
Passepartout, o seu patrão tornara-se modelo definitivo para tudo o que há de
exemplar num bom homem (honestidade, generosidade, senso de justiça e dedicação).
Sobre as inquietações
da jovem a respeito do prosseguimento da viagem, o criado dizia que a parte
mais complicada havia ficado para trás... Não mais teriam pela frente terras e
mares de atmosferas “fantásticas” e de temeridades (como as da China e do
Japão)... À frente os aguardavam “regiões civilizadas” (São Francisco, Nova
York, Londres...), e para atingi-las certamente contariam com um bem construído
trem e um potente transatlântico. Assim não havia com o que se preocupar em
relação ao cumprimento do prazo acertado pelos apostadores.
(...)
No dia 23 de
novembro, o General Grant passou pelo meridiano 180º...
Isso significava que Phileas Fogg estava atingindo a metade da viagem.
Estava do “lado oposto” em relação à Inglaterra. Se pensarmos em termos do
tempo gasto até ali somos tentados a imaginar que ele perderia a aposta, pois
já tinham se passado cinquenta e dois dias desde que deixara o Reform Club. Ou
seja, a metade restante teria de ser finalizada em vinte e oito dias.
Quando pensamos no percurso realizado, levando-se em conta os vários e inevitáveis
desvios, podemos dizer que mais de dois terços haviam sido superados. Se fosse
possível realizar a volta ao mundo sem se desviar do paralelo 50º (que é o de
Londres), teriam de vencer apenas vinte mil quilômetros... Todas as manobras e
caprichos relacionados às dificuldades com os meios de transporte exigiam o
esforço de quarenta mil quilômetros!
Tinham vencido vinte e oito mil quilômetros até
então... O dado animador relacionava-se ao desenho da rota que se avizinhava...
Um “caminho reto” e teoricamente mais fácil de ser coberto.
(...)
No
mesmo dia 23, Passepartout sentiu que fizera muito bem em não acertar o seu
relógio de família conforme o orientaram algumas vezes. Manteve o horário de
Londres. Ao observar os cronômetros do navio, percebeu que os ponteiros combinavam
com os de sua relíquia, tão valiosa e tão certa.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_11.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto