Passepartout gostou mesmo de ver a precisão de sua “máquina de ver as horas”... Por um instante lembrou-se de como Fix o alertara sobre bobagens relacionadas aos meridianos, ao sol e à lua...
Evidentemente o rapaz não tinha capacidade para entender que seu relógio apresentava uma diferença de doze horas em relação à Londres. Fix não lhe explicara a partir do ponto de vista física. Mesmo que o fizesse, o outro não compreenderia e tampouco admitiria.
(...)
Neste ponto da história é bom que saibamos que o policial também viajava
no general Grant.
Aconteceu
que logo que chegou a Yokohama decidiu visitar o escritório do consulado
britânico. E não é que encontrou o mandado tão aguardado? Já fazia quarenta
dias que o documento havia sido elaborado. Por incrível que pareça o papel foi
transportado pelo Carnatic, depois de ter sido expedido por Hong Kong. As
autoridades esperavam que o policial e o seu suspeito viajassem no mesmo
navio... Mas, como sabemos, o próprio Fix dera um jeito de impedir que Fogg
viajasse naquele navio.
(...)
A rigor o mandado
perdera a serventia, pois haviam deixado as possessões inglesas. O policial
adotou uma postura coerente e equilibrada. Entendeu que, como rumavam para a
América, devia obter “um ato de extradição”... Ainda assim não podia descartar
o mandado porque era mesmo possível que o “ladrão” pretendesse retornar a
Londres imaginando ter despistado a polícia.
(...)
Fix
pensava a respeito do que lhe sobraria de recompensa no final das contas...
Fogg já havia feito muitos gastos. Mas sabia que não ficaria “a ver navios”
porque o banco era muito rico e saberia reconhecer o seu trabalho.
A certa distância
reconheceu Fogg e Aouda... Surpreendeu-se de fato ao avistar Passepartout.
Imediatamente escondeu-se em sua cabine. Calculou que o melhor que tinha a fazer
era não deixar que o vissem. Isso não seria tão complicado porque havia muitos
passageiros a bordo e poderia se ocultar entre eles.
Mas aconteceu que
acabou ficando cara a cara com o francês quando os dois passavam pela proa.
Passepartout não conseguiu segurar o seu nervosismo e partiu para a briga.
Apertou-lhe a garganta e socou-o várias vezes. Alguns americanos que
presenciaram a cena fizeram apostas. Se deram bem os que acreditaram no boxe
francês.
Passepartout só parou
com os golpes depois de se sentir mais calmo... O inspetor levantou-se em
péssimas condições, mas foi com certa dignidade que perguntou se a luta havia
chegado ao fim. O francês respondeu que por enquanto bastava e se surpreendeu
ao ouvir Fix dizer que tinham de conversar
a respeito de Fogg.
(...)
A um canto na proa,
Fix foi dizendo que a surra havia sido pesada, mas estava tudo bem. Depois falou
que não mais perseguia Fogg. Passepartout entendeu que enfim o policial
reconhecia que seu patrão era mesmo um bom caráter. Fix antecipou-se a explicar
que não era bem assim, pois o considerava um velhaco e tudo se resumia ao fato
de não ter recebido o mandado enquanto estiveram em possessões inglesas.
O homem confessou que fizera de tudo para impedir o prosseguimento da
viagem... A queixa dos sacerdotes de Bombaim havia sido iniciativa sua... E
também o entorpecimento de Passepartout em Hong Kong para que perdessem o
Carnatic...
A tudo Passepartout ouvia contendo-se para não aplicar nova sova no
outro. Por fim Fix emendou que pelo visto a intenção do patrão era seguir até a
Inglaterra. Então, de sua parte, não o prejudicaria mais... Esperava mesmo que
chegasse ao seu destino porque era até lá que desejava segui-lo.
Fix queria que Passepartout entendesse que
também ele se interessava no fim daquela jornada. Disse-lhe ainda que esperava
que ele mesmo pudesse conferir para que tipo de homem trabalhava, honesto ou
criminoso.
Passepartout não
achou que o policial ainda estivesse mal intencionado... Este perguntou se
podiam se relacionar como amigos. A resposta foi negativa, mas o francês
acrescentou que podiam ser aliados (já que esperavam que Fogg chegasse à
Inglaterra o quanto antes). Ele não deixou de acrescentar que ao menor sinal de
traição de Fix voltaria a soca-lo e a torcer-lhe o pescoço.
Ficaram nesses termos.
(...)
No dia 3 de dezembro o General Grant chegou à baía de Golden Gate, São Francisco.
Em
sua planilha, Fopgg verificou que não estava em vantagem. Mas notou que o tempo
que haviam perdido fora recuperado. Então, até ali, estava em dia com o projeto
inicial.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_16.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto